Quinta 18 de Abril de 2024

Nacional

Congressos estaduais da CUT indicam divisão

Congresso da CUT prepara braço sindical do governo

11 May 2003   |   comentários

A CUT ’ Central Única dos Trabalhadores ’ já está em plena atividade preparatória para o VIII Congresso Nacional em junho. Na última semana de abril e primeira de maio se realizaram 13 Congressos Estaduais, incluindo as principais regiões cutistas de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. As composições de chapas para disputa do aparato da central nos Congressos não escondem uma divisão da CUT em três posições a respeito do governo Lula-Alen-car: os governistas (Articulação Sindical, Democracia Socialista e PCdoB); os que pretendem “corrigir os rumos do governo” mas apoiando o governo (Alternativa Sindical Socialista, O Trabalho, Articulação de Esquerda, Força Socialista); e os que se afirmam como oposição ao governo, que como se pode ver com o resultado do Congresso de São Paulo, resumem-se ao PSTU.

A Articulação Sindical não esconde seu papel de sustentador do governo Lula-Alencar, inclusive fazendo parte ativa do governo com ministros e secretários. O ex-presidente da CUT João Felício declara que “hoje, ser de esquerda é lutar para que esse Governo dê certo” , “ser de esquerda é apoiar as reformas e jamais abdicar de direitos básicos” . O que ele quer dizer é exatamente isso, que os dirigentes majoritários da CUT vão defender as reformas da previdência, trabalhista e outras que atacam frontalmente os direitos dos trabalhadores para manter as metas com o FMI e abrir mercados para os bancos e monopólios nacionais e estrangeiros. A direção majoritária da CUT mente descaradamente ao falar em “jamais abdicar de direitos básicos” , pois a própria história dos dois mandatos de Fernando Henrique demonstram que a CUT, em toda a década de 90, imple-mentou as câmaras setoriais e pactos com os patrões e o governo que levaram ao aumento do desemprego, da infor-malidade e da perda de direitos, enquanto os capitalistas elevaram seus lucros e seus espaços no mercado.

A Articulação Sindical, com Vicen-tinho principalmente, dirigiu a CUT para “modernizar” as relações entre as classes, ou seja, defender os interesses dos empresários enquanto os trabalhadores perderam a aposentadoria por tempo de serviço e proporcional, perderam, de fato, a jornada de trabalho determinada com a introdução do banco de horas, enfim, caríssimos “direitos básicos” dos trabalhadores. Se com Fernando Henrique, quando se colocavam como “oposição” foi possível um ataque brutal aos trabalhadores com a conivência da direção majoritária da CUT os trabalhadores só podem esperar mais perdas de direitos e ataques agora que essa direção cutista é defensora e criadora do programa de governo de Lula-Alencar, pois a direção majoritária da CUT, em defesa de sua estratégia de conciliação de classes, de pactos e negociações com o governo verá melhores condições para aliar-se abertamente ao governo e aos setores patronais.

PCdoB é governo, mas tenta ser ”˜independente”™

O PCdoB detém o Ministério dos Transportes e outros cargos no governo Lula-Alencar, mas tenta “parecer independente” . Porém, em todas as questões centrais está e estará junto com o governo, mantendo sua velha tradição pró-capitalista e de aliança com setores burgueses “progressistas” . Se o velho PCdoB sempre viveu sob as asas do PMDB e dos “progressistas” Quércia e cia. ninguém poderá estranhar que agora sejam ainda mais governistas e conciliadores justo quando, pelas mãos do PT, se construiu o grande sonho stalinista de um governo de colaboração de classes entre os trabalhadores e a burguesia “desenvolvimen-tista” ou “nacionalista” . Certamente, para manter seus preciosos votos e um discurso de “esquerda” , veremos o PCdoB criticando algumas proposições do governo e até apresentando algumas reivindicações, mas isso não passará de cortina de fumaça para esconder sua política central de conciliação com a burguesia e reformismo stalinista. É importante não esquecer o papel deste partido em anos de aliança com os pelegos nas décadas de 70 e 80, com Tancredo Neves, com Collor de Mello, na década de 90, e com a família Sarney no Maranhão e o corrupto governador Mão Santa no Piauí.

Se não relembrarmos a tradição desse partido poderemos nos enganar com a disputa em que se viu metido com a Articulação Sindical no Congresso Estadual da CUT-Bahia. Como se lê no site do PCdoB, a “Articulação Sindical, não conseguindo maioria entre os delegados presentes, se retirou do Congresso num gesto desesperado para inviabilizar a eleição da nova diretoria que nitidamente daria vitória à aliança encabeçada pela Corrente Sindical Classista” (...) “O coordenador nacional da CSC, João Batista Lemos, considerou inadmissível que a Articulação Sindical não reconheça a repre-sentatividade da CSC na Bahia, a maioria no 10º Cecut nem a direção da CUT-BA por essa corrente. Ressaltou que ”˜os métodos utilizados pela Articulação Sindical neste Congresso são estranhos à convivência democrática, classista e utilizados pelo sindicalismo pelego”™” . O dirigente do PCdoB tem a cara-de-pau de falar em “classismo” , escondendo sua trajetória de conciliação com a burguesia, e até pretende “criticar” a Articulação Sindical por atuar com “métodos utilizados pelo sindicalismo pelego” , o que nos deve fazer acreditar que está se referindo aos “métodos stalinistas” utilizados pelo PCdoB em aliança com os pelegos contra os trabalhadores combativos em milhares de sindicatos pelo país afora. É o roto criticando o mal trapilho!

Enfim, as disputas entre o PCdoB e a Articulação Sindical não podem esconder o governismo deste partido e não passam de brigas para manter ou ganhar aparatos e cargos para melhor “vender” seus “métodos” para ajudar o governo e a aliança com a burguesia. A prova disso é que no Congresso Estadual de São Paulo, onde o PCdoB é minoritário, não houve “disputa” mas aliança aberta com a Articulação Sindical contra os seus aliados da “esquerda da CUT” . A Chapa 1 composta pela Articulação Sindical, CSC (PCdoB) e Unidade Sindical (PPS) obteve 517 votos (69,39%), elegendo o presidente da CUT-São Paulo, Edilson de Paula Oliveira, do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo, e mais 6 cargos. A Chapa 2, composta pela ASS (Alternativa Sindical Socialista, ligada ao PT) e O Trabalho (corrente lambertista do PT) ficou com 115 votos e a Chapa 3 do MTS (Movimento por uma Tendência Socialista), que reúne o PSTU, PCB e outros sindicalistas, obteve 113 votos, ficando, as duas chapas, com 2 cargos cada uma.

No Diário de S. Paulo, de 28/04, pode-se ler o dirigente deste partido e vice-presidente da CUT, Wagner Gomes, falando em disputa para justificar que “o bloco Articulação/CSC ”˜tem mais condições de defender os interesses dos trabalhadores, não deixar a CUT se tornar chapa branca e nem fazer uma oposição descabida neste momento”™” . Como se vê, o PCdoB tenta aparecer como “independente” do governo sem ser oposição, enganando a todos com a estória da “defesa dos trabalhadores” , tudo isso para defender, realmente, os “interesses do PCdoB” e a mesma estratégia de conciliação de classes da Articulação (a mesma que, na Bahia, “utiliza métodos pelegos” ) e do PT. Com correntes burocráticas e pró-burguesas como a Articulação e o PCdoB ’ governistas e chapas branca ’ os trabalhadores somente estão perdendo seus direitos e tendo suas vidas cada vez mais atacadas pela carestia e a perda salarial, em nome de manter uma aliança com setores “progressistas” da patronal.

A ”˜esquerda da CUT”™ pretende ”˜corrigir”™ o governo

A segunda “corrente” nos Congressos Estaduais da CUT aparece com a estratégia de “corrigir” o governo e suas políticas, defendendo o governo sem querer aparecer como governista, numa disputa entre a “esquerda e a direita” pelas orientações do governo Lula-Alencar. No Diário de S. Paulo (28/04), o dirigente da ASS Jorge Luís Martins, da executiva da CUT, afirma que a “rejeita o atrelamento ao Estado, mas também critica quem já condena Lula” , ou seja, tenta aparecer como “não governista” mas sem “ser oposição” . Difícil é compreender como isso será possível, visto que ou se está “com” o governo ou “contra” o governo, como bem disse Lula e os dirigentes do PT aos parlamentares petistas da “esquerda” que pretendem “ser” governo, mas querem o “direito” de ser “contra” as “políticas” do governo, ou ao menos “corrigi-las” . Nesta corrente também se alinham O Trabalho e Força Socialista, que vivem o eterno dilema das correntes internas que são parte ativa e efetiva da direção e do aparato do PT, mas procuram aparecer como “independentes” do partido e do governo.

Essa “esquerda da CUT” pode até tentar, mas será impossível esconder que o governo é formado por Lula, um metalúrgico e ex-dirigente sindical, em aliança com o “grande patrão” Alencar, que está no governo justamente porque a burguesia, para manter seu regime de domínio e o equilíbrio político ao não poder contar com um burguês nato para o governo, deveu recorrer ao cooptado e transformado PT para prevenir-se contra os avanços das lutas dos trabalhadores contra a miséria, desemprego e carestia. Não há milagre que possa esconder que o governo Lula-Alencar tem um programa e uma estratégia de “compromisso entre as classes” para conter, com o prestígio de Lula (que necessitará muitíssimo dos dirigentes sindicais), as ameaças de crises no regime político que ocorreram em países como Argentina, Bolívia, Paraguai contra os ataques dos planos “neoliberais” .

A estratégia da “esquerda da CUT” não passa de uma enorme utopia reacionária, ao tentar “corrigir” o governo quando este tem uma trajetória definida num novo equilíbrio burguês nacional e em novas relações privilegiadas com o imperialismo em defesa de um plano capitalista de hegemonia do setor burguês “neodesenvolvimentista” . A própria realidade da carestia de vida, das políticas monetaristas e fiscais do governo, os ataques aos reajustes salariais e o descarado 1% ao funcionalismo público, além das reformas como a da Previdência e as ameaças contra os parlamentares da “esquerda do PT” demonstram que a estratégia da “esquerda da CUT” de “travar uma luta dentro da CUT e do PT para que se mudem as políticas económicas” , como afirma no mesmo jornal o dirigente da ASS Emanuel Melato, metalúrgico de Campinas, é um “canto de sereia” para enganar os trabalhadores e mantê-los atrelados à estratégia de pressão contra o governo para buscar algumas migalhas caídas das mesas de negociação, mesmo que tenham que recorrer a greves ou manifestações.

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