Sexta 19 de Abril de 2024

Questão negra

QUESTÃO NEGRA

Conferência da LER-QI sobre a questão negra

10 Feb 2013 | No dia 16 de dezembro a LER-QI realizou a primeira sessão de abertura da Conferência que está realizando sobre a questão negra, que terá continuidade no início de 2013. A seguir, reproduzimos alguns dos debates mais importantes que foram abordados nessa primeira sessão.   |   comentários

A elite brasileira e a Teoria da Revolução Permanente de León Trotsky

Vivemos no maior país em população negra fora da África. Todos esses séculos forjaram sobre a população negra as piores condições de vida. Distante da passividade vendida pela historiografia oficial, essa população, enquanto escravizada, rebelou-se incansavelmente, seja de maneira organizada como nos quilombos e nas revoltas, seja de maneira individual, através do envenenamento de seus senhores de escravos e capitães do mato, das fugas e, por vezes, dos suicídios, que longe de demonstrar passividade, escancaravam a recusa em entregar a vida para as ordens exaustivas dos senhores de escravos.

Essa elite escravista nativa, em suas diferentes regiões na nação, estava oprimida pela espoliação imperialista. Mas, para se ver minimamente “livre” de tal opressão, teve sempre o limite das lutas negras, que colocavam seu poder como elite em risco. As elites nativas brasileiras não podiam armar as massas negras para encabeçar qualquer luta de independência nacional minimamente consequente porque os quilombos, motins e revoltas de escravos eram uma ameaça latente permanente a seu poder como classe dominante. Essa é a determinação histórico-social que explica num sentido mais profundo porque as elites nativas brasileiras tiveram que escolher o caminho do desenvolvimento subordinado à opressão estrangeira, o que constitui-se como uma importante base para compreender como a Teoria da Revolução Permanente, elaborada por León Trotsky, se aplica sobre a formação do Brasil.
Retomar a necessidade da independência de classe quando tratamos a questão negra e as demandas democráticas a ela ligadas, como a reforma agrária, urbana, a violência policial etc se faz fundamental em todos os países do mundo. É impossível que por táticas de pressão aos governos, representantes da burguesia, se alcance qualquer conquista verdadeiramente democrática para os negros, visto que ceder algumas dessas demandas sempre significou e seguirá significando colocar em cheque a super-exploração na qual se baseia historicamente o capitalismo brasileiro, baseado na crescente precarização do trabalho, na reprodução das favelas, na concentração de terras, na espoliação da dívida pública e na sistemática e estrutural violência policial contra pobres e negros.

A falta de confiança na força da ação independente da classe operária, são os fatores que fazem com que amplos setores da esquerda restrinjam a questão negra ao patamar da miséria do possível de se conquistar nos marcos dessa democracia burguesa degradada. Contra isso, dizemos que é apenas unificando as fileiras da classe trabalhadora, unindo os setores mais organizados da classe e seus sindicatos com as massas de trabalhadores mais precários e assumindo as demandas dos setores mais oprimidos da sociedade como parte das tarefas da ação independente das organizações de massas da classe trabalhadora – ou seja, com os trabalhadores brancos e negros abraçando todas as demandas democráticas e lutando com seus métodos de enfrentamento de classe – que é possível conquistar de maneira efetiva as demandas democráticas e as necessidades mínimas mais sentidas pelo povo pobre, como parte do avanço dos trabalhadores no enfrentamento contra a burguesia, em direção à revolução socialista.

Daremos continuidade a essa conferência nos próximos meses, tratando de avançar em elementos programáticos como o sistema prisional, a violência policial, e mais centralmente, tentando compreender os primórdios do retrocesso estratégico do trotskismo a nível mundial com sua negação da teoria da revolução permanente a partir do programa que defendiam nas guerras de libertação da África, elogiando de “revoluções democráticas” o que Trotsky chamaria de “revoluções proletárias abortadas”. A partir do resgate teórico, estratégico e programático, da aplicação da Teoria da Revolução Permanente e do reconhecimento da questão negra como orgânica a classe operária, seguiremos a segunda parte de nossa conferência para conformar uma perspectiva revolucionária à questão negra.

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