Sexta 19 de Abril de 2024

Cultura

HISTORIA

Comuna de Paris 140 anos

21 Mar 2011   |   comentários

Albamonte caracteriza a época da
Comuna de Paris – e o próprio tempo
histórico de Marx e Engels – como a
época onde “as premissas materiais,
objetivas, para a revolução proletária
ainda são imaturas” e que tratava-se
de um momento histórico de “transição,
caracterizado pelo ´não mais’ da revolução
burguesa e o ‘ainda não´ da revolução
proletária”.

Analisando a época dos acontecimentos
históricos da Comuna, E. Albamonte,
situa com precisa concisão o
seu momento histórico, no qual “anarquistas
e marxistas disputam a direção
do movimento operário nos seus primórdios,
sendo que os primeiros refletem os
setores mais artesanais do proletariado,
sob influência liberal e os marxistas representam
suas alas mais avançadas.

Sob a direção dos anarquistas proudhonianos
e os blanquistas, em 1871, os
operários de Paris se levantam. A França
encontrava-se em guerra com a Prússia,
estando Paris sob o assédio do exército
inimigo. Depois de quatro meses, o governo
francês busca um armistício que
é desafiado pela Guarda Nacional dos
trabalhadores e povo de Paris. O governo
então ordena a evacuação imediata
da cidade. As forças leais e os funcionários
fogem para Versalhes, a vinte
quilômetros de Paris, onde tradicionalmente
residiam os reis e, neste momento,
o imperador Luis Bonaparte, sobrinho
de Napoleão.

Em Versalhes se organiza a reação
que negocia com os alemães; mas os
operários de Paris negam-se a participar
dessas negociações e, quando o
exército tenta apoderar-se dos canhões
que o povo tinha comprado para a defesa
da cidade, protagonizam uma insurreição
e organizam o que se chamou
a Comuna de Paris.

Organizam-se por bairros, permitem
que todos votem (exceto os que tinham
fugido e que eram agentes da burguesia);
organizam milícias populares e se
dispõem à defesa de Paris. Marx diz que
ali o proletariado tinha encontrado a
forma de exercer sua ditadura de classe [1]

O momento em que são comemorados
os 140 anos da Comuna de Paris
é, portanto, especial para se retomar
o debate sobre elementos e lições da
Comuna de Paris. Neste caso, lições necessariamente
atualizadas e mediadas
pela experiência da Revolução Russa,
dos bolcheviques, dos sovietes e da tradição
revolucionária do século XX.

É de conhecimento mais ou menos
geral que a insurreição operária de
1871 (Comuna de Paris) não apenas
foi a primeira tentativa de intervenção
independente da classe trabalhadora
como também marcava ou dava indicações
do potencial programático e
de emancipação desta classe revolucionária.
Além disso, marcava sua resolução
e audácia de ir até o fim uma vez
desencadeada sua luta.

Entre os decretos imediatamente
aprovados pela Comuna se encontram
abolição do trabalho noturno, controle
operário de toda empresa abandonada
pelo capitalista, substituição do
exército convencional pelo povo em
armas (Guarda Nacional), separação
da Igreja do Estado, proclamação de
igualdade para as mulheres e que os
delegados (deputados) da Comuna
recebessem salário igual ao de um trabalhador
além de terem seu mandato
revogável a qualquer momento.

Cento e quarenta anos depois estas
e outras questões do programa da
classe trabalhadora são atualíssimas e
continuam dependendo da hegemonia
proletária sobre a sociedade para
serem implantadas, atualizadas e aprofundadas.

As obras de Marx e Engels sobre a
Comuna de Paris são marcos histórico-
 teóricos da análise daquela insurreição
operária.

Lenine, como se sabe, irá examinar
profundamente e atualizar para a era
da revolução proletária, estes textos de
Marx e Engels – debruçando-se também
sobre a Comuna – para elaborar
seu memorável O Estado e a revolução
onde discute as formas que toma o Estado
em seu processo de extinção, de
tomada do poder pelo proletariado
para iniciar sua abolição.

Trotski, que polemizou com o reformista
Kautski em defesa de uma concepção
marxista da Comuna, no seu balanço
de 90 anos do Manifesto Comunista
também irá continuar a reflexão, argumentando
que a Comuna de Paris demonstrou
que para arrebatar o poder à
burguesia o proletariado necessita estar
à cabeça do partido revolucionário
temperado, preparado para a tomada
do poder.

Cento e quarenta anos depois da
Comuna e 94 anos após a Revolução
Russa, em um século marcado pela experiência
da degeneração burocrática
das revoluções e a restauração conservadora
dos últimos trinta anos, o proletariado
mundial se depara com seu mais
grave desafio estratégico: retomar o fio
do combate heróico dos communards
e dos bolcheviques e levantar partidos
revolucionários de classe que, aliados
às massas pobres, se conformem como
a resposta para a nova primavera dos
povos que pode estar em seus passos
iniciais nesta etapa.

As mobilizações das massas árabes,
francesas, gregas, portuguesas e de outros
países, clamam pela unidade das fileiras
operárias, encabeçando todos os
explorados em torno do partido revolucionário
para por fim, à força, à agonia
de um sistema que jamais cairá por si só.

E cuja sociedade de transição deve
se apoiar na ditadura democrática dos
trabalhadores, a exemplo dos communards
e, sobretudo do proletariado
bolchevique de 1917. Só assim superaremos
as derrotas do século passado e
a amarga tentativa de tentar edificar
sociedades de transição sem o proletariado
no poder.

[1Este excerto faz parte da primeira
conferencia sobre Lenine e a história
do partido bolchevique, publicada no
jornal La Verdad Obrera, Buenos Aires,
18/5/2006..

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