Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Começa a surgir um importante movimento democrático na USP

01 Dec 2010   |   comentários

Com mais de 400 estudantes, professores e funcionários, o dia 30 de novembro marcou um passo urgente e necessário para a defesa da universidade. Com o apoio de Marilena Chauí, Antônio Cândido e Ricardo Antunes, organizou-se um ato com a presença de importantes professores como o Juiz do Trabalho Jorge Luiz Souto Maior, Otaviano Helene, João Adolfo Hansen Luiz Renato Martins, Paulo Renato Arantes, Vladimir Safatle, Álvaro Bianchi, Antônio Carlos Mazzeo, Marcus Orione, João Zanetic, além de entidades sindicais e estudantis, e todos os estudantes e funcionários perseguidos. Este movimento veio se organizando desde a demissão de Claudionor Brandão em 2008, e hoje toma novo fôlego com a unidade constituída pelos 16 estudantes do CRUSP (Complexo Residencial da USP) e os 4 estudantes da Ocupação de 2007 ameaçados de “eliminação”. A conformação do Comitê Permanente de Mobilização contra a repressão na universidade, integrado pelos estudantes e trabalhadores perseguidos, é a grande alavanca dessa ampla campanha democrática que se iniciou. Essa unidade representa a continuidade da luta de 2007 contra os decretos de José Serra e por mais moradia estudantil, com as mobilizações de 2010. É esta unidade, dos trabalhadores, estudantes que moram no CRUSP e demais estudantes da USP, junto aos professores, a que pode derrotar os projetos repressivos e privatistas da Reitoria.

A denúncia contra a repressão foi intensa por parte deste conjunto de professores que decidiram se somar à defesa dos perseguidos, e é necessário afirmar veementemente que a repressão não é uma “repressão em si mesma”, mas é um meio a serviço de um fim. Este fim é a reforma universitária que já está sendo implantada hoje. O “fantasma” dos cursos pagos já começam a assolar a universidade, tendo na FEA sua primeira experiência: um curso no valor de R$ 2.200,00 organizada pela FIA, Fundação Privada dentro da Universidade. Acompanhando a onda de cortes no funcionalismo público, inclusive internacionalmente, a Reitoria acaba de anunciar a diminuição de 85% para 77% na verba para Folha de Pagamento, num claro anúncio de demissões, arrocho salarial e mais terceirização. Não podemos deixar de denunciar um retrato cruel deste projeto de universidade, onde a Reitoria além de ser omissa com a saúde de um estudante – não à toa morador do CRUSP - permite que seu corpo permaneça por 6 horas no chão da universidade, quando sabemos que para reprimir e perseguir os estudantes e trabalhadores a Reitoria age rapidamente.

Manter, portanto, os que resistem como “minorias” na universidade, perseguindo-os de todas as formas é uma necessidade vital para a Reitoria hoje. Por isso não tem a menor vergonha de utilizar-se do Decreto 52906, escrito em 1972, em plena ditadura militar. Através dele pode-se proibir manifestações políticas na universidade, o que no mínimo joga por água abaixo qualquer tipo de liberdade democrática dentro da USP, demonstrando que o discurso de Rodas e da burocracia acadêmica não passa de uma falácia. Por isso, unir todas as forças democráticas dentro e fora da USP para lutar contra a criminalização da política – exigindo a revogação deste Decreto -, pela retirada de todos os processos contra estudantes e funcionários, e pela reintegração de Brandão, passa a ser a tarefa número 1 do movimento, condição necessária para resistir à privatização e lutar por uma universidade pública, gratuita e de qualidade.

Segue aluguns depoimentos durante o ato.

“O que está em jogo é nossa capacidade de nos indignar com as injustiças que estão sendo vítimas os funcionários e os estudantes. Estão sendo punidos por terem lutado, contra a terceirização, a precarização, a quebra da isonomia, pelos direitos estudantis”
Jorge Luiz Souto Maior

“Vim neste ato declarar meu total apoio aos estudantes e funcionários que estão sendo penalizados pela Reitoria por uma razão obviamente ridícula – me vejo na necessidade de ter que lutar por um direito liberal de ter opinião política na universidade”
João Adolfo Hansen

“As pessoas estão sendo punidas por que elas tiveram coragem de enfrentar o poder estabelecido na universidade e até mesmo o governador e seus decretos. Estão sendo punidos porque venceram, porque ganharam a luta. (...) A luta continua, e mais uma vez como foi feito em 2007 temos que derrotar a Reitoria”
Otaviano Helene

“Na Ocupação da Reitoria de 2007 foi constituída uma Comissão que negociou os termos da desocupação uma das clausulas era de que não haveria nenhum tipo de retaliação e punição por motivos políticos. Isto foi totalmente ignorado.”
Paulo Arantes

“O AI5 daiu diretamente do regimento da USP para ser aplicado ao país inteiro. É expressão direta da organização interna da USP. E é por isso que a USP permanece como último entulho autoritário da Ditadura. Precisamos completar a tarefa da democratização e derrubar a estrutura autoritária desta universidade. (..) Hoje a direita precisa destruir o Sintusp porque é um paradigma de Sindicato combativo no país que não luta apenas pelos seus direitos mas pela educação publica e gratuita, contra o racismo e essa sociedade desigual.”
Luiz Renato Martins

“No regime disciplinar diz que pretende assegurar, manter e preservar a boa ordem – a ordem do capital, claro. O respeito – o respeito àquilo que ofende o contraditório no interior da universidade. Os bons costumes, o respeito à ordem e às regrinhas do jogo. Preceitos morais.. atacar as gordas como fizeram na Unesp, os negros, os analfabetos, os iletrados, os pobres.. de forma a garantir a harmônica convivência entre docentes e discentes. Cadê os funcionários?”
João Zanetic

“A ocupação de 2007 foi um dos atos políticos mais bem sucedidos desta universidade nos últimos 10 anos.”
Vladimir Safatle

“Neste momento o que está em perigo nas universidades estaduais paulistas é o direito de pensar, o direito de decidir, o direito à dissidência.”
Álvaro Bianchi

“Com a criminalização dos movimentos estão transformando a universidade numa entidade ligada aos interesses privados.”
Antonio Carlos Mazzeo

“Em um ano o professor que ocupa a Reitoria atualmente deve ter produzido mais atitudes nefastas do que foi produzido por vários Reitores em anos acumulados. Estamos diante de uma situação extremamente perigosa.”
Marcus Orione

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