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Quinta 25 de Abril de 2024

Debates

CICLO DE DEBATES

Com auditório lotado, realizou-se no IFCH Unicamp a segunda sessão do ciclo Por Que Trotsky?

18 Oct 2012   |   comentários

Com o auditório do IFCH da Unicamp lotado com cerca de 130 pessoas de diversos cursos da Unicamp, da cidade de Campinas e de outras cidades, com forte composição de trabalhadores, realizou-se na última quinta-feira (18/10) a segunda sessão do ciclo “Por Que Trotsky?”, impulsionado pela LER-QI nas universidades estaduais paulistas. Nesta segunda sessão, discutiu-se o tema da revolução alemã de 1923, buscando partir da análise da época imperialista e as consequências estratégicas advindas especialmente a partir da vitória da Revolução Russa de 1917 e a criação da Terceira Internacional.

Estavam compondo a mesa nesta sessão o trabalhador da USP e diretor do SINTUSP Pablito Santos e o mestrando em Sociologia da Unicamp Iuri Tonelo, seguindo o anseio do seminário de combinar operários e jovens intelectuais para as discussões teóricas e estratégicas da necessidade de retomar o legado de Leon Trotsky.

O debate começou com a exposição de Pablito, que adentrou na caracterização da mudança de época na virada do século XIX ao XX, a chamada época imperialista, em que os monopólios se sobressaíram a partir da predominância do capital financeiro na economia internacional, num mundo “partilhado” pelas principais potências e direcionado ao cada vez mais intenso embate interestatal. E, nesse sentido, o “fator subjetivo”, a constituição de um partido e uma direção revolucionária ganham um papel fundamental. Como colocou Pablito:

Ao contrário das visões que defendiam a possibilidade de conquistar o socialismo evolutivamente e pacificamente, como defendia Bernstein, os marxistas da III internacional, criada por Lenin e Trotsky atualizaram o marxismo, buscando responder a estes novos acontecimentos que, colocavam a reflexão sobre a tomada do poder como um eixo central de sua elaboração teórica e ligando sua prática política e o destino de suas vidas ao ritmo convulsivo e frenético de sua época”.

A partir desse tema, Iuri partiu da imposição que se colocava de um marxismo com predominância da estratégia e buscou adentrar o contexto colocado no pós Revolução Russa de 1917 e a necessidade de fortalecer partidos revolucionários no plano internacional. Em vista disso, analisou-se as revoluções de 1921 (“ação de março”) e de 1923 na Alemanha, buscando demonstrar como a estratégia de Trotsky combatia tantos os desvios esquerdistas como a vacilação frente a uma situação revolucionária e o necessário giro do partido para concentrar suas forças para a insurreição. No caso concreto de 1923, analisou-se ainda a tática de “governo operário”, contextualizando com os debates da III Internacional e como está tática estava ligada a construção de bastiões comunistas (fortalezas) que estavam diretamente ligadas à passagem para a ofensiva política (a insurreição), no conhecido “outubro alemão”. Nesse sentido, como a estratégia de Trotsky era a mais integral resposta a revolução alemã (a dita revolução no “Ocidente”). Conforme expôs Iuri:

A estratégia de Trotsky, de se defrontar com o movimento real da história e buscar as portas na situação objetiva e subjetiva que possam ser a base da insurreição proletária são o exemplo mais atual e precioso do que poderíamos chamar de “arte da insurreição”, segundo os termos de Marx e Engels. E, seguindo essa dialética e tendo em vista a ousadia tática na revolução alemã, poderíamos dizer que Trotsky tem, de longe, a estratégia revolucionária mais integral para o dito ‘ocidente’”.

Assim, buscou-se encerrar, a partir das discussões no plenário, com a reflexão política do significado do quinto ano da crise econômica internacional e como se faz necessária a retomada do legado de Leon Trotsky, uma importância superior num momento em que a esquerda se deformou (e em alguns casos se degenerou completamente) com os diversos golpes da burguesia ao longo de trinta anos sem revoluções, com o que poderíamos chamar de “grau zero da estratégia trotskista”, construindo “partidos amplos” sem delimitação de classe, sofrendo das pressões sindicalistas, eleitoralistas, rotineiras, transformando o “socialismo” em uma palavra para os dias de festa.

Inclusive, retomando a tática utilizada em 1923 de “governo operário” por fora de qualquer situação revolucionária, mas deslocando a tática da estratégia para encaminhar uma política oportunista e eleitoralista, especialmente marcada no fenômeno grego Syriza, deslocado das massas trabalhadoras, de uma situação revolucionária e de um programa de nacionalização dos bancos e indústrias frente a crise econômica para fazer os capitalistas pagarem pela crise. O Syriza apareceu então como uma casca vazia que serviu aos anseios da esquerda (incluso a dita trotskista) para fazer malabarismos teóricos e chamar um “governo operário” ou mesmo “governos das esquerdas”, por fora de uma estratégia de independência de classe.

Nesse sentido se torna chave retomar as lições de tática e estratégia na época imperialista deixadas por Leon Trotsky, e achamos que o debate realizado permitiu dar uma base importante para o questionamento dessas variantes oportunistas e sectárias no interior da esquerda frente a crise econômica e retomar a estratégia revolucionária no sentido da reconstrução da Quarta Internacional.

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