Terça 16 de Abril de 2024

Nacional

MEDALHA DE MÉRITO CÍVICO AFRO-BRASILEIRO É ENTREGUE AO REITOR DA USP, JOÃO GRANDINO RODAS:

Com açúcar, com afeto: do escravo a seu algoz

15 Jul 2011   |   comentários

No dia 13/05/2011, no mesmo dia em que se comemoraram os 123 anos da assinatura da Lei Áurea no Brasil, uma data lembrada por todos como o “fim” da escravidão vinda “pelas mãos” da Princesa Izabel em 1888, o reitor da USP, Prof. João Grandino Rodas foi curiosamente agraciado pela Universidade Zumbi dos Palmares e pela ONG Afrobras com a referida medalha.

É no mínimo uma ironia que na universidade mais elitista do pais, que mantém os trabalhadores, os pobres e consequentemente a maioria dos negros do lado de fora seja através do filtro social do vestibular, ou da militarização que visa defender e aprofundar o caráter elitista e racista da USP seja justamente o reitor da USP, Prof. João Grandino Rodas o agraciado com uma medalha que se destinaria a “premiar pessoas físicas ou jurídicas que tenham contribuído direta ou indiretamente com os valores do respeito à diferença, tolerância e igualdade de oportunidades, contribuindo para a elevação moral, social e inserção socioeconômica, cultural e educacional dos negros brasileiros” (http://www.usp.br/imprensa/?p=9490).

Na mesma USP, que teima em reproduzir a idéia reacionária da “democracia racial” nas salas de aula ou em seu projetos de “inclusão”, tentando apagar impunemente uma página de nossa história manchada de sangue, as aulas de História do Brasil foram paralisadas quando os “escravos domésticos” ousaram sair dos porões para escancarar na superfície bucólica de “excelência” o sofrimento e a humilhação da terceirização.Seguindo o costume da história oficial, contraditoriamente, poucos dias após a revolta na senzala moderna que pariu as explosões sociais de Jirau, Santo Antonio e das firmes guerreiras exploradas pela empresa UNIÃO (empresa de limpeza terceirizadas da USP) o agraciado é o dono da “Casa Grande de São Paulo” enquanto os escravos ocupam a nota de rodapé das páginas oficiais.

O cinismo desta homenagem é tamanho que, mesmo mantendo no seu próprio terreno a mais absoluta divisão social e racial do trabalho, como no conjunto da sociedade, mas justificando-a sob as vestes do mais escroto “mérito acadêmico” estes latifundiários da hipocrisia tentam apaziguar as desigualdades dizendo que é possível solucionar os traumas da herança maldita da escravidão sem revoltas e levantes mas com projetos de “inclusão” pacíficas e desejavelmente silenciosas nos oferecendo seus “bônus” do Programa de Inclusão Social da USP (INCLUSP).

Em um lugar onde menos de 10% dos 130 mil inscritos para o vestibular da FUVEST conseguem ingressar estes senhores não se envergonham de defender o discurso reacionário de que o debate sobre as cotas raciais iriam reacender uma chaga do “passado já superado por teorias como a de Gilberto Freire”.

Em nome da coerência da razão deveríamos nos perguntar : a ameaça de extinção do Núcleo de Consciência Negra, um dos poucos espaços que discute os problemas dos negros na universidade seria considerado uma contribuição “para a elevação moral, social e inserção socioeconômica, cultural e educacional dos negros brasileiros” ??

Seria uma contribuição “direta ou indiretamente com os valores do respeito à diferença, tolerância e igualdade de oportunidades a demissão de 270 funcionários na virada do ano para justificar semelhante homenagem?? Ou ainda o apartheid interno que sofrem os terceirizados ao ser proibidos de utilizar os restaurantes e creches?? Que dizer da repressão aos estudantes que lutam por assistência e permanência estudantil da MORADIA RETOMADA??

Seria um acaso que na mesma USP as empresas terceirizadas que matam trabalhadores em nome do lucro sigam impunes enquanto os estudantes, ativistas e diretores do Sintusp que lutam em defesa da universidade pública, pelo fim do filtro social do vestibular e contra a exploração dos terceirizados sejam perseguidos e demitidos pela reitoria e pelo governo como ocorreu com Claudionor Brandão (demitido político), Solange, Luiz Cláudio, Zelito para citar apenas os dirigentes sindicais negros perseguidos pela reitoria por defender os interesses dos trabalhadores e cumprirem as resoluções das assembléias e instâncias de nossa categoria??

SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O AÇOITADO E A MÃO QUE CARREGA O CHICOTE.

“Negros senhores na América
a serviço do capital
não são meus irmãos

Negros opressores
em qualquer parte do mundo
não são meus irmãos

Só os negros oprimidos
escravizados
em luta por liberdade
são meus irmãos

Para estes tenho um poema
grande como o Nilo.
(Solano Trindade)

Em seu momento histórico, a ideologia da superioridade racial ajudou a legitimar a escravidão negra que alimentou com sangue e açúcar o esplendido negócio colonial que deu as bases para o futuro desenvolvimento do capitalismo industrial.

Hoje, no momento em que vivemos o reacender de uma das maiores crises econômicas do capitalismo desde a década de 30 voltam à moda os velhos ideais racistas contra os imigrantes na Europa, sobretudo contra aqueles que são oriundos de continentes como a África, Ásia e da América Latina que devem sua pobreza atual em grande medida à colonização e à sanha de lucro de paises imperialistas como a Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos.

A idéia de superação das chagas da escravidão pacificamente e da “convivência harmoniosa” de todos no seio da “democracia racial”, e a ilusão na “inclusão social” ganham terreno em países como o Brasil e tentam esconder a divisão da sociedade em classes sociais com interesses diametralmente opostos em que vivemos. Esta operação ideológica, utilizada em grande escala pela burguesia e por governos que defendem nas palavras um país de todos como Lula e Dilma serve apenas para tentar anestesiar artificialmente as mazelas de nosso povo vendendo a utopia de que explorados e exploradores podem andar de braços dados de maneira harmônica e sem prejuízo dos interesses de uma das partes, neste caso os explorados.

No Brasil de Dilma, que vende a idéia do “país do futuro”, os direitos mais elementares de milhões de mulheres são pisoteados, os políticos corruptos deitam e rolam e a escravidão sobrevive no trabalho semi-escravo. É no Brasil “potência” em que a maior parte da população é negra onde o Estatuto da Igualdade Racial, que teria sido criado para “garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.[1]” foi “devidamente depurado” abandonando reivindicações históricas do povo negro e resumindo-se a uma maquiagem mal feita que mal esconde a face tenebrosa do racismo, já que o direito à moradia digna, o fim do trabalho semi-escravo, o reconhecimento das áreas e populações quilombolas, o acesso à universidade e o fim do racismo não podem ser conquistados quando o governo preserva os interesses daqueles que enriquecem com a utilização do racismo para perpetuar a super-exploração dos negros reservando-lhes os piores postos de trabalho e assassinado a juventude negra nas favelas.

Em nossas aulas de História, ainda disfarçadas pela assepsia “científica” tratam a escravidão como objeto de estudo do passado enquanto naturalizam as atuais condições de vida da maior parte dos negros que super-lotam as estatísticas dos assassinatos policiais nas periferias, da população carcerária e dos atingidos pelas enchentes, pelo desemprego e subemprego e que são obrigado a recorrer aos métodos “históricos” da rebelião como única forma de fazer ouvir o grito do Brasil profundo das favelas e morros militarizados do Rio de Janeiro, e das obras assassinas do PAC de Rondônia.

As cicatrizes da de nosso passado colonial não se apagaram e latejam na submissão aos interesses do capital internacional que rouba o fruto de nosso trabalho e as riquezas de nosso país e mesmo durante os mandatos de Lula e Dilma continuamos recebendo gostosamente de braços abertos os representantes de países exploradores como os EUA e estendendo o tapete vermelho de sangue para o desfile de Barack Obama. Não contente com a tamanha façanha prestada historicamente pelo Brasil às potências imperialistas o Brasil encabeça desde 2004 a ocupação do Haiti por tropas militares brasileiras que querem afogar em sangue a revolta de um povo que conquistou a libertação de sua metrópole e o fim da escravidão através de uma insurreição de escravos negros em 1791.

Em sua batalha de classe os negros precisam definir claramente quem são seus aliados e inimigos e com qual estratégia conquistaremos nossas reivindicações pois a classe dominante mantém a todo vapor o uso político das elaborações “científicas” de Nina Rodrigues, Gilberto Freyre a Ali Kamel para sustentar a ordem dominante que, no passado naturalizavam sob o rótulo “científico” a exploração do homem pelo homem, o tráfico de escravos e hoje, sob novas fórmulas são usadas para aprofundar a divisão e a super-exploração de nossa classe.
Os representantes da burguesia e do governo tem seus aliados dentro do próprio movimento negro que estão sempre prestativos a se submeter e auxiliar nas tarefas de iludir e conter os negros como demonstram o vergonhoso papel da ONG Afrobras e Faculdade Zumbi dos Palmares, os homenageadores de Rodas e tantos outros negros corrompidos utilizam a pele negra para defender a militarização das favelas no Rio de Janeiro ou apoiar o governo Lula, Dilma e os empresários homenageando seu algoz enquanto dão as costas para o sofrimento e o grito desesperado das senzalas.

Diante do aumento gritante do assassinato da juventude negra nas periferias, a militarização das favelas, a segregação dos negros de universidades elitistas como a USP, da manutenção das tropas brasileiras que massacram o povo negro do Haiti e a perpetuação da reacionária teoria da “democracia racial” não basta limitar nossa luta às chamadas “ações de reparação” é necessário lutar de maneira independente do governo e dos patrões buscando ganhar como aliados os setores mais explorados da população e arrancar nossas reivindicações com a força da mobilização. Por isso, é necessário superar de uma vez por todas a concepção de colaboração de classes que diz aos negros, aos trabalhadores e aos explorados que é possível avançar em suas necessidades através de “contra-partidas” dos explorados para com seus exploradores como Dilma, Alckimin, ou pior ainda rendendo homenagens aos representantes da classe dominante como Rodas.

Precisamos discutir nos sindicatos, entidades, e organizações da classe trabalhadora e do movimento negro o necessário combate contra o racismo e da chamada “democracia racial” como ideologias funcionais à manutenção da sociedade de exploração e à ordem dominante e organizar um plano de luta para atender as reivindicações do povo negro. Não é mais possível silenciar o lamento dos cantos de trabalho das plantações de algodão, cana, fumo....mas é preciso transformá-lo imediatamente em um grito de revolta:

Destruir o capitalismo, expropriar a riqueza dos senhores de escravos do passado e de hoje, organizar os escravos para tomar de assalto a Casa Grande dos patrões e todos os exploradores. Libertar das correntes da exploração países inteiros colonizados e repartidos a serviço da acumulação do capital.

Nossa história não será escrita “pelas mãos” de princesas, presidentes e nenhum de nossos exploradores, nossos sonhos e necessidades não serão alcançados de braços dados aos nossos opressores, confiemos em nossas próprias forças para acabar com a exploração do homem pelo homem e toda a ideologia reacionária que ajudam a manter a sociedade de exploração como o racismo.

 ABAIXO A CONCILIAÇÃO DE CLASSES COM OS EXPLORADORES, POR UMA ESTRATÉGIA DE CLASSE INDEPENDENTE PARA DERROTAR NOSSOS OPRESSORES !!!
- RETIRADA DAS TROPAS BRASILEIRAS E IMPERIALISTAS DO HAITI!!
 NEGROS OPRESSORES DA AMÉRICA NÃ SÃO MEUS IRMÃOS: OBAMA GO HOME !!
 BASTA DE ASSASSINATOS DA JUVENTUDE NEGRA NAS FAVELAS!!!
 DESMILITARIZAÇÃO DAS FAVELAS E MORROS DO RIO DE JANEIRO, SALVADOR E EM TODO PÁIS !!
 FORA PM DO CAMPUS DA USP!!!
 FIM DO VESTIBULAR !!! ESTATIZAÇÃO SEM INDENIZAÇÃO DE TODAS AS UNIVERSIDADES PRIVADAS!!
 ABAIXO A ESCRAVIDÃO MODERNA: EFETIVAÇÃO DE TODOS OS TERCEIRIZADOS SEM CONCURSO !!
 IGUAIS DIREITOS E SALÁRIOS PARA TODOS !!!

Pablito – diretor do SINTUSP (e membro da Secretaria de Políticas Sociais e Anti-Racistas) e militante da LER-QI (Liga Estratégia Revolucionária).

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