Terça 23 de Abril de 2024

Debates

Um debate com a LIT

Colocando a discussão nos marcos corretos

24 Mar 2007   |   comentários

Vinte anos após a morte de Nahuel Moreno, abriu-se na totalidade das organizações de origem morenista um debate acerca do seu legado. Em especial o PSTU e a LIT partem de reivindicar o projeto estratégico que deu origem a sua organização internacional, como um marco conseqüente em que poderíamos nos apoiar para reconstruir a IV Internacional.

Não acreditamos que a reconstrução da IV Internacional se dará apenas com debates históricos e teóricos, mas sim com o avanço em acordos estratégicos sobre os principais processos políticos e da luta de classes atual, sobre por exemplo, o combate ao chavismo, aos projetos de “partido amplo anticapitalista” como o PSOL, sobre a intervenção no processo revolucionário boliviano ou a luta contra a intervenção imperialista no Iraque. No entanto, o debate acerca da atuação dos trotskistas nas últimas décadas nos possibilita compreender e corrigir os erros e desvios do passado que ainda hoje servem de base estratégica para a atuação de muitas das tendências que reivindicam a IV Internacional.

Antes de mais nada, os que nos reivindicamos trotskistas, para fazer frente às enormes difamações de que nossa corrente historicamente foi vítima por parte do stalinismo, devemos partir de uma base comum de combater qualquer tipo de amálgama entre críticas políticas (quer estejam corretas ou equivocadas) e acusações morais (ver nota ao lado). Esclarecida esta questão, consideramos necessário desfazer uma confusão criada por Martin Hernadez na ùltima revista Marxismo Vivo. Lá ele afirma que o PTS (seção argentina da FT-QI) defenderia a posição de que a “prova” dos erros de Moreno é o fato de que o MAS, a principal organização que ele construiu, explodiu; em suas palavras: “Vários dirigentes que se reivindicam trotskistas procuram mostrar a falência de Moreno e do morenismo. Entre eles se destacam notavelmente o PO (Partido Operário) e o PTS, ambos da Argentina. Essas organizações utilizam um método curioso, mas certamente nada original. A destruição do MAS, depois da morte de Moreno, seria a prova mais evidente da falência de Moreno e do morenismo. Se esse tipo de raciocínio fosse válido, a restauração do capitalismo no Leste europeu seria uma prova categórica da falência do marxismo, da mesma maneira que a degeneração stalinista da ex-URSS, do Partido Comunista da União Soviética e da III Internacional seriam uma prova da falência do bolchevismo.”

Essa afirmação dificulta enormemente um debate claro de nossas posições com os companheiros da LIT e do PSTU. Concordamos com M. Hernandez, que as derrotas que uma corrente sofre (ou os êxitos parciais que obtém) nas batalhas da luta de classes não provam se sua linha estratégica era ou não correta. Por exemplo, apesar das circunstâncias excepcionais e complexas que levaram à crise da IV Internacional, os seus fundamentos estratégicos são extremamente atuais para reconstruir o movimento revolucionário dos trabalhadores e devem ser considerados como imprescindíveis para tal.

No entanto, ao contrário de defender laconicamente que a explosão do MAS seria a prova de que Moreno estava equivocado estrategicamente, “Desde a ruptura com o MAS argentino em 1988, o PTS dedicou grande parte de seus esforços a questionar as categorias teórico-políticas da corrente fundada por Nahuel Moreno (o ”˜morenismo”™), que expressavam uma crescente adaptação política às transições à democracia primeiro e logo à própria democracia, e que em última instância derivaram na crise e na explosão desta corrente. Nossa crítica centrou-se, principalmente, na teoria da ”˜revolução democrática”™, que constituía uma concepção semi-etapista da revolução, assim como, entre outras, a falta de uma estratégia soviética e o catastrofismo económico” . Essa crítica, que por sinal nunca foi devidamente contestada pela direção da LIT, pode ser conhecida através de um conjunto de elaborações teórico-políticas publicadas desde 1993, dentre as quais podemos destacar: “Polêmica com a LIT e o legado teórico de Nahuel Moreno” , de 1993; “A estratégia soviética na luta pela república operária” , de 1995; “Polêmica com o MAS e com a LIT: ”˜Depois do stalinismo... e longe do marxismo revolucionário”™” , de 1998; “Transições à democracia: um instrumento do imperialismo norte-americano para administrar o declínio de sua hegemonia” , de 2000; e “História e balanço do MAS argentino” de 2006.

Não dispomos aqui do espaço necessário para resumir, mesmo que em traços largos, o conteúdo dessa extensa polêmica, que é parte necessária de um debate mais amplo sobre o balanço das distintas correntes do movimento trotskista e sobre as vias de reconstrução da IV Internacional. No entanto, como condição para que este debate se dê, é necessário desarmar os falsosargumentos como os que utiliza a direção da “nova LIT” para tentar escapar da verdadeira discussão.

Nesse sentido, o equívoco de igualar as críticas políticas desenvolvidas pela FT ao legado de Nahuel Moreno com o Partido Obrero argentino termina cumprindo o papel de eximir a direção da LIT de refutar as reais críticas que fazemos, as quais estão longe de se restringir ao argumento da “explosão da LIT” .

Nossa corrente tem sua própria origem no morenismo e se forjou através de uma ruptura com suas concepções teórico-políticas e programáticas, sem, no entanto, jamais negar de forma anti-dialética a luta principista dada por Moreno, por exemplo, contra o revisionismo de Ernest Mandel ou de Pierre Lambert.

É nesse marco que tratamos de demonstrar que, ao contrário da IV Internacional que explodiu devido à incapacidade de seus dirigentes de desenvolver adequadamente as perspectivas teóricas e programáticas deixadas por Trotsky frente à realidade do pós-guerra, a crise e divisão da LIT se deu por razões inversas, isto é, existe uma relação concreta e direta entre as últimas elaborações teórico-políticas de Moreno e a confusão, desmoralização e fragmentação nas fileiras do morenismo.
De qualquer modo, isso já faz parte do debate que devemos travar de maneira franca e aberta.

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