Quinta 25 de Abril de 2024

Juventude

BALANÇO DAS ELEIÇÕES DO CAELL (CENTRO ACADÊMICO DE LETRAS DA USP)

Chapa Primavera nos dentes: A contra mola que resiste!

11 May 2012   |   comentários

Letícia Parks e Natália Viskov

Com mais de 6.000 estudantes, a Letras é o maior curso da USP. No ultimo mês, esse curso passou por eleições para o Centro Acadêmico (CAELL), tendo 5 chapas distintas. Em um quórum recorde de 1000 votos, a chapa “Travessia” – composta por PSOL/MES e militantes independentes – recebeu 440 votos, sendo eleita para compor a nova gestão.

Com um programa distante do debate da mobilização do ano passado, a chapa Travessia se colou no sentimento anti-mobilização presente em um setor da Letras. A PM não era citada, e as eleições “diretas para Reitor”, tanto defendida pelos militantes do PSOL/MES, apesar de ser um programa já limitado frente a estrutura de poder da universidade, sequer apareceu no programa, mostrando a indisposição em travar uma luta consequente contra a ditadura na universidade, que se expressa hoje nos mais de 60 processos a estudantes e trabalhadores.

Durante todos os acontecimentos do ano passado, a gestão anterior do CAELL, “Uma flor nasceu na rua” - PSTU e independentes – na primeira fase da luta contra a PM se negava a mobilizar os estudantes adaptando-se ao sentido comum pró “segurança” devido a que isso atrapalhava seus interesses nas eleições estudantis. Na campanha deste ano se apoiaram em um sentimento corporativista (defendendo pequenas reformas) e pautaram de maneira secundária a situação de perseguições, com um programa que, ao se apoiar nas diretas para reitor e num plano de segurança alternativo, se adapta ao regime universitário. Como efeitos, nesta eleição receberam apenas 230 votos, ocupando o segundo lugar.

A chapa de direita - “Evolução” - recebeu 121 votos, propondo uma gestão de centro acadêmico apolítica, centrada nas questões financeiras e jurídicas. A chapa que carregou de maneira oportunista o nome “27 de outubro” (pois nós da LER-QI e da Juventude às Ruas éramos a maioria da chapa) recebeu apenas 53 votos.

É parte do discurso de todas as chapas a defesa da unidade no movimento. No momento de conformação das chapas, um setor de estudantes convocou uma reunião para tentar uma unificação, onde a chapa “27 de outubro” sequer apareceu. Por sua vez, a “Travessia” sequer se disponibilizou a discutir, comparecendo a primeira reunião apenas para notificar a todos de que sairia sozinha, o que para nós colocava melhores possibilidades de acordos entre os setores que se colocam no campo dos combativos. O PSTU participou não mais que formalmente das reuniões onde se discutiu a possibilidade de uma unidade, porque nunca estiveram dispostos a nenhum tipo de unidade na USP que não seja com o PSOL.

O PSTU não tem problema em ter “duas caras”, uma que clama pela unidade dos setores “de luta” para o DCE e outra que adota, sem mais explicações (nem mesmo o PSTU sabe explicar como é oposição na Letras ao mesmo tempo que estão juntos no DCE!). Isso mostra como naquele momento saíram juntos numa frente eleitoral sem princípios, e onde não importava o programa nem a prática política, mas o aumento das possibilidades de se ganhar a entidade. Se na Letras é possível ganhar sem unidade, recusam para garantir que a entidade tenha apenas a sua corrente. Assim, o PSTU que era gestão, depois de ver boa parte dos independentes da sua gestão romperem com eles – que em parte construíram conosco a chapa “Primavera nos dentes” – agora amargam mais uma derrota onde tem o seu principal trabalho político da USP e um dos principais do país.

Nós da Juventude às Ruas, estivemos realmente dispostos a debater uma possível unidade dos setores combativos, mas frente ao fracasso, conformamos junto a independentes a chapa “Primavera nos dentes” que teve expressivos 120 votos. Tal votação demonstra que o processo de mobilização e os mais de 60 processos administrativos que se abrem hoje na USP trouxeram para um novo setor de estudantes a perspectiva de que em nossa mobilização é preciso que se questione de maneira radical os ataques à universidade, votando num programa que parta da necessidade do movimento estudantil se colocar desafios maiores, visando a democratização radical da estrutura de poder da universidade, com a dissolução do Conselho Universitário (CO) e por uma Estatuinte para que os três setores deem fim ao estatuto da ditadura, que hoje baseia os processos e perseguições, por um que represente os interesses de quem constrói a universidade.

Para isso, consideramos que é papel de uma vanguarda consequente ter como perspectiva lutar pelo fim do vestibular e do ranqueamento, o segundo vestibular da Letras; por permanência estudantil; pelo fim da terceirização; por contratação de professores e pela construção de um currículo discutido e decidido por estudantes, professores e funcionários.

Lutamos também para que o próprio movimento estudantil se democratize, fomentando os espaços de democracia direta e os de auto-organização, como o comando de mobilização que se constrói hoje, com delegados revogáveis eleitos na base dos cursos. Esse elemento se liga a uma concepção de movimento onde a entidade deve ter gestões compostas proporcionalmente ao números de votos. Ao negarem-se a isso, agora teremos uma gestão com uma chapa que recebeu 44% do total de votos, desprezando as posições programáticas de 56% dos estudantes votantes da Letras.

A conformação desse programa parte de experiências junto a independentes que conosco constroem o Grupo de Estudos “Cultura e marxismo”, iniciativa que visa cobrir parte da lacuna que há no curso da Letras, que poderia dentre outros temas, se aprofundar sobre como se da a construção da cultura pela via da ideologia burguesa, e qual o papel que cumprem os que resistem contra o capitalismo para forjar uma contra corrente cultural fundamental para a transformação da sociedade, tais como foram os grupos de teatro que em meio a ditadura militar, ou posteriormente no levante operário de 70-80, buscavam representar a luta de classes e a centralidade da classe operaria, lançando criticas em torno da universidade e seu papel de classe, da alienação, da mais-valia, etc. Também participaram da nossa chapa setores que romperam com a gestão do PSTU devido a desacordos com a atuação do PSTU na mobilização.

Voltamos a convidar todos a participarem do Grupo de Estudos e da Juventude às Ruas, pois diferentemente da maioria das outras chapas, vemos que a discussão política e programática não deve se restringir ao processo eleitoral, e que esse novo setor que declarou seu apoio programático a Primavera deve ser o setor que na Letras eleve o debate político para que a luta que entramos hoje seja de fato vitoriosa, forjando-se como uma oposição consequente a gestão. É necessário lutar contra a ditadura de Rodas, os processos, a estrutura de poder da ditadura de ontem e hoje, construindo uma forte campanha democrática, onde o movimento estudantil seja ponta de lança na defesa dos lutadores, se aliando aos trabalhadores contra a privatização da universidade.

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