quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Novo panfleto da chapa

Desatai o Futuro

eleições ao CAELL 2009

Sabemos que o curso de letras é um dos mais precarizados da Universidade, um dos que menos recebe verbas, que faltam professores, salas de aulas, banheiros, saídas de emergência, livros na biblioteca, organização interdepartamental, investimento, lousas e gizes bons, espaço para os estudantes lerem, se encontrarem, entre outras coisas. Além disso, sabemos também que o curso de letras é um dos que mais reúne trabalhadores, negros e pobres nessa Universidade racista e elitista.
Para além de exigirmos mais reformas, ampliações e resoluções dos problemas, devemos nos lembrar o que é o curso de letras e onde ele se situa na esfera da produção capitalista dentro e fora da Universidade.
Quem se forma em letras vira professor, revisor, tradutor (será?) ou pesquisador (e só). Profissões que, embora necessárias para a manutenção do sistema, não geram grandes lucros para ninguém. Mais que isso: o curso de letras é um curso barato, de manutenção barata, no qual se pode abrir um sem número de vagas sem investimentos ou ampliação. Afinal, de que mais precisamos além de livros (que nem temos), cadeiras e professores (que faltam)?
Essa precarização não é uma exclusividade da Letras. Na universidade, podemos ver que o eixo de funcionamento está de acordo com as necessidades de pesquisa e mão de obra para as empresas, implementadas pelas “autoridades universitárias” e garantindo inclusive suas vantagens pessoais. Esse molde de aplicação tecnicista impede a existência e a autonomia daqueles cursos menos aplicáveis e rentáveis.
Conseqüentemente, hoje, isso chegou ao limite de impor ao nosso currículo o tecnicismo na formação de licenciatura. O aluno não precisa estudar literatura (isso é secundário) precisa aprender a dar aula, a passar informação (por isso pode ficar menos tempo na universidade). Isso mesmo, o professor agora é objeto condutor de conhecimento (aquele que aprende a transferir do google para a sala de aula), um operário alienado do processo de produção do saber – o exemplo do fordismo na escola. Essa é uma diretriz geral para todos os cursos que formam professores. Faz parte de um plano nacional para educação aprovado antes mesmo da reforma universitária do governo Lula (e que aponta na mesma direção desta). Esse plano prevê a implantação dos cursos de formação de professores, cursos de ensino à distância (que são, na sua maioria, de licenciatura) e as diretrizes para o ensino básico (fundamental e médio) da rede pública do país inteiro. Nesse contexto entra a reforma curricular no nosso curso.
Não que antes da reforma o curso já tivesse o currículo que reivindicamos ou desejamos. Muitos professores retrógrados e a ignorância aos movimentos literários atuais, como a literatura marginal, a poesia maloqueirista, as histórias em quadrinhos, o RAP, escritores consagrados e presentes desde há décadas, como Ferreira Gullar e Glauco Mattoso, ou até mesmo a própria literatura modernista! (que extrapola em muito o trio Drummond, Bandeira, Guimarães), entre outros. Entretanto, o novo curso de letras se apresenta como um passo atrás do que já temos. Será um curso de licenciatura, transformará as optativas eletivas (as Literaturas Africanas, por exemplo) em optativas livres e fará as matérias de literatura (exceto IEL, Brasileira I e Portuguesa I) serem as novas optativas eletivas. Isso tudo porque a verdadeira reivindicação histórica do curso de letras, de transformar o bacharelado em curso de cinco anos, sairia muito caro, pois necessitaria de muito mais professores e uma verdadeira reforma do prédio. E isso, como já vimos, não é interessante para ninguém.
A crise capitalista que atinge aos países em maior ou menor escala e que atingirá a todos sem exceção, modifica algumas coisas nesse cenário. Se temos uma Universidade a serviço do Capital, teremos uma Universidade a serviço da crise. É daqui que sairão e já saem os planos de “salvação” dos bancos e empresas aprovados pelo governo Lula, que já se concretizam em demissão de trabalhadores, maioria entre os estudantes da letras, (em alguns setores dos trabalhadores, as demissões já começaram – como o telemarketing), em diminuição dos concursos públicos e não contratação dos já aprovados e com previsões de corte de verbas para a saúde e educação. A crise chegará também à Universidade e é uma ilusão pensarmos de forma diferente. A USP é financiada por uma parcela do ICMS, e com a economia desaquecida é inevitável que o repasse de verbas diminua.
A prova do quanto o direito mínimo à educação é atacado pelo capital é a mobilização feita na Itália pelos estudantes contrários ao corte de verbas das universidades e à reforma curricular dos cursos secundários, que colocará 83 mil professores na rua e tornará o ensino público precário. Os estudantes italianos estão num processo de ocupação das universidades e escolas sob o mote: “Não pagaremos pela sua crise”, unificados com os professores públicos secundaristas em greve.
Nesse contexto de colapso do sistema financeiro, os que podem dar resposta à altura são os trabalhadores, pelo papel estratégico que cumprem em cada empresa ou fábrica que demita ou feche. Portanto, é necessário que estes sejam nossos aliados prioritários. Só com mobilização massiva unificada com aqueles que mais sofrerão as mazelas da crise e com suas demandas contra demissões, contra a precarização e pela democratização não só do acesso, mas também da produção universitária é que poderemos colocar uma alternativa palpável.
A crise econômica surge para nós, na USP, junto com o processo cada vez mais aprofundado de repressão aos trabalhadores e estudantes da greve de 2007, com suspensões dos trabalhadores, estudantes depondo na polícia, ameaças de demissão por justa causa, ameaças de suspensão/jubilamento de estudantes e retirada dos espaços de organização estudantil e do espaço do SINTUSP. Por isso, está na hora de nos levantarmos! A nossa chapa convidou todas as outras a impulsionarem junto a professores da Letras e ao Sintusp um manifesto em defesa das liberdades democráticas e um ato do dia 04/11. A gestão do CAELL se calou e todos levam as eleições do CA ignorando as repressões na USP.
Somos contra o Centro Acadêmico gestor do espaço público se comprometendo, como um vereador, a “limpar e organizar os murais” ou “sentar para dialogar com os professores”; o CA das reuniões intermináveis e temas dos mais irrelevantes que passam a quilômetros da realidade; o CA formador de especialistas em ofícios, papeladas e administradores do espaço estudantil – chega de burocracia, seja de esquerda ou de direita! Não é possível que diante da reforma que retira os espaços estudantis, diante da reforma curricular, diante de processos contra os estudantes, diante de punições aos trabalhadores, diante da crise econômica que vemos cada vez mais se aproximar da nossa vida real e material, nós continuemos ignorando que é mais do que hora de erguermos as mangas e nos colocarmos como protagonistas dizendo “NÃO!” como fazem os estudantes italianos.
Por isso que para nós, o Centro Acadêmico deve ser um espaço vivo, de fervilhar de idéias com discussão, reflexão e ação em torno de atuar sobre as contradições da realidade em aliança permanente com os trabalhadores e suas necessidades, dentro e fora da USP, e o povo pobre. Um CA democrático, amplo e atuante, que se organize também por representantes eleitos em sala de aula, por assembléias freqüentes com os estudantes no horário de aula (liberados da mesma) e que trace a unidade entre nós e os trabalhadores da unidade, com reuniões periódicas.
Desde já, chamamos todos às atividades que estamos impulsionando:
-Crise mundial e as perspectiva da esquerda, com Christian Castillo (docente da UBA e dirigente do PTS), Ruy Braga (professor do Departamento de Sociologia da USP) e Leda Paulani (professora da Faculdade de Economia da USP) - 10/11 [segunda] às 18h no Anfiteatro da Geografia - USP

- A crise econômica e o curso de letras – 18/11 – 18h em frente à Letras

- Reunião junto aos trabalhadores da FFLCH – data a confirmar

Panfleto da chapa

DESATAI O FUTURO

Para quem não estava aqui ano passado, mais uma vez chega novembro e mais uma eleição de CA ... mais e mais distante dos estudantes - um marasmo. Durante muito tempo, o CA tem sido imperativo das acalouradas discussões administrativas e burocráticas que passam a quilômetros de expressar/discutir/questionar e agir sobre as transformações da realidade. Gostaríamos de utilizar este momento de campanha das chapas concorrentes ao Caell para tentar abrir algumas discussões de grande importância, principalmente sobre como entendemos a importância da atuação política dos estudantes e em que direção esta deve apontar e o porque achamos que o CA é uma ferramenta fundamental para isso.

Devemos refletir sobre questões primordiais do nosso curso, como os aspectos mais conservadores da nossa grade curricular, que deixam de fora autores importantes da Literatura como Oswald de Andrade, Souzandrade, Lima Barreto, e simplesmente ignoram novos movimentos literários de grande importância, como a Literatura marginal. Bem como o ensino da língua como instrumento a favor das pessoas e não como um domínio para poucos. Precisamos estar atentos e reivindicar nosso protagonismo nas discussões que nos concernem e que são feitas a portas fechadas pelas autoridades universitárias, como a reforma curricular e a reforma dos espaços na Letras.

O ensino à distância é visto como um auxiliar no aprendizado, no acesso ao conhecimento. Porém não serve nem de fachada para mascarar o grau de elitismo e racismo da FUVEST, criando uma ilusão de que “todos” entram na USP. Que tipo de todos, em qual tipo de Universidade? A USP é para poucos que em sua maioria são da classe média; e a UNIVESP - precarizada, tecnicista, pouco qualificada e à distância, para os professores estaduais e para os jovens trabalhadores. O direito à educação não pode ser usado como demagogia para a estratificação social em forma de ensino à distância – da ceia farta da USP caem migalhas em forma de UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Além deste ataque, Serra quer passar pela Assembléia Legislativa – em forma de lei – os famooosos decretos que no ano passado foram barrados pelos estudantes e trabalhadores dessa universidade na greve e ocupação da Reitoria de 2007. Tenta novamente colocar cada vez mais o nosso conhecimento a serviço das grandes empresas brasileiras e estrangeiras, a fim de que tenham cada vez mais formas de aumentarem seus lucros.

Desde o final da ocupação da reitoria e da greve da USP, a reitoria e o governo estadual vem reprimindo vários estudantes e trabalhadores através de sindicâncias, suspensões, processos judiciais, depoimentos na polícia e também tentativas de retirada dos espaços estudantis. É imprescindível que consigamos defender o direito democrático de manifestação política e sindical na universidade e fora dela. Justamente por isso, desde nossa chapa, convocamos todos para o ato do dia 04/11 às 12h em frente a reitoria, junto ao Sintusp e também vários professores e intelectuais além de um abaixo-assinado e de um manifesto para garantir as liberdades democráticas. Fizemos esse chamado a todas as chapas mas, infelizmente, nenhuma delas tomou concretamente essa tarefa.

Hoje não podemos fechar os olhos para o fato de que o sistema capitalista passa por uma grande crise e que a juventude será particularmente atacada. Com a crise veremos a educação sendo mais destruída, como já acontece hoje na Itália, onde o governo Berlusconi tem aplicado uma reforma educacional que mescla elementos de fascismo (separando os alunos italianos dos estrangeiros) com precarização da educação através de demissão em massa (cerca de 86 mil), da manutenção de um professor por sala do ensino médio para todas as matérias. Devemos nos preparar para seguir o exemplo dos estudantes italianos que estão se organizando, tomando as ruas e dizendo “Não pagaremos pela sua crise”. No Brasil, frente a crise o governo Lula, tem a política de salvar os banqueiros da crise, descarregando o peso da crise nos trabalhadores. Hoje já temos milhares de demissões, férias coletivas. Nos colocamos ombro a ombro com os trabalhadores. Com eles devemos nos aliar e solidarizar em cada luta, para que não passem os ataques!

Somos nós que junto aos trabalhadores sentiremos os primeiros sintomas da crise (através de demissões, terceirizações e também aumento da cesta básica) e, dentro da USP, somos nós que sofremos repressão aplicada pelas autoridades universitárias para preservar o interesse de seus privilégios pessoais, tais como as fundações, suas empresas terceirizadas que prestam serviços para a universidade e etc. Sendo assim, é inevitável que nos juntemos para combater o inimigo em comum.

Para que o CAELL comece a se colocar como protagonista político na Letras e na USP, é necessário que a entidade abra espaços democráticos de discussão e reflexão com espaços como reuniões abertas e periódicas, assembléias amplamente convocadas (inclusive assembléias conjuntas entre estudante e funcionários) e debates com convidados para aprofundar as discussões de maior importância.

A gestão atual, composta pelo PSTU e independentes, passou este último ano em um completo imobilismo. Neste momento por exemplo, onde o que prima dentro da universidade é uma onda repressiva por parte da reitoria, a gestão nem se pronunciou! Além disso, não tem uma política de combater as autoridades universitárias. Exemplo disso está no fato de que não organizou nem uma mínima discussão, (que dirá os estudantes!), para lutar contra a Reforma curricular, que precariza nosso curso.
Nós defendemos um CA atuante que se posicione e atue frente aos principais fenômenos da realidade. Nós pensamos que o CA deve ser uma ferramenta viva de organização dos estudantes, um espaço de fervilhar de idéias e ações com espírito crítico e questionador. O CA cumpre um papel fundamental na vida política dentro da universidade, mas quando existem lutas, defendemos a auto-organização estudantil – através de representantes de sala que levem o posicionamento e a discussão dos alunos. Achamos que nesses momentos, devemos nos organizar também por sala, votando delegados revogáveis, que levam a discussão democraticamente para cada sala de aula, fazendo com cada estudante participe ativamente do que é organizado e discutido. Defendemos um CA atuante todos os dias do ano!

Desatai o futuro

O futuro
Não virá por si só
Se não tomarmos medidas.
Pega-o pelas orelhas...
Pega-o pela cauda... ...e avança!
(fragmento Maiakovski)
(

domingo, 2 de novembro de 2008

Programa da chapa "Desatai o futuro"


Para quem não esteve aqui o ano passado, mais uma vez chega novembro e mais uma eleição de CA... mais e mais distante dos estudantes, e como durante o ano todo - um marasmo. Isso é justamente o que um CA não tem que ser!
Um CA deve ser uma ferramenta viva de organização dos estudantes, um espaço de fervilhar de idéias e ações com espírito crítico e questionador, e não um órgão burocrático que faz a "gerência organizativa" da vida cotidiana no curso. É necessário romper com a alienação do trabalho dos ofícios, das acalouradas discussões administrativas e burocráticas que passam a quilômetros de expressar/discutir/questionar, para começar a agir sobre as transformações da realidade. Defendemos um CA atuante que se posicione e atue frente aos principais fenômenos da realidade.
Colocamos aqui algumas questões para abrir o debate entre os estudantes, que iremos aprofundar depois em outros materiais.
Hoje não podemos fechar os olhos para o fato de que o sistema capitalista passa por uma grande crise e que a juventude será particularmente atacada. Com a crise veremos a educação sendo mais destruída. Somos nós que junto aos trabalhadores sentiremos os primeiros sintomas da crise. Se o nível de passividade frente mais uma eleição estudantil faz com que não possamos VER, se indignar e responder à realidade, então abramos os jornais, TODOS, desde aqueles absolutamente reacionários como VEJA e Estado – lá veremos que os cabelos dos governos, dos ministros, e dos empresários estão em pé. O medo da recessão econômica é geral e qual é a resposta?
O governo brasileiro precisa se adiantar nas reformas, diminuir o orçamento do estado e os encargos trabalhistas! Traduzimos aqui os eufemismos do governo Lula: revisão dos direitos adquiridos como FGTS, férias e licença-maternidade, mais precarização do trabalho, inflação sem aumento salarial, terceirização, demissão, piora da saúde e educação públicas. E para as universidades, corte no repasse da verba do ICMS. Mais uma forma para cortar os “gastos desnecessários” e direcioná-los para salvar os grandes empresários que já estão vendo a sua grande fortuna escoar com a crise econômica mundial.
A pergunta final é o que vamos fazer?
O ensino à distância é visto como um auxiliar no aprendizado, no acesso ao conhecimento. Porém não serve ao menos de fachada para mascarar o grau de elitismo e racismo da FUVEST, criando uma ilusão de que “todos” entram na USP. Que tipo de “todos”, em qual tipo de Universidade? A USP é para poucos que em sua maioria são da classe média; e a UNIVESP - precarizada, tecnicista, pouco qualificada e à distância, para os professores estaduais e para os jovens trabalhadores. O direito à educação não pode ser usado como demagogia para a estratificação social em forma de ensino à distância – da ceia farta da USP caem migalhas em forma de UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo).
Além deste ataque, Serra quer passar pela Assembléia Legislativa – em forma de lei – os famosos decretos que no ano passado foram barrados pelos estudantes e trabalhadores dessa universidade na greve e ocupação da Reitoria de 2007. Tenta novamente colocar cada vez mais o nosso conhecimento a serviço das grandes empresas brasileiras e estrangeiras, a fim de que tenham cada vez mais formas de aumentarem seus lucros.
Não nos esqueçamos dessa mobilização que tivemos na USP, que foi de extrema importância e que apontou para questionamentos sobre o caráter da universidade e seu papel na sociedade, sobre a autonomia universitária e sua ligação com o capital, sobre a organização de estudantes e de trabalhadores.
A greve e a ocupação da Reitoria não tiveram grande repercussão nacional à toa. Foi o despertar de um conjunto de lutas estudantis por todo o país. Naquele momento lutamos para que se expressasse à auto-organização dos estudantes como parte de ligar os cursos da forma mais massiva à luta na universidade e ter medidas para nos aliarmos aos trabalhadores.
E agora, que estamos num clima de extrema passividade, voltam a aplicar tais ataques. Para que estes passem, se faz mais que necessário uma repressão contra os lutadores, para que estejamos fragilizados e para que não possamos ter como combatê-los: mais de 20 estudantes sofrem processo de sindicância, há processos de jubilamento contra manifestantes, trabalhadores são suspensos e até ameaçados de demissão por “justa causa”. Como se não bastasse, avançam na tentativa de retirada dos nossos espaços estudantis! A resposta do movimento tem sido quase nula e também em particular por parte do nosso C.A., que inclusive tem um de seus membros sendo ameaçado de punição política pela reitoria da universidade. Por tudo isso, temos que dizer: NÃO PASSARÃO! Faz-se necessário que preparemos e lutemos contra esses processos, para defendermos inclusive o direito elementar de organização dos estudantes e dos trabalhadores – não podemos aceitar que sejamos meros fantoches que só podem se expressar politicamente (e ainda com pouco poder de decisão definitivo) em eleições federais, estaduais e municipais a cada 4 anos. Achamos de extrema importância impulsionar a campanha contra a repressão junto aos trabalhadores da USP, participando do ato em frente à Reitoria no dia 4 de novembro às 12h30. Para isso estamos divulgando e colhendo assinaturas de diversos intelectuais em um manifesto pelas liberdades políticas dentro da universidade. E achamos que o CA tem que ter o papel de ajudar a organizar os estudantes nesse sentido.
A que serve nossa formação no curso de letras?
Nosso objeto fundamental de estudo é a língua e suas diversas manifestações. A Literatura, a escrita e o domínio das formas de expressão e compreensão da língua permanecem inacessíveis a maior parte da população, que se chega a freqüentar o ensino médio até o fim, quase sempre termina sua formação escolar sem nem ao menos dominar o necessário de nossa língua.
Os estudantes aqui formados serão, em sua maioria, professores e, portanto, responsáveis pela formação destes alunos e estarão diretamente inseridos nesta realidade. No começo do curso somos ensinados, nas matérias de IELP I e II, a questionar o preconceito lingüístico e a gramática normativa. Mas no restante, esta perspectiva parece se apagar totalmente, e concretamente é a norma gramatical que hegemoniza. No final, aprendemos a pensar como Marcos Bagno, mas nos formamos e atuamos cotidianamente como Pasquale Cipro Neto.
Aí fora, pelas periferias das grandes metrópoles, aqueles que são cotidianamente oprimidos pela cultura letrada e pela dominação econômica começam a criar grupos de resistência, tomando em suas mãos os instrumentos do opressor. Saraus na periferia, o hip hop, editoras caseiras, poesia e literatura marginal começam a lutar pelo seu espaço, para que, pela primeira vez na história, os oprimidos coloquem-se como protagonistas para falar de sua condição. Mas, aqui na Letras, nada se fala sobre o assunto. Nem os autores que primeiro conseguiram colocar sua voz, como Lima Barreto ou Solano Trindade, encontram espaço entre o cânone. Mesmo os nomes consagrados que se colocaram na literatura de vanguarda brasileira, como Oswald de Andrade, são apresentados como uma “literatura datada”.
Aprendemos a ler os clássicos, lemos e relemos as interpretações de Antonio Candido, Alfredo Bosi, Roberto Schwartz. Mas não há espaço para produção, para criação, para a crítica da crítica. Quem pode se propor a compreender a literatura sem se propor a uma reflexão crítica sobre o mundo? Quem tem apoio para reviver os grandes clássicos através de uma leitura inovadora?
A nossa formação, além de conservadora e intransigente, vem sendo mais e mais agredida em seu direito mínimo de existir como é hoje. Parcerias são firmadas entre Santander e USP para formar professores de espanhol via internet; o nosso prédio receberá uma quantidade ainda maior de aulas como parte da Licenciatura sendo ministrada aqui (sem um acréscimo significativo de salas, professores ou infra-estrutura), além da reforma curricular. O Latim permanece com duas matérias obrigatórias, enquanto o Tupi (que também colaborou com a formação do português-brasileiro) fica esquecida nas optativas, cabendo a poucos aventureiros o aprendizado desta língua. Enquanto na Literatura, a reforma (que vem sendo discutida a portas fechadas por professores e chefes de departamentos) vem para colocar de lado cada vez mais as perspectivas divergentes As Literaturas Africanas serão relegadas ao plano das matérias optativas, deixando clara a perspectiva de abandono de uma parte substancial da nossa cultura por parte daqueles que comandam unilateralmente a nossa reforma curricular.. Estas são freqüentemente incentivadas pelos interesses mercadológicos, em oposição às imensas contradições em que estamos inseridos na nossa sociedade.
Vendo tudo isto bem diante de nossos olhos, não podemos permanecer passivos. É papel dos estudantes colocarem-se ativamente para pensar a Literatura e a língua de modo mais abrangente, para disputar com esta concepção arcaica o espaço do ensino e da produção intelectual, e colocarmo-nos como protagonistas, lutando para que nosso curso atue no sentido de tornar a língua e a Literatura acessível a todos, e colocar estes como instrumentos para a emancipação da humanidade, e não para a opressão de uns sobre outros.
Chamamos a todos a nossa próxima reunião de chapa que será no dia 4/11 às 18h na sala 233!
Chamamos todos ao Debate: "Crise econômica e as perspectivas da esquerda", com Christian Castillo, Leda Paulani e Ruy Braga dia 10/11 às 18h no Anfiteatro da Geografia.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Carta aos estudantes da Letras:

Assistimos hoje a aproximação cada vez mais iminente da crise econômica. Como já ocorreu em outras crises na história, os grandes capitalistas tentarão minimizar suas perdas através de demissões, rebaixamento dos salários, terceirizações e precarização de direitos trabalhistas – como já acontece com as férias coletivas da GM e Fiat no Brasil. Para a juventude, que ocupa em sua maioria postos de trabalho precarizados, as conseqüências da crise econômica serão mais sentidas. Diversos estudantes da Letras são tele-operadores, bancários, professores... já pararam parar pensar que serão diretamente afetados pela crise? O governo Lula já anunciou que frente a qualquer aprofundamento da crise vai agir para salvar os capitalistas, e isso significa menos investimentos em saúde e educação e mais ataques para a juventude.
Frente a esse cenário, os capitalistas e a burocracia acadêmica continuam com seu projeto de atrelar ainda mais o conhecimento às grandes empresas e de manter a universidade tão ou mais elitista do que já é a USP. O governo estadual, junto à burocracia acadêmica da USP, já aponta uma série de ataques à universidade e aos estudantes e trabalhadores. As medidas de Serra, que no ano passado foram lançadas em forma de decretos (e que desencadearam a mobilização contra este projeto e a ocupação da Reitoria da USP) hoje estão sendo negociadas entre o governo e parlamentares da Assembléia Legislativa em forma de leis. A burocracia acadêmica da USP já autorizou o ensino à distância.
E para fazer tudo isso eles sabem que precisam conter e reprimir a organização política dos que são contra esses projetos. Desde a ocupação da Reitoria da USP há estudantes e trabalhadores sofrendo processos e sindicâncias. Mais recentemente, diretores do Sintusp foram suspensos por defender os direitos dos trabalhadores terceirizados na universidade e outros, junto a estudantes, tiveram mais processos abertos por estarem num ato contra o fim da bolsa trabalho na universidade. Diante desta situação, os estudantes não podem permanecer inertes e devem colocar-se ao lado dos trabalhadores para combater estas medidas repressivas, bem como a
burocracia que é responsável por tais repressões. Precisamos ter o direito de luta garantido!
Nós, estudantes, devemos refletir sobre as contradições que estão presentes nessa sociedade (dentro e fora da USP) fundada na super-exploração dos trabalhadores, na opressão racista e machista. Ora, qual é a principal porta de entrada das mulheres negras na USP? Não é o vestibular, mas sim a limpeza das salas e banheiros. Cabe ao Centro Acadêmico atuar como um pólo organizativo de reflexão ideológica e ação que esteja em constante solidariedade com os trabalhadores. Aqui, no curso de Letras, esta necessidade é ainda maior, pois somos um curso onde há grande concentração de trabalhadores-estudantes, e que podem ter o Centro Acadêmico como referência para sua organização política.
Vimos, no decorrer da atual gestão, somente poucos debates e palestras que não responderam aos problemas estruturais da Universidade e muito menos da sociedade. Os estudantes vêem o CA como um órgão burocrático e inacessível. Como prova disso não há mais reunião semanal aberta. Vemos uma real importância do CAELL na organização estudantil e dos trabalhadores, por isso queremos chamar todos os estudantes que se identifiquem com essa reflexão crítica da sociedade, para uma reunião de discussão sobre a atuação no curso e, possivelmente, para a formação de uma chapa para o CAELL.