Sábado 20 de Abril de 2024

Mulher

A luta das mulheres precisa ir além do 8 de Março

Chamado à campanha pela incorporação das demandas das mulheres trabalhadoras

24 Mar 2007   |   comentários

O Dia Internacional da Mulher originou-se de uma homenagem às operárias têxteis norte-americanas que realizaram duras greves pela redução da jornada de trabalho e aumento salarial, e foram brutalmente reprimidas inclusive com a morte de operárias trancadas e queimadas por seus patrões em 1909. Se com o decorrer dos anos o Dia da Mulher passou a ser comemorado pelas mulheres de todas as classes, o fato é que sua origem traz à tona que apesar da opressão de gênero atingir é terrivelmente mais cruel e sentida quando se trata das mulheres trabalhadoras.

Hoje, o que vemos é que o capitalismo não foi capaz sequer de garantir a nós igualdade aos homens, ainda que formal. Pelo contrário, o capitalismo, como sistema de exploração e apropriação por parte da burguesia das riquezas geradas pelo trabalho da classe trabalhadora, nos condena às mulheres trabalhadoras a condições humilhantes de opressão do ponto de vista económico, moral e humano.

Para os capitalistas lucrarem mais é imprescindível que se mantenha e aprofunde a opressão e a discriminação (das mulheres, dos negros, dos índios), pois assim encontra maneiras de explorar ainda mais seu trabalho. Em decorrência da condição de subordinação socialmente imposta (e não natural como afirma a ideologia burguesa), a força de trabalho das mulheres é tida de forma ainda mais precarizada.

A entrada da mulher no mercado de trabalho só fez aumentar nossa exploração e opressão como trabalhadoras. Uma expressão disso é que ainda recebemos menos que os homens pelos mesmos trabalhos realizados. Esta realidade não é necessariamente um segredo. Há dados de diversas fontes que comprovam que nós as mulheres trabalhadoras nada temos a comemorar (para além da diferença salarial de até 43% menor em relação ao homem, compomos 70% da população abaixo da linha de pobreza e 2/3 dos analfabetos).

A constatação dessas condições de super-exploração, bem como de toda nossa opressão não pode ser um tema tocado apenas no dia 08 de março. Muito menos ter como luta concreta só a marcha do Dia das Mulheres. E para isso é necessário que todas as organizações que se colocam no campo da esquerda incorporem a luta pelas demandas das mulheres no seu dia-a-dia na base de cada sindicato, integrando-as à pauta de mobilização destes com a mesma importância com que defendemos reivindicações como o reajuste salarial. Somente quando as demandas das mulheres forem defendidas pelo conjunto dos trabalhadores em suas lutas é que estaremos dando passos significativos e concretos.

No Brasil a esquerda tem peso nos sindicatos e influencia setores importantes da classe trabalhadora. Isso faz com que a luta pelas demandas das mulheres trabalhadoras possa e deva ser incorporada desde já. A Conlutas, na qual o PSTU tem peso dirigente, e a Intersindical, em que este papel cabe ao PSOL, devem ser a ponta-de-lança desta luta. É por isso que chamamos as companheiras e companheiros que fazem parte destas organizações a impulsionarmos um movimento pela incorporação das reivindicações elementares das mulheres trabalhadoras em suas pautas.

- POR SALÃ RIO IGUAL ENTRE HOMENS E MULHERES QUE SEJA SUFICIENTE PARA SUSTENTAR UMA FAMÃ LIA

A disparidade de salários entre homens e mulheres é a expressão económica mais gritante da opressão à qual estamos submetidas no capitalismo. Portanto, lutar pelo fim dessa diferença é um ponto essencial na defesa de direitos enquanto trabalhadoras. Porém, não basta recebermos o mesmo salário de miséria dos trabalhadores homens. É necessário que este sirva para sustentar uma família, demanda básica de toda a classe trabalhadora. Em nosso caso isso assume uma importância vital, pois muitas de nós arcarmos sozinhas com o sustento da família. Por isso, é necessário que lutemos pelo salário mínimo apontado pelo DIEESE de R$ 1.565,61. Este é o mínimo necessário para garantir um sustento digno, e não uma soma surreal como querem fazer crer os patrões e a burocracia. Para esta luta, é essencial que nós trabalhadoras nos liguemos ao conjunto de nossa classe na luta por um salário mínimo decente.

- CONSTRUÇÃO DE CRECHES, RESTAURANTES COMUNITà RIOS EM CADA BAIRRO, LOCAL DE TRABALHO E PARA O FIM DA DUPLA JORNADA DE TRABALHO

A entrada da mulher proletária no mercado de trabalho não trouxe para nada a “independência” que a burguesia gosta de alardear que a mulher obteve no capitalismo. As mulheres burguesas podem pagar para que outras mulheres realizem o trabalho doméstico e cuidem dos seus filhos. Entretanto, para nós trabalhadoras isso significa uma dupla jornada na qual após cumprir de 08 a mais horas de trabalho, chegamos em casa e ainda temos que realizar todos os afazeres domésticos. Além disso, muitas vezes não temos aonde confiar nossos filhos enquanto trabalhamos fora. Precisamos exigir das empresas patronais que construam creches para que possamos deixar nossos filhos, bem como a construção de restaurantes e lavanderias comunitárias que permitam nos libertarmos às mulheres se libertarem da dupla jornada.

- ANTICONCEPCIONAIS PARA NÃO ENGRAVIDAR, PELO DIREITO AO ABORTO LEGAL, SEGURO E GRATUITO PARA NÃO MORRER

Em nome de uma pretensa “defesa da vida” milhões de mulheres, novamente em sua ampla maioria trabalhadoras e pobres, somos condenadas à morte fruto de abortos clandestinos. Em pleno século XXI é negado à mulher o direito a decidir sobre seu próprio corpo. É necessário que os sindicatos e organizações de esquerda encampem a luta para que o Estado garanta acesso a todos os contraceptivos de qualidade para não engravidarmos, e no caso de gravidez indesejada que nos seja também garantido o direito ao aborto legal (sem punição penal), seguro e gratuito com todos os medicamentos e acompanhamento médico e psicológico necessário.

- CONTRA O ASSÉDIO MORAL E SEXUAL NO LOCAL DE TRABALHO

A ocorrência de assédio moral e sexual no local de trabalho afeta milhares de mulheres, sobretudo as que realizam as funções menos qualificadas e ocupam baixos níveis hierárquicos. Os altos níveis de desemprego e a necessidade de sobrevivência muitas vezes fazem que as mulheres vítimas fiquem caladas, pois são ameaçadas de perderem seus empregos. As mulheres que denunciam vivem diariamente situações vexatórias e são discriminadas. Os assédios sofridos, seja moral ou sexual, são incentivados por aqueles que culpam as próprias mulheres, as vítimas desse abuso, por tais atos. É necessário que os sindicatos orientem as trabalhadoras e assumam sua defesa quando ocorrerem estes casos, exigindo a punição imediata dos agressores.

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