Quarta 24 de Abril de 2024

Na Contracorrente da História

Carta aberta aos membros do Partido Comunista

06 Sep 2005   |   comentários

Camaradas!

O Bureau do Comitê Central do nosso Partido acaba de vos dirigir uma carta sobre a luta contra os bolchevistas expulsos das fileiras revolucionárias.

Que é o atual Bureau do Comitê Central? Quais os "novos" dirigentes? [1] Como vêm eles atuando junto às organizações de base, junto ao Secretariado Sul-Americano da I C. e junto ao proletariado? É sabido que, há bem pouco tempo, era esta a composição social da "direção" do Partido do proletariado: um jornalista, um farmacêutico, um advogado, dois médicos, um guarda-livros e alguns elementos da chamada "aristocracia operária" [2] . Foi essa "direção" que, manejada pela "troika" desse tempo (o jornalista, o farmacêutico e o bacharel), cometeu toda a série de atentados ao marxismo que já se conhecem e que mal se confessam. Foi ela a autora da monstruosidade kuomintanguista e da "aliança política e ideológica" com os militares rebeldes, a que chamava "pequena burguesia revolucionária". Foi ela que lançou o órgão confusionista "A Nação" [3] por meio do qual namorava o então general Luiz Carlos Prestes, endeusando-o numa frente única com a imprensa burguesa oposicionista desse tempo, e até procurando seduzi-lo com a promessa de o colocar entre os maiorais da burocracia dirigente, no caso em que ele assinasse a papeleta da adesão ao Partido. Foi ela que, nas mesmas colunas de A Nação, estampou em ordem cronológica (a começar dos oito anos de idade) todas as fotografias existentes do "cavaleiro da esperança", encimando-as com estas palavras de simpatia e enternecimento: "O general de 29 anos" [4]. Foi ela, ainda, que enviou a Santos um dos intendentes operários, para este gritar bem pertinho de mim, aos meus ouvidos, que a massa trabalhadora ia ser guiada "pelo formidável general Luiz Carlos Prestes" [5] .

Em todo esse tempo, a velha beata da burocracia batia no peito, penitenciando-se, mas continuava a pecar "corrigindo" erros velhos com novos erros. E os que, em todo esse tempo, combatiam os seus desvios de libertina revolucionária, iam sendo expulsos, exatamente como agora, sob a pecha de "trânsfugas" e de "traidores". Exatamente como agora, os dirigentes bradavam: "nossa linha estava errada, mas já foi corrigida e é justa hoje".

Amanhã, a velha beata baterá novamente no peito, confessando seus pecados atuais ao papa Stalin. E este, depois de a chamar de "menchevista", como já chamou uma vez, dirá: "Em meu nome, no do ’kulak’ e no do aventureirismo: eu te perdóo ... ".

E a velha beata continuará a errar e a fazer safadezas. E os verdadeiros bolchevistas, os que lhe mostram os desvios no seu justo momento, continuarão a ser expulsos das fileiras revolucionárias, mas não antes de receberem nas costas o vómito amarelo da velha: "trânsfugas" e "traidores".

Foi essa mesma burocracia, que tanto infelicita o nosso Partido, a autora dos mais vergonhosos conluios com os conspiradores militares de todos os tempos (Isidoro, Protógenes [6] etc.), tudo à revelia das organizações de base. Foi ela que fez ingressar secretamente nas fileiras do Partido, ao mesmo tempo que expulsava militantes conscientes, um jornalista pequeno-burguês, diretor de um jornal pequeno-burguês do Rio de Janeiro, no qual "escrevia artigos" assinados, elevando às nuvens esse grande mistificador que é Maurício de Lacerda [7] (tudo isso em flagrante conflito com as decisões da III Internacional, e às escondidas, com completo desconhecimento das organizações de base).

Foi essa burocracia que, no Rio de Janeiro, expulsou uma célula (a 4R) [8], pelo simples fato de que seus membros, na maioria operários, "ousaram" expor as suas opiniões ao Partido. E foi essa mesma burocracia que mandou a São Paulo, como um grande "leader", naturalmente para "conquistar São Paulo" (resolução do III Congresso) [9] , um pequeno-burguês da pior espécie, um vendedor de santos e outras bugigangas a prestações, um inveterado explorador de proletários.

Mas, camaradas, seria muito longa a citaço de todos os erros, desvios, traições, hipocrisias e calúnias de que temos sido vítimas e de que tem sido maior vítima a grande massa trabalhadora. Vós estais no Partido, ainda não fostes expulsos; vós o sabeis. Apenas em virtude da idéia falsa da disciplina propagada pela burocracia, não ousais dizer abertamente, dentro das células, aquilo que estais sentindo. Vem a propósito uma citação de Lenine sobre disciplina revolucionária. Em seu livro "A doença infantil do comunismo", eis o que nos ensina o guia imortal do proletariado revolucionário:

"Em que se baseia a disciplina do partido revolucionário do proletariado? Como é controlada? Que é que a sustenta?

"Em primeiro lugar, o caráter consciente da vanguarda proletária, sua consagração à obra revolucionária, seu domínio de si mesma, seu espírito de sacrifício, seu heroísmo. Em segundo lugar, sua habilidade para aproximar-se da massa dos trabalhadores, da proletária sobretudo, mas também da massa NÃO PROLETà RIA, para ligar-se, para fundir-se, se quiserdes, até certo ponto com ela. Em terceiro lugar, a justeza da direção política seguida por essa vanguarda, o acerto de sua estratégia e de sua tática política, sob a condição de que as massas se convençam, por sua própria experiência, de semelhante acerto. SEM ESSAS CONDIÇÕES, NÃO Hà DISCIPLINA POSSà VEL NUM PARTIDO REVOLUCIONà RIO REALMENTE APTO PARA SER O PARTIDO DESSA VANGUARDA, QUE TEM QUE DERROCAR A BURGUESIA E TRANSFORMAR TODA A SOCIEDADE. SEM ESSAS CONDIÇÕES, TODA TENT ATIVA DE CRIAR SEMELHANTE DISCIPLINA SE REDUZ INEVITAVELMENTE A UMA FRASE VAZIA, A PALAVRAS, A CARETAS" [10].

Aí está a verdadeira concepção revolucionária de disciplina, sem a qual é impossível a vitória do proletariado sobre a burguesia. Se todas as células do Partido soubessem agir rigorosamente de acordo com os ensinamentos de Lenine, a existência da burocracia seria impossível.

Mas que é o atual Comitê Central? Foi ele na realidade proletarizado? Não. A resolução da I. C. sobre a proletarização dos quadros dirigentes não foi cumprida, ou mais exatamente: a "proletarização" foi feita mecanicamente. Quem o afirma não sou eu, mas o Secretariado Sul-Americano da I. C. (ver a crítica pelo mesmo publicada em "Justicia", órgão do Partido Comunista Uruguaio). Mas, no Brasil, além de mecanicamente, a "proletarização" só se fez em parte. Bem sabeis que ainda estão na "direção" um ou dois pequeno-burgueses do antigo Comitê Central. Nada se transformou. Houve apenas uma simulação de reforma: substituíram alguns pequeno-burgueses por operários de boa-fé que debilmente se deixam manobrar. Formalmente, no papel, e para informar ao Secretariado da I. C. - dirigem os operários; mas de fato, mexendo os pauzinhos por detrás das cortinas, são os mesmos pequeno-burgueses os que dirigem [11] . É natural: a crise é profunda e a desocupação é grande; cada um "se defende" como pode ...

Antes de prosseguir, uma pergunta: a "direção" fez chegar ao vosso conhecimento a crítica do Secretariado sobre a "proletarização" dos quadros dirigentes?

Outra pergunta: a "direção" fez chegar ao vosso conhecimento a resolução do mesmo Secretariado sobre o reingresso dos operários expulsos?

Uma terceira e última pergunta: a atual "direção" do Partido vos informou de que, enquanto ela vem tratando Luiz Carlos Prestes aos socos e pontapés, para que ele se "radicalize" mais depressa, o Secretariado mantém com o mesmo as melhores relações, por meio do que chama "ligação pela vértice", à revelia do Partido?

São perguntas inocentes, destituídas de qualquer maldade. Mas, por simples curiosidade, por que não interrogais a burocracia?

Vamos adiante.

Ê essa burocracia que em nada se modificou, mas que continua a ser o mesmo grupo "menchevista", como a qualificou a própria I. C.; é essa burocracia que vos ilude com um cinismo inaudito, para que contra ela não vos insurjais; é essa burocracia que vos mente da forma mais desbragada, que mente à I. C. e que mente ao proletariado; é essa burocracia que age com "diplomacia" junto ao Secretariado, conforme me disse, de viva voz, o mais graduado representante da I. C. na América Latina; é essa mesma burocracia que ora vos dirige uma carta enlameada de infâmias e de calúnias.

Esse triste documento há de ficar guardado em nossa consciência de revolucionários, como um atestado máximo da falta de caráter dos "dirigentes" e como um sinal da queda inevitável dessa burocracia que já principia a despencar de tão apodrecida.

Analisemos friamente a imoralidade do papelucho.

Que significa, senão a mais indigna das calúnias, a acusação de que eu estaria em São Paulo, a serviço de terceiros, para "colocar o proletariado e a massa camponesa sob a direção da pequena burguesia"? Por que não citam os caluniadores um só fato concreto, já não digo para demonstrar, mas para dar uma ligeira sombra de verdade a essa acusação tão falsa quanto imbecil?

Que significa, senão o mais evidente intuito de me entregar à polícia, a denúncia improcedente e mentirosa de que eu estaria em São Paulo "a serviço de Luiz Carlos Prestes"? [12] Por que não procuram logo Miguel Costa, para pedir-lhe mais diretamente os empreguinhos de agentes da Ordem Social, que tanto parecem cobiçar?

Camaradas do Partido!

A burocracia "dirigente" acaba de expulsar-me e o motivo da expulsão é o mesmo de que decorre todo o seu ódio, toda a trama de calúnias e de intrigas contra os verdadeiros bolchevistas: a convicção de que a sua queda é inevitável e resulta de sua falência ideológica e política. A oposição bolchevista-leninista de esquerda derrocará o aventurismo. O proletariado revolucionário e os operários conscientes do Partido começam a verificar as traições de que têm sido vítimas. Na Rússia Soviética, na Alemanha, na França e nos principais países do mundo, a oposição vai ganhando terreno, vivendo dentro do Partido, contra a linha oportunista dos ziguezagues à direita e à esquerda, na defesa dos ensinamentos de Marx e de Lenine!

Não vos deixeis levar pelos manejos da burocracia: derrocai-a.

A direção do Partido vos pertence. O futuro é vosso e do proletariado revolucionário.

Lutemos sem desfalecimentos pela expulsão dos traidores e oportunistas que nos mistificam! Lutemos pela restauração da liberdade de opinião nas fileiras de nosso Partido!

Pelo reingresso dos militantes arbitrariamente expulsos!

Por uma linha revolucionária e justa! Pelo centralismo democrático!

Viva a Revolução Proletária!

Viva a Internacional Comunista! Viva o Partido Comunista!

Viva a oposição bolchevista-leninista de esquerda! Abaixo a burocracia dirigente, aventurista, policial e lacaia.

São Paulo, 29 de dezembro de 1930

Documentos da Liga Comunista Internacionalista 1930 - 1933
Fúlvio Abramo e Dainis Karepovs (orgs.)

Aristides Lobo (4) Folheto impresso, 4 p.

[1Aristides da Silveira Lobo (1905-1968), professor e jornalista. Ingressou no PCB em 1923, no Rio de Janeiro. Após o II Congresso do PCB, é designado para atuar em São Paulo na qualidade de membro de seu Comitê Regional. Em 1928 é candidato pelo BOC (ver nota 6). A partir dessa época inicia um processo de ruptura. Exilado em 1930 para o Uruguai, passa depois para a Argentina onde, com Luiz Carlos Prestes, organiza a LAR (ver nota 15). Retorna ao Brasil em fins de 1930, quando é expulso do PCB. Fundador da Liga Comunista e membro de sua direção, tendo sempre destacado papel na formulação de suas linhas política e sindical. Muito ativo na União dos Trabalhadores Gráficos (UTG). Orador fluente, participava de quantas manifestações públicas e comícios se realizassem. Foi preso numerosas vezes. Em 1934, por discordar do enfrentamento armado com os integralistas na Praça da Sé, em 7 de outubro desse mesmo ano, e por ser contrário à entrada dos trotskistas nos partidos socialistas (a política do "entrismo"), cinde a Liga Comunista, juntamente com Victor de Azevedo Pinheiro, João Matheus e Raquel de Queiroz, formando outro agrupamento, que rompe com o Secretariado Internacional da Liga Comunista Internacionalista. Em 1937 reconsidera suas posições e retorna.

[2Referência à antiga direção do PCB, destruída por imposição do Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista, então composta por Astrogildo Pereira, jornalista (ver nota 39), Octavio Brandão, farmacêutico (ver nota 37), Paulo Paiva de Lacerda (1893-1967), advogado. Irmão de Maurício (ver nota 10) e Fernando de Lacerda, entra para o PCB em 1923. Chefia a delegação brasileira ao VI Congresso da Internacional Comunista em 1928. Preso várias vezes, em uma delas, em 1931, após a simulação de seu fuzilamento, perde a razão. Leóncio Basbaum (1907-1969), médico. Fundador e primeiro secretário-geral da Juventude Comunista. Participou do VI Congresso da Internacional Comunista. Após um relacionamento intermitente com o PCB, sai em 1957 criticando a ausência de consulta às bases nas decisões partidárias. Fernando Paiva de Lacerda. médico, irmão de Paulo e Maurício, foi um dos principais dirigentes do PCB e um dos responsáveis pelo "obreirismo" (ver nota 14). Foi delegado do PCB no VII Congresso da IC, em 1935. Permanece no exílio até 1944, quando retoma, defendendo o fechamento e fim do PCB, para não prejudicar o esforço de guerra do governo brasileiro. Naturalmente caiu em desgraça. Cristiano Coutinho Cordeiro (1896), contador e professor. Após passagem pelo anarquismo, adere ao marxismo, que, juntamente com seu primo Rodolfo de Morais Coutinho, ajuda a difundir em Pernambuco. Fundador do PCB, ’chega a ser seu secretário-geral durante dois meses em 1929. Expulso do partido em 1946. O ato foi anulado em 1979. Quanto aos elementos da "aristocracia operária", trata-se do gráfico Mário Grazzinl, do metalúrgico José Casini e do padeiro José Caetano Machado.

[3Em fins de 1926, o professor de Direito Leónidas de Rezende, proprietário de A Nação, oferece o jornal ao PCB. Com o fim do estado de sítio e a partir de 3.1.1927, A Nação passa a circular como órgão oficial do PCB, mantendo sua publicação diária até 11.8.1927, quando entra em vigor a "Lei Celerada", aprovada com o objetivo de reprimir o movimento operário. A través de suas páginas é lançada a idéia da constituição de um "Kuomintang" (partido burguês e nacionalista) brasileiro para que se desse curso a um processo semelhante ao que se desenrolava na China. A direção da III Internacional (ou Internacional Comunista) impós o ingresso do Partido Comunista Chinês no "Kuomintang", obrigando-o a seguir uma política de submissão a seu líder, o general (Chang-Kai-Chek (1885-1976), e que teve como trágico resultado o massacre quase total dos comunistas cm 1927. Essa política foi tenaz e fortemente combatida pela Oposição de Esquerda. Para a aplicação dessa linha foi determinado aos comunistas brasileiros fazer "aliança do proletariado com a pequena burguesia oprimida! O Brasil deve seguir o exemplo da China heróica!" (13.6.1927) e "Venha quanto antes o Kuomintang!" (11.7.1927). Essas são algumas das manchetes de A Nação, na época. Iniciada a discussão no partido, a proposta é aprovada com a oposição, apenas, de Joaquim Barbosa e Rodolfo Coutinho). Estava consasagrada a "aliança com a vanguarda revolucionária da pequena burguesia que encabeçara os movimentos revolucionários de 1922 e 1924". Fundamentada nessa concepção, é criada uma frente eleitoral destinada a agrupar estes setores sob a hegemonia do PCB, que tomou a denominação de Bloco Operário e Camponês - BOC. Acusado de seguir uma política burguesa e de tentar sobrepor-se ao PCB, o BOC é extinto após as eleições de março de 1930. Em fins de 1927, Astrogildo Pereira (ver nota 39) é enviado ao Uruguai para iniciar conversações com Luiz Carlos Prestes (ver nota 7). O encontro resultará, muito mais tarde, durante os anos 30, na entrada de Prestes e de vários "tenentes" no PCB. Eles terão participação ativa no putsch de novembro de 1935.

[4Luiz Carlos Prestes (1898), militar e dirigente partidário. Líder da coluna de insurretos que cruzou o país de 1924 a 1927 e que levou seu nome. A partir de 1928 mantém contatos com o PCB, ao mesmo tempo em que este atacava o "prestismo". Vai para a URSS em 1931, em 1934 é finalmente admitido no PCB por imposição da Internacional Comunista. Eleito membro da Comissão Executiva da IC em seu VII Congresso, em 1935, ano em que dirige o fracassado putsch. Preso em 1936, passa nove anos em isolamento quase completo e é libertado em 1945 com a concessão da anistia. In absentia é eleito secretário-geral do PCB (1943), permanecendo na função até 1980. A referida matéria foi publicada em Nação de 3.1.1927.

[5Referência a Octavio Brandão (ver nota 37).

[6Alusão aos contatos mantidos em 1923, com o general lsidoro Dias Lopes (1865-1949), e em 1924, com o almirante Protógenes Pereira Guimarães (1876-1938), com vistas à participação do PCB nas conspirações militares dirigidas por estes altos oficiais.

[7Maurício Paiva de Lacerda (1888-1959). Jornalista e político. Irmão dos dirigentes comunistas Paulo e Fernando de Lacerda (ver nota 5), destacou-se por sua atuação parlamentar como oposicionista aos governos da República Velha desde 1912. Apóia a Aliança Liberal, mas, com os rumos tomados pelo regime oriundo do movimento de outubro de 1930, inicia um processo de afastamento que o levará a apoiar a Aliança Nacional Libertadora, porém mantendo-se distante do PCB. Preso após o putsch de novembro de 1935, é absolvido das acusações em 1937 .

[8A célula 4R era composta de gráficos do jornal conservador O Paiz. que criticavam a linha sindical do PCB e o seu "exibicionismo revolucionário".

[9Em seu III Congresso, realizado de 29.12.1928 a 4.1.1929. em Niterói, um ponto de suas resoluções apontava para a situação do PCB em São Paulo: "Outro ponto fraco do Partido é o de nossa situação em São Paulo. Não é justo culpar somente os camaradas dali pelo quase nulo resultado do trabalho comunista numa cidade da importância de São Paulo. Esta debilidade tem causas políticas objetivas que é preciso examinar a fundo para aplicar-lhe o reconstituinte necessário. O III Congresso tomou a este respeito algumas medidas práticas de aplicação imediata, incumbindo ao novo CC de proceder ao estudo aprofundado da situação paulista para então traçar tarefas definitivas e enérgicas para o partido naquela Região. ”˜À conquista de São Paulo’ - tal a palavra de ordem lançada pelo III Congresso".

[10O negrito é meu - Aristides Lobo. (Nota do original.)

[11Após permanecer o ano de 1929 na URSS, Astrogildo Pereira retorna com a diretiva, entre outras, de "proletarizar" o PCB, ou seja, "diminuir" a influência da pequena burguesia nas fileiras e na direção do Partido. A "proletarização" transforma-se em "obreirismo": sob influência direta do Bureau Sul-Americano da III Internacional, a antiga direção é praticamente toda afastada, sendo substituída por elementos que tinham como única qualificação o fato de serem "operários". Na verdade, este processo, que foi liderado por Fernando de Lacerda (ver nota 5), serviu para atrelar definitivamente o PCB aos ditames oriundos da Internacional Comunista.

[12Aristides Lobo, juntamente com Emídio da Costa Miranda (19021981) e Silo Furtado Soares de Meirelles (1900-1957), participa da direção da Liga de Ação Revolucionária (LAR), fundada em julho de 1930, em Buenos Aires, sob a liderança de Luiz Carlos Prestes (ver nota 7). Criada com o objetivo de ser o "órgão técnico de preparação para o desencadeamento da revolução agrária e antiimperialista", foi muito criticada pelo PCB, que a via como "um partido político que luta contra o PC". Dissolvida logo após a vitória do movimento de outubro de 1930. Provavelmente, não sabendo do fim da LAR, a direção do PCB, por isso, apresenta Aristides Lobo "a serviço de Prestes". Miguel Alberto Crispim da Costa Rodrigues (1874-1959), militar. Um dos líderes da Coluna Prestes. Apóia a Aliança Liberal (ver nota 17) e sob a interventoria de João Alberto Lins de Barros (ver nota 20) é nomeado Secretário de Segurança Pública. Funda a Legião Revolucionária (ver nota 71). Afasta-se do regime de Getúlio Vargas. Em 1935 integra a Aliança Nacional Libertadora, sem se aproximar do PCB.









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