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Bush na América Latina: mãos vazias e repúdio das massas

24 Mar 2007   |   comentários

Em meio ao crescente repúdio ao seu governo, tanto internamente como no mundo, Bush esteve na América Latina, região que após o Oriente Médio tem sido um bastião do rechaço ao imperialismo. A visita incluiu desde países de governos abertamente pró-imperialistas, como é o caso da Colómbia de à lvaro Uribe e do México de Felipe Calderón, como os de retórica “progressista” e prática social-liberal, como o Uruguai de Tabaré Vázquez e Lula no Brasil, além da Guatemala. Este giro do desgastado presidente norte-americano tinha objetivos claros: tratava-se de uma tentativa de reverter a debilidade relativa das vias de dominação do imperialismo sobre o seu quintal no cone sul, se utilizando para isso de uma postura pretensamente mais “moderada” e “aberta ao diálogo” .

Pretensamente porque na prática, Bush não acenou com nenhuma concessão ou acordo concreto que pudesse favorecer os interesses das burguesias das semicolonias. O acordo do etanol discutido com Lula é um exemplo, já que se resumiu em desenvolver pesquisas de biocombustíveis tendo em vista os mercados latino-americanos, enquanto as taxas protecionistas que impedem o etanol brasileiro de entrar no mercado norte-americano não foram tocadas. E isto no que diz respeito ao tema mais sério, já que propostas como a construção de um “navio hospital” foram alvo de chacota por parte de diversos analistas burgueses, enquanto outros lembravam que o montante de dinheiro oferecido aos países da região para programas assistencialistas é inclusive inferior ao fornecido anteriormente.

Apesar de não economizar no cinismo deslavado de seu novo discurso, no qual afirmou que “os trabalhadores e camponeses latino-americanos tem nos Estados Unidos um amigo que se preocupa por sua difícil situação” (bem o sabem os imigrantes ilegais que têm que atravessar a fronteira fruto do saque a que seus países são submetidos pelo imperialismo), Bush não conseguiu convencer ninguém. Mais ainda, pode-se dizer que o resultado de sua visita foi um fracasso total. Por onde passou Bush, levou uma maré de tensões políticas. Um exemplo é o próprio Uruguai em que o ministro do interior, José Díaz, pediu a renúncia por não ter sido consultado sobre o arsenal bélico levado ao país para proteger Bush.

No que diz respeito às massas o repúdio à Bush e ao imperialismo fez com que milhares de pessoas se manifestassem em todos os países por onde o presidente norte-americano esteve, em muitos com enfrentamentos com a polícia, como foi o ato realizado em São Paulo. Assim, torna-se claro o motivo das reclamações dos jornais burgueses de que Bush veio à América Latina de mãos vazias, pois num contexto em que este se encontra tremendamente repudiado é necessário que ofereça ao menos alguma migalha para que valha a pena às burguesias das semicolonias, suas sócias-menores, enfrentarem-se com o rechaço que este apoio desperta nas massas.

Lula abre os braços para receber o amo imperialista

A vinda de Bush ao Brasil explicitou de maneira ainda mais aguda o servilismo de Lula em relação ao imperialismo. Após ter se utilizado de todo uma demagogia “anti-privatista” para se reeleger, Lula demonstra que mesmo sem nenhuma pressão está disposto em avançar no atrelamento ao imperialismo, ainda que isso possa levar a um desgaste em sua legitimidade no plano interno. Para receber Bush, a cidade de São Paulo transformou-se numa fortaleza sitiada, e Lula com o apoio do governo do Estado não economizou esforços para que o desgastado presidente norte-americano se sentisse “seguro” , gerando um grande descontentamento na população.

Por outro lado, apesar do encontro não ter tido nenhum resultado concreto do ponto de vista económico, politicamente tratou-se de um aprofundamento na relação de Lula com o imperialismo. Isto porque a visita de Bush ao Brasil tinha como objetivo claro transformar Lula no principal mediador do imperialismo na região. Para tal, Bush busca utilizar-se do peso que o Brasil tem regionalmente e do resto de referência que Lula ainda mantém frente às massas do continente, apesar de na prática este ser um grande aplicador dos ataques neoliberais. Frente a isso, apesar de não se tratar de uma aliança estratégica nos moldes da estabelecida em 1940 entre Getúlio Vargas e os EUA de Roosevelt, a resposta de Lula aponta para uma disposição maior em cumprir mais abertamente o papel designado pelo imperialismo. Prova disso é o encontro marcado para o dia 31 deste mês em Camp David entre os dois presidentes, que não se sabe se terminará em algum avanço em acordos económicos, mas que provavelmente servirá como mais uma reafirmação da “relação privilegiada” entre os dois governos.

Além disso, Lula segue com a assassina ocupação no Haiti, cumprindo mais uma vez as ordens do patrão imperialista, enquanto no plano interno acelera os ritmos dos ataques anunciando sua intenção de restringir o direito à greve de setores “essenciais” , além de uma série de outras ações que visam retirar direitos dos trabalhadores. Estes fatores demonstram que ao contrário do que tentavam defender dirigentes do PT de que seria possível ser antiimperialista e ao mesmo tempo apoiar o governo, Lula segue firme em seu atrelamento com o “companheiro” Bush, mesmo num momento em que este se encontra enfraquecido. Com isso, torna-se cada vez mais claro que o fato de Lula ter recebido Bush de braços abertos e ter anunciado seus planos de desferir internamente ataques de proporções históricas aos trabalhadores brasileiros não é mera coincidência.

É necessário que as organizações de esquerda anti-governista atuem no sentido de transformar o repúdio ativo dos milhares, e passivo dos milhões, aos planos impostos pelo imperialismo e aplicados por Lula em ações efetivas para barrar estes ataques. Isto passa tanto pela luta contra a política pró-imperialista de manutenção das tropas brasileiras no Haiti, como pela defesa do direito elementar de greve no Brasil e por um programa operário de saída para a crise, que responda as demandas da classe trabalhadora e faça com que esta se mobilize e passe à ofensiva dando uma resposta a todos os setores explorados e oprimidos da população.

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