Sexta 19 de Abril de 2024

Movimento Operário

GREVE DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO

Burocracia da Apeoesp trai greve para defender o governo Haddad

29 May 2013   |   comentários

O argumento mentiroso de Bebel e da burocracia sindical para encerrar a greve era de que o governo, através do secretário Herman, havia atendido ao pedido de negociação e que esta representava uma conquista. Mas longe de ser uma negociação de fato, este acordo não atendeu centralmente nenhuma das pautas: foi descaradamente firmado entre PT e PSDB para acabar com a greve e impedir a unificação entre professores do estado e do (...)

Mais uma vez, a categoria de professores do estado de São Paulo mostrou sua disposição de luta contra a política de precarização da educação e do trabalho docente do governo tucano (Alckmin), que já está há 15 anos no poder. Foram 3 semanas de greve com assembleias e na Av. Paulista, seguidas de atos de quase 15 mil até a praça da República, com uma qualidade distinta da última grande greve de 2010: teve a participação com maior peso dos professores precários “categoria O” que sofrem com contratos temporários, direito limitado de faltas, sem direito de acesso ao hospital do servidor público do estado (IAMSPE) e obrigados a fazer uma prova todo ano, além de serem obrigados a ficar 40 dias sem vínculo empregatício com o estado. Mesmo se enfrentando com os assédios morais das direções nas escolas e as ameaças de corte de contrato assumiram a linha de frente, inclusive em escolas onde foram os únicos a entrar em greve. A pauta tinha com centralidade a aplicação da jornada de 1/3 de atividades extra-classe (parte da lei do piso nacional), a reposição salarial de 37% e os direitos dos professores categoria O.

Esta não foi uma greve fácil, pois apesar do apoio do conjunto dos professores à greve a adesão não foi grande devido aos últimos anos de ataques por parte do governo e à desconfiança na direção majoritária do sindicato (Artisind/Artnova- PT-CUT e PCdoB), que, com suas traições, há anos produziu uma profunda desmoralização na categoria quanto à força de sua mobilização. O último exemplo disso foi a greve de 2010 que a burocracia usou para desgastar o governo Serra como parte da campanha eleitoral de Dilma-PT, deixando de lado, mais uma vez, as reivindicações da categoria e ainda aceitando a punição aos grevistas com o corte de ponto.

Esta greve no início atendia ao chamado da greve nacional da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação), que tinha como pauta central a aplicação da lei do piso nacional, mas desde o início a burocracia da Apeoesp mostrava que não construiria de fato a greve. Porém, um setor ativo de professores se mobilizou, na contracorrente da desmoralização em que a burocracia jogou o conjunto da categoria, e construiu a greve em suas escolas e regiões. Assim como lutaram pela unificação com a greve dos professores da rede municipal de SP – contra os interesses de Bebel e toda a burocracia da Apeoesp que mais uma vez trairia a categoria, agora para preservar o prefeito Haddad, do PT (partido de Bebel, ArtSind e ArtNova), de seu primeiro desgaste ao não cumprir o acordo salarial firmado por Kassab com os professores municipais, deixando claro como o governo Haddad atuaria como os tucanos e Maluf contra a categoria e a educação pública e gratuita. A burocracia da Apeoesp dizia que “as greves não poderiam se unificar porque cada uma tinha a sua própria pauta”, mostrando como é inimiga da unificação dos professores estaduais e municipais, principalmente quando se trata de defender “seu governo” (Haddad) e “seu partido” (PT). Os burocratas do PCdoB, aliados de Bebel e do PT nos governos federal e municipal, cumpriram à risca seu papel de traidores de greves. A burocracia contou, ainda, com o triste papel da corrente do PSOL (Apeoesp na Escola na Luta) que esteve contra a greve desde o início – não declarando para “não se queimar” – e, conseqüentemente, no dia 10 esteve ao lado de Bebel, fervorosamente defendendo o fim da greve e defendendo este acordo espúrio, ainda com a cara-de-pau de tentar “convencer” a oposição a “rever sua posição” e defender o fim imediato da greve.

Esta unificação poderia virar um importante movimento pela educação pública e gratuita com repercussão nacional. Antes que isso pudesse ocorrer, Bebel e Cia. fizeram um acordo com o governo Alckmin, e encerraram a greve através de uma grande traição contra a decisão de 80% dos professores que votavam a favor da continuidade da greve, o que causou grande revolta entre os professores presentes, resultando na incrível cena de Bebel e toda a burocracia recorrendo aos “préstimos” da PM (parte do acordo com Alckmin?) para se proteger da raiva dos grevistas que se sentiam covardemente traídos mais uma vez. Bebel, literalmente, saiu escoltada pela polícia, a mesma que reprimiu e reprime brutalmente os professores em greve, deixando claro a que ponto estes burocratas da CUT chegaram em sua passagem para o lado dos “neoliberais” que sucateiam a educação pública e gratuita.

Um acordo que nada garante, apenas garantiu o fim forçado da greve para isolar os professores municipais deixando-os à mercê da intransigência e ameaças de Haddad

PT e PSDB vêm se mostrando cada vez mais “parceiros” em algumas políticas para garantir, cada um, a parte do bolo da maior cidade e estado mais rico do país. Um dia antes da assembléia do dia 10/05, Dilma empossava como ministro da secretaria das Micro e Pequenas Empresas Guilherme Afif Domingos, vice-governador do estado de SP e membro do partido de Kassab, e ainda recebeu elogios de Alckmin em evento no Palácio do Planalto, onde ele disse que Dilma "é uma grande presidenta que trabalha muito pelos paulistas, por todos os Estados e pelo Brasil". Assim vimos que ambos partidos estão dispostos a fazer acordos para atacar a classe trabalhadora e defender seus interesses, e a burocracia sindical do PT-CUT e do PCdoB-CTB se colocam a postos para trair as lutas e defender “seus” governos e partidos, em busca de cargos e privilégios, utilizando a corrupção deslavada como temos visto nos governos Lula e Dilma.

O argumento mentiroso de Bebel e da burocracia sindical para encerrar a greve era de que o governo, através do secretário Herman, havia atendido ao pedido de negociação e que esta representava uma conquista. Mas longe de ser uma negociação de fato, este acordo não atendeu centralmente nenhuma das pautas: foi descaradamente firmado entre PT e PSDB para acabar com a greve e impedir a unificação entre professores do estado e do município, deixando esses últimos à própria sorte para serem derrotados pelo governo petista (Haddad), que não se furtou em ameaçar cortar o ponto dos grevistas, coisa que somente Maluf fez até hoje no município. A unificação – tão desejada pelos professores estaduais e municipais – teria sido uma força imensa tanto para enfrentar o governo Alckmin quanto Haddad, abrindo as portas para, desta vez, impor nossas reivindicações e retomar a linha de frente da luta em defesa da educação pública e gratuita, combatendo os planos capitalistas dos governos (tucanos e petistas) que pretendem arrochar os professores e entregar a educação para os empresários. Por isso, por também não defender a educação pública e gratuita, Bebel e Cia. tudo fizeram para impedir essa unificação.

Não conseguimos um 1/3 da jornada extra-classe e muito menos nosso verdadeiro reajuste salarial. Mesmo a pauta defendida pela burocracia de transformar os professores categoria O em F não foi atendida. Nem sequer o direito aos professores categoria O de usar o hospital do servidor se conquistou. Agora, a própria direção da Apeoesp publica em seu “Fax Urgente” (28/05) que o governo não assinou nem garantiu nada, tudo será “estudo” e “vontade” para, no máximo, gerar projetos de lei que dependerão dos corruptos deputados estaduais e da “boa vontade” de Alckmin. Está mais do que claro: Bebel, como boa burocrata, mentiu para a categoria, encerrou a greve na marra e nada do que diz haver “negociado” está garantido.

Por que a Apeoesp, encerrada a greve, ataca com tanta ferocidade a oposição?

Logo após enterrar a greve, a direção majoritária do sindicato (Bebel, ArtSind, ArtNova e PCdoB) saiu aos quatro cantos denunciando o PSTU e o PCO como os grandes arquitetos da “triste ação dos derrotados” (como diz no boletim “Unidade pra valer” da chapa 1 de maio de 2013), em várias notas assinadas pela presidenta e também como declaração oficial do sindicato. Nesse último, dizia que na assembleia havia “pessoas embriagadas, alteradas, estudantes e professores municipais infiltrados votando”, e que essas é que foram as responsáveis pela “baderna”, justamente para negar aos professores que não estavam na assembleia que foram os professores da base que se encontravam lá que não queriam aceitar a traição. E, numa atitude criminosa, expõe em seu boletim fotos de vários professores, de correntes e também independentes, imputando a estes delitos forjados, descritos nas legendas das fotos. Esse é o método da burocracia que está contra não somente os professores do estado, mas está contra a própria organização política dos trabalhadores, uma vez que faz o serviço de deduragem para o governo do estado e para a polícia, ou seja, para os nossos inimigos de classe.

A burocracia ataca e mente porque teme que esse sentimento radicalizado de um setor da base que foi vanguarda da greve se torne um exemplo, para todos os professores que passivamente desconfiam e têm raiva desta burocracia, de combate à burocratização do sindicato.

A burocracia ataca o PSTU para impedir que cresçam os sentimentos e ações antiburocráticas da base, e também para que a Oposição, a despeito das suas debilidades e impotências, possa capitalizar estes sentimentos antiburocráticos, visto que neste ano terá congresso e no ano seguinte eleição no sindicato.

Por uma organização verdadeiramente da base para tomar a Apeoesp das mãos desta burocracia vendida

A burocracia faz deste sindicato um grande aparato burocrático para favorecer seus interesses ligados aos interesses do PT. Para esta burocracia os sindicatos não podem ser verdadeiramente democráticos, ou seja, controlados pelos professores e não por falsos representantes (REs e CRs) que, em grande parte, nas greves, nada organizam e ainda furam greves. Todas as instâncias deste sindicato foram burocratizadas, mantendo “formas” democráticas mas, em sua essência não passam de aparatos a serviço dos privilégios dos burocratas e contra os interesses da categoria e do conjunto da classe trabalhadora. Não por menos este sindicato, assim como a CUT – a qual está filiado –, está completamente atrelado aos governos capitalistas do PT e em aliança com o mais reacionário da política burguesa (Sarney, Collor, Maluf, Kassab etc.).

Nesta greve, nós da corrente Professores Pela Base, buscamos intervir na defesa de uma real organização na base, pois partimos da concepção de que os professores devem ser sujeitos de sua luta, decidindo tudo, confiando em suas próprias forças e submetendo os dirigentes às suas decisões soberanas. Lutamos por um sindicato sem burocratas, sem partidos patronais e sem governos. Portanto, uma Apeoesp democrática, classista e combativa. Para isso, como mais uma vez se viu nesta greve, é imprescindível construir um amplo movimento antiburocrático, unificado pelo programa de retomar a Apeoesp para a luta contra os governos capitalistas, os partidos patronais e a exploração capitalista, único caminho para lutar seriamente pela educação pública e gratuita em unidade com toda a classe trabalhadora. Um sindicato independente do Estado e suas instituições, que unifique todos os professores e funcionários das escolas. A oposição, com o PSTU à frente, por seu peso e tradição na categoria, está chamado a assumir a responsabilidade de construir este movimento antiburocrático, e para isso também necessitará superar sua política impotente para ser uma verdadeira alternativa democrática, combativa e classista na Apeoesp.

Alguns exemplos de nossa atuação em defesa da democracia operária

Na Zona Norte atuamos com vários professores de distintas escolas na construção de comandos de greve que fossem verdadeiramente democráticos representando a base, e construímos dois atos regionais, um antes de iniciar a greve dos professores municipais e posteriormente com a centralidade da unificação. Junto a professores do estado e município construímos comandos unificados e passávamos em escolas de ambas redes.

Na Zona Oeste também construímos um comando de greve com professores de várias escolas e dois atos regionais, sendo um deles construído em aliança com os alunos da EE Prof Architiclino Santos ("Verdão"), que em assembléia paralisaram as aulas em apoio a greve dos professores, assim como também fizeram atos em várias regiões do estado . Estamos impulsionando uma campanha contra a demissão do professor Rafael de Sociologia, categoria "O” , que teve sua quebra de contrato, sendo uma clara política de retaliação por parte da direção da escola corroborando com os ataques a burocracia sindical contra os professores que foram vanguarda nesta greve.

Em Santo André junto ao grupo Renovar pela Luta (dirige a subsede) participamos do comando de greve com vários professores de diferentes escolas da região, incorporados ao comando no processo de luta passando em diversas escolas e fazendo reuniões na subsede debatendo temas como a situação dos professores categoria O e a luta necessária contra a precarização. Construindo assembléias e atos regionais com o intuito de chamar a população a se incorporar a luta dos professores estaduais, com a presença de setores como o MTST.

Em Campinas, junto a professores de escolas da região do DIC (Distrito Industrial de Campinas) e Ouro Verde construímos um ato em frente-única votado à partir de uma reunião com pais e alunos da escola Eduardo Barnabé, onde estiveram presentes pais, alunos, professores e funcionários e organizações políticas como PSTU, LOI, Conspiração Socialista e a direção da subsede ARTNOVA, que sedeu o carro de som para divulgação do ato. O microfone estava aberto a todos, diferentemente dos atos dirigidos pela burocracia. Estivemos também presentes em um grupo de professores no acampamento dos operários da fábrica MABE (linha branca) na região do DIC que lutam pelo emprego, levando nossa solidariedade de classe e fomos muito bem recebidos mostrando a importância da unidade da classe trabalhadora na luta contra os governos e patrões.

Governo Haddad e a demagogia petista contra os educadores da prefeitura em greve

Paula Litcha, professora do município e do estado de São Paulo (Zona Norte)

Os educadores municipais de São Paulo entraram em greve no dia 03 de maio desse ano. Isso graças ao Fernando Haddad/PT, que trouxe a dureza do neo-liberalismo típico de FHC para a cidade de São Paulo: veto ao acordo de greve assinado em 2012 e precarização da educação infantil (juntando crianças de 2 a 5 anos). No dia 21/05, não satisfeito em gastar milhões numa campanha mentirosa na TV para colocar a população contra a greve, o prefeito não aceitou negociar o pagamento dos dias parados. Desde a prefeitura de Jânio Quadros (entre 86 e 89),o corte de ponto dos grevistas não acontecia na cidade de São Paulo - Maluf falhou ao tentar fazer o mesmo. Esse ataque histórico seria correlato ao que aconteceu no magistério estadual em 2000. Mario Covas cortou o salário dos professores, desmoralizando a categoria e abrindo a temporada de duros ataques à educação no estado. Em 24/05, depois dos atos em todas diretorias regionais de ensino, caminhadas, conversas com a população, faixas por cada escola e bastante ativismo também online com vídeos explicativos e anti-haddad, o prefeito recuou. Negociou o pagamento dos dias parados, a implementação do acordo de greve de 2012, o pagamento de JEIF(gratificação) em 2014 aos professores que corriam o risco de perdê-la, dentre outros. Isso mostra como os ativistas de esquerda e intelectuais (especialmente da USP) estavam errados ao organizar atos de apoio à candidatura de Haddad em nome do suposto “progressismo”, que na verdade é parte da pura demagogia petista. Alguns deles inclusive entraram no governo, uma especificamente, Leda Paulani (professora da FEA-USP) foi pessoalmente a porta voz do governo na comissão de negociação que negou o acordo de greve. Ao final, os trabalhadores da educação aprenderam na prática quem é esse governo. A imagem dissipadas entre os educadores e o conjunto da população sobre o PT ser o partido que governa para os pobres é mais uma vez destruída. Esse é o Partido dos Trabalhadores à serviço da burguesia racista, elitista e semi-colonial brasileira. Quem paga a banda, escolhe a música. E vide a caríssima campanha eleitoral patrocinada pelos grandes monopólios nacionais junto aos bancos e elite paulistana (Votorantim, Itaú e OAS são alguns exemplos), o governo municipal de Haddad nada mais é do que um balcão de negócios à serviço da burguesia.

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