Sábado 20 de Abril de 2024

Nacional

Bolsonaro, PP e PT: declarações de estupros num dia, apoio político em outro

10 Dec 2014   |   comentários

O PP de Bolsonaro é um dos principais partidos da base aliada do governo, com o qual o PT trabalha em diversas matérias no Congresso. Assim como com Feliciano, tal caso é ilustrativo de como o PT lida com as questões relacionadas aos direitos das mulheres. Mais um absurdo que terminará em "pizza".

Nesta semana, nos deparamos com mais um dos absurdos que apenas o Congresso Nacional pode nos dar.

Em determinada sessão da Câmara, após discurso da ex-ministra dos direitos Humanos – Maria do Rosário – sobre a Comissão Nacional da Verdade, que, recentemente, encerrou seus trabalhos, o deputado do PP Jair Bolsonaro, conhecido por sua defesa da ditadura militar e pronunciamentos homofóbicos e racistas, afirmou o absurdo de que não a “estupraria, pois ela não merece”.

Esta declaração é, na verdade, uma reafirmação das mesmas afirmações machistas e que legitimam a prática do estupro ditas a Maria do Rosário em 2003, quando de um bate-boca sobre os direitos humanos e a ditadura militar, num caso que, em rede aberta de televisão, não apenas se mostrou o bate-boca, como agressões e empurrões por parte de Bolsonaro.

Em 2003, ainda não tão conhecido quanto ficou a partir de 2010 e 2011, como um dos mais alucinados defensores de uma política homofóbica e pró-ditadura, nenhuma medida efetiva foi tomada contra Bolsonaro.

Hoje, apesar das reações nas redes sociais e a articulação de deputados do PT, PSB, PCdoB e PSOL que pedem a cassação do mandato, entrando com uma representação contra o Deputado, tudo indica que o caso vai terminar em “Pizza”, uma vez que o Congresso entra em recesso neste dia 23 e no dia 31 as representações são arquivadas. Se algo for discutido, deverá ser apenas no ano que vem.

Se tudo aponta para uma indignação momentânea e, posteriormente, o arquivamento de mais esta declaração de um assumido defensor da tortura e da ditadura militar, isto não é uma coincidência.

Bolsonaro foi, neste ano, o deputado mais votado no estado do RJ, com quase 500 mil votos, rumando para seu sétimo mandato em nome da luta contra os direitos LGBT, contra a apuração e punição dos torturadores, contra cotas raciais e os direitos das mulheres.

Muitas vezes colocado na posição de “caricatura” de troglodita, Bolsonaro, na realidade, não é apenas isto: tanto arregimenta votos de um setor enormemente conservador, como faz parte de um partido herdeiro direto da ditadura militar, o PP (Partido Progressista), de Paulo Maluf, ex-governador biônico durante a ditadura.

PP é parte da base aliado do governo petista

Tal partido, junto de outros como PR, PMDB, PCdoB, é, no entanto, um dos partidos da base aliada do governo, com o qual o PT trabalha em diversas matérias no Congresso Nacional e no Senado, numa contradição que já ficou clara em eleições como a de Haddad em São Paulo e em diversas ocasiões nacionalmente, em que os Líderes do PT aparecem aos “agrados” com Maluf e outras figuras do PP.

Se levarmos em conta a importância de Bolsonaro para o PP, com seus milhares de votos nas últimas eleições e a crise que se implanta na base aliada do PT, com divisões dentro do PMDB, PSD e PP – como se viu no recente caso da meta fiscal – e o recuo de número de deputados e senadores que tiveram em 2014, fica mais claro porque mais este “Caso Bolsonaro” vai ser arquivado e não haverá nenhuma punição a suas boçalidades.

Ou será que o PP aceitará perder no Congresso seu deputado mais votado? E o PT está disposto, por uma declaração, a bancar um choque possivelmente explosivo com um dos partidos aliados, num momento tão delicado de ajustes e cortes como será 2015?

Tal caso não apenas é ilustrativo de como o PT lida com as questões relacionadas aos direitos humanos, frequentemente retiradas ou “moderadas” em seus programas eleitorais e nos projetos de lei para agradar as bancadas “da bala” e “dos pastores” e se aliar com o que há de mais grotescamente reacionário e conservador. Também demonstra a podridão desta democracia dos ricos.

Todos os partidos capitalistas demonstram – em sua troca de apoio por cargos, caixas-dois, arquivamento de processos em nome de suporte político no congresso (como tudo indica será o caso de Bolsonaro), compra de apoio por dinheiro – como o Congresso e esta democracia são nada mais do que um “balcão de negócios” em que, buscando seus privilégios e de suas empresas financiadoras, negociam os direitos dos trabalhadores pelos preços mais convenientes.

Apenas com a organização independente dos LGBT, das mulheres, negros e trabalhadores será possível retirar definitivamente da política e punir as declarações criminosas de Bolsonaro, assim como arrancar definitivamente os direitos tão necessários destes setores que hoje são “moeda de troca” nas mãos de PT e PCdoB em nome de uma “governabilidade” que nunca beneficia o povo, mas sempre os conservadores e grandes empresas.

Enquanto lutamos para erguer este movimento, tudo indica que, neste caso, com Bolsonaro à frente de mais uma declaração violenta, machista, criminosa e que provavelmente ficará sem resposta, para alguns “corações valentes”, vale mais um Bolsonaro na mão, do que um PP voando longe....

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