Sexta 19 de Abril de 2024

Nacional

As tarefas do momento

11 May 2003   |   comentários

O agravamento do sofrimento do povo com o aumento do desemprego, arrocho salarial e o aumento do custo de vida abrem condições para que os trabalhadores se mobilizem para lutar por suas reivindicações mais sentidas. A própria massiva votação em Lula nas últimas eleições expressa esse desejo de mudança. No entanto, atualmente, as maiorias da classe trabalhadora, dos camponeses sem-terra e do povo pobre depositam no governo Lula a expectativa de satisfazer minimamente suas demandas. Além disso, nas fábricas, nos bairros e no campo confiam nas direções burocráticas que hoje estão atreladas ao governo nacional. Como fazer para que os trabalhadores e o povo se organizem e se unifiquem de forma independente daqueles que hoje sustentam sua situação de miséria e exploração, para que desta forma possam sobrepor seus interesses aos interesses da burguesia?

Hoje, os metalúrgicos, os servidores públicos e os sem-terra têm expressado mobilizações e vontade de luta frente aos ataques como a reforma previden-ciária, ao aumento do custo de vida subproduto da inflação e à miséria no campo. Como fazer com que essas lutas triunfem e se generalizem para os demais setores oprimidos da população? Como fazer para que estas lutas se transformem em lutas ofensivas em defesa de salários dignos e emprego para todos?

A primeira tarefa é retirar o controle dessas lutas das mãos das burocracias sindicais e colocá-las sob o controle dos próprios trabalhadores. Para conquistar esse objetivo é necessário impulsionar a auto-organização dos setores em luta em organismos independentes da burocracia sindical, dos patrões e do governo; organismos estruturados em corpos de delegados eleitos em cada setor da produção com mandatos decididos em suas bases e revogáveis por aqueles que os elegeram. Esses organismos devem se constituir como organismos de expressão da vontade coletiva dos operários em contraposição à vontade dos patrões. Deve ser o organismo através do qual se expressem os setores mais oprimidos e explorados das fábricas. Deve decidir sobre os rumos do movimento e do sindicato baseado nos interesses e na força desses setores. Essa é a única forma através da qual podemos varrer a burocracia dos sindicatos e recuperá-los para colocá-los a serviço da luta dos trabalhadores. É impossível recuperar os sindicatos de forma pacífica, restringindo essa luta à formação de chapas de oposição em cada período de eleições a cada três anos. Essa lógica não só está fadada a ser derrotada, pois os burocratas têm o aparato e o apóio do governo e a burguesia a seu favor. Não será com “eleições” em cada congresso sindical que se barrará a burocracia, isto só é possível ao calor das lutas. Limitar-se a conformação de “chapas” a cada dois e três anos, longe das lutas diretas dos trabalhadores, não expressa mais que uma lógica “parlamentar” de representação, quando do que se trata é impor uma democracia direta, que garanta a democracia operária.

A segunda tarefa é unificar as pautas dos setores em luta em torno da luta em defesa do emprego, pela indexação dos salários à inflação, por terra e crédito barato para os camponeses pobres e contra as reformas que o governo quer implementar. Mas não podemos esperar que a burocracia sindical unifique as lutas, pois não vai fazê-lo nunca. É preciso que essa unificação se dê a partir dos organismos independentes dos próprios trabalhadores, das comissões de fábrica e dos sindicatos recuperados conformando uma coordenação que expresse a vontade coletiva do conjunto dos setores em luta em contraposição à vontade dos patrões e do governo. Essa é a melhor forma através da qual os trabalhadores mais conscientes podem influenciar os setores mais atrasados, passando por cima do controle das burocracias sindicais.

A terceira tarefa é unificar a luta dos trabalhadores e sem-terras com a luta dos milhões de desempregados em todo o país. A burocracia exclui os trabalhadores desempregados dos sindicatos e não incorpora suas reivindicações às reivindicações dos trabalhadores na ativa. O enorme contingente de desempregados é a maior arma que os patrões têm contra os trabalhadores, pois possibilita ameaçá-los com demissões para impor mais exploração e mais arrocho salarial. Por isso é necessário incorporar à atual pauta de reivindicações dos setores em luta uma ampla campanha por emprego e salário digno para todos. É necessário explicar aos trabalhadores que se as horas de trabalho hoje disponíveis na produção forem repartidas entre todos aqueles que estão em busca de trabalho sem redução do salário todos seriam incorporados à produção e seriam enormemente aliviadas as condições de exploração, pois seria diminuída a jornada de trabalho de todas as categorias. Uma saída desse tipo, que é a escala móvel de horas de trabalho, na medida em que incorpora todos à produção e acaba com a possibilidade dos patrões nos ameaçarem com demissões, assenta as bases para que lutemos por salários dignos que satisfaçam o conjunto das necessidades de uma família como de alimentação, moradia, educação, saúde, lazer etc. É preciso que os trabalhadores sejam conscientes dessa saída para que ela possa assentar as bases para o mais amplo frente único de todas as camadas oprimidas da sociedade em defesa das reivindicações mais sentidas do conjunto da população.

É claro que uma saída desse tipo ataca frontalmente os interesses da burguesia, pois os patrões seriam obrigados a reduzir seus lucros. Por isso é necessário que as classes oprimidas construam organismos independentes desde os quais possam combater por seus interesses, fortalecendo-se nas vitórias e tirando lições das derrotas. Só uma coordenação nacional que se oriente a partir das decisões tomadas nas comissões de fábrica, nos comitês de bairros e nos comitês de camponeses, nos comitês de desempregados e nos sindicatos recuperados, conformada por corpos de delegados eleitos nas assembléias de base e com mandatos revogáveis por aqueles que os elegeram, pode ter força suficiente para solucionar as reivindicações atuais da população oprimida.

Frente ao aumento dos preços que acontece dia a dia que diminuem nossos salários, devemos lutar pela escala móvel de salários. Esta deve garantir um aumento salarial de acordo com o aumento da carestia de vida dos trabalhadores. É necessário construir organismos para vigiar o aumento dos preços, elegendo delegados por lugares de trabalho, nos bairros e de consumidores que possam elaborar um índice operário e popular da carestia de vida, para desmentir os índices oficiais do governo e de organismos patronais que estão longe da realidade, mentindo abertamente. Devemos lutar para que os impostos indiretos sobre os artigos de consumo de massas, e os impostos que se aplicam sobre os salários devem ser abolidos.

No seio da luta por suas reivindicações atuais, os trabalhadores se defrontam com a sede de lucro dos capitalistas e com a enorme dependência do país para com os países imperialistas. Frente a suas reivindicações, os patrões e o governo sempre colocarão que não têm verbas para atendê-las. Aqui se colocam as condições para que as classes oprimidas compreendam a opressão e a exploração que os capitalistas estrangeiros impõem sobre o país e a política submissa da burguesia nacional, que entrega as riquezas do país para se colocar como sócia menor do imperialismo na exploração da classe trabalhadora. Aqui se colocam as condições para que a classe trabalhadora compreenda o mecanismo de sangria das riquezas nacionais que significa a dívida externa. Para ajudar o povo oprimido a dar esse salto em sua consciência, devemos contrapor a política do governo de dedicar as verbas públicas ao pagamento da dívida externa com políticas que coloquem essas verbas a serviço das necessidades da população.

Por isso devemos lutar pelo não pagamento da dívida externa. Com o fim de integrar a todos os desempregados ao processo produtivo, e permitir-lhes ter um trabalho e salário digno, lutemos implacavelmente por um programa de obras públicas sob controle operário, pago pelo estado capitalista.

Por isso devemos lutar para que o dinheiro hoje usado para pagar a dívida externa seja usado para pagar um seguro desemprego a todos os desempregados, sem restrições e por tempo indetermina-do, que cubra as necessidades básicas de uma família até que todos os trabalhadores sejam incorporados à produção. Quando o governo rejeita nossas demandas salariais no funcionalismo público sob o argumento de problemas de orçamento, devemos lutar por impostos progressivos às grandes fortunas para ajudar a financiar essas medidas inegavelmente justas.

Essa é a melhor forma de fazer com que os setores em luta, em meio à batalha por suas reivindicações mais imediatas, que hoje são as que os colocam em movimento, a partir de suas experiências mais elementares de auto-organização e de frente única, percebam a oposição entre seus interesses e os interesses do imperialismo, do governo e da burguesia nacional, e desta forma avancem para colocar os organismos que forjaram para lutar por suas reivindicações atuais a serviço de lutas superiores ligadas aos grandes problemas nacionais como a dependência com relação ao imperialismo, se enfrentar a medidas neocolonialistas do imperialismo como a ALCA e outros tratados que nos atam aos interesses internacionais.

Essa é a melhor forma de assentar as bases para que os trabalhadores, na medida em que a burguesia e o governo se negam a resolver os problemas mais urgentes da nação, compreendam que, pelo fato de que são eles que produzem tudo, na cidade e no campo, são eles que devem, a partir de seus organismos de auto-organização coordenados nacionalmente, assumir a administração do país.

A assimilação dessas tarefas por parte dos trabalhadores brasileiros hoje tem pela frente uma enorme barreira que são suas atuais direções políticas e sindicais. Mas os aparatos burocráticos não são mais fortes que as leis da história.

As classes oprimidas historicamente têm demonstrado sua disposição e sua energia para se libertar das condições de exploração e miséria em que estão inseridas.

O fato de que, apesar de toda a confiança que o povo hoje deposita em Lula e no PT, alguns setores como os metalúrgicos, os servidores públicos e os sem-terra estejam iniciando importantes lutas é uma demonstração disso. Mais do que isso, devemos ter uma visão mais ampla de que as medidas antipopulares do governo abrem condições para que as classes oprimidas da sociedade percebam de forma mais clara o papel de seus governantes e busquem novas formas de luta, onde se forjem novas direções políticas.

Aqui é que ganha um caráter fundamental o papel dos setores mais conscientes da classe trabalhadora e da juventude explorada e oprimida. Pois é necessário construir uma alternativa de direção do proletariado que esteja de fato a serviço da auto-organização e da autodeterminação das massas oprimidas do país, e que tenha uma política conseqüente com essa estratégia.

Só com essa estratégia pode-se construir um partido revolucionário de trabalhadores que, ao contrário de todos os partidos hoje existentes, seja um instrumento da classe operária na luta por sua emancipação política.

Esse é o chamado que fazemos à vanguarda nas fábricas, nas escolas, nos bairros pobres, nas universidades: a lutarmos juntos por essa estratégia e a forjarmos os primeiros elementos que possam assentar as bases para a construção desse instrumento de luta.

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo