Terça 23 de Abril de 2024

Nacional

ENTREVISTA

As raízes da crise da Petrobrás e como combatê-la

02 Dec 2014   |   comentários

Entrevistamos a seguir Leandro Lanfredi, petroleiro do Movimento Nossa Classe, sobre quais as causas estruturais do escândalo de corrupção envolvendo a mega estatal e o que fazer para acabar com a impunidade.

Jornal Palavra Operária: Quais dos motivos de fundo para a crise da Petrobrás?

Leandro: Em primeiro lugar, no fundo dessa crise está a crescente privatização da Petrobrás e da cadeia produtiva do petróleo. Com a propaganda política do PT e os ataques da mídia, os trabalhadores ficam com a ilusão de que a Petrobrás seria uma empresa “estatal”. Não é. É uma empresa de capital misto. O acionista majoritário, a União, atua para garantir lucros a ele mesmo e aos acionistas privados.

Muito do que a Petrobrás faz está determinado pelas leis e exigências de empresas americanas. A desculpa para esta ingerência é que seriam exigências legais para a Petrobrás vender ações em Wall Street. Em outras épocas o PT chamaria isso de privatização.

Este controle imperialista sobre a empresa “nacional e estatal” caminha de mãos dadas com outras duas formas de privatização do petróleo. A associação da Petrobrás com as gigantes internacionais e empreiteiras nacionais para explorar o petróleo do pré-sal ou de outras províncias petrolíferas. E a associação ao mesmo tempo legal e criminosa da Petrobrás com gigantes capitalistas brasileiros e estrangeiros em suas obras, construção de navios e plataformas. Todos estes contratos e da privatização da Petrobrás e do petróleo que nascem os bilhões da corrupção.

JPO: Qual a relação a Petrobrás, as empreiteiras, os partidos políticos e ogoverno?

Leandro: A Petrobrás ajuda a formar gigantes empresariais. Em troca, estes empresários ajudam os partidos legalmente (doações) e ilegalmente (corrupção, sobre preços etc.). Essa ajuda é utilizada para formar blocos políticos que servem aos empresários e aos que controlam a Petrobrás. Esse sistema é parte da estrutura do Estado brasileiro, que ganha uma proporção enorme na Petrobrás pelo tamanho dos recursos que ela gere.

Claro que o governo de turno sempre é mais beneficiado. Mas essas empresas ajudam tanto PT como PSDB, já que querem lucrar e crescer independentemente de quem governe.

JPO: Por que só agora essa crise veio à tona? Quem pode se beneficiar com ela?

Leandro: Existe crise econômica e o governo petista está politicamente mais débil. A prisão de empreiteiros, ao prejudicar os negócios das empreiteiras brasileiras, pode vir a favorecer as empresas norte-americanas a entrarem no mercado brasileiro.

JPO: O que fazer para que tudo isso não termine novamente em pizza ou puna apenas alguns bodes expiatórios sem destruir a essência do esquema?

Leandro: Precisamos de uma investigação independente, conduzida pelos sindicatos, movimentos sociais, intelectuais. Não podemos confiar na CPI do congresso, onde o PT e o PSDB já fecharam acordo para restringir os políticos de ambos partidos que seria convocados a depor, pois os dois têm o rabo preso. Uma investigação realmente independente só será possível se derrotarmos a posição chapa-branca dos sindicatos da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a falta de uma política efetiva por parte dos sindicatos dissidentes da Frente Nacional Petroleira (FNP), recuperando essa entidade como uma ferramenta de luta.

Precisamos lutar pela imediata publicidade on-line de todos contratos, salários e benefícios: nós trabalhadores não temos nada a esconder. Com as informações públicas e disponíveis poderíamos, sem segredos, conhecer o alcance da corrupção que suga estes recursos do país.
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Precisamos lutar pelo confisco dos bens dos diretores e gerentes da Petrobrás envolvidos neste esquema, bem como dos empresários e suas empresas. Este dinheiro confiscado deveria ser gasto imediatamente para impedir demissões, pois com a desculpa desta crise já ocorreram milhares de demissões nas empreiteiras que trabalham como terceirizadas nas plataformas e também nos estaleiros no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Os diretores da Petrobrás e as empreiteiras querem que os trabalhadores paguem pela crise. Não podemos aceitar.

Esse sistema só vai acabar se conquistamos uma Petrobrás seja 100% estatal, com a estatização de todas as áreas leiloadas ou vendidas, sem indenização. As empresas que prestam serviço a Petrobrás também deveriam ser estatizadas ou incorporadas à Petrobrás. A única maneira de realmente defender a Petrobrás é impedir que o imperialismo e empresários nacionais tomem recursos que pertencem ao povo brasileiro. Precisamos derrotar a privatização e seu braço-direito, a terceirização. Não faz sentido, a não ser para enriquecer empresários e para corrupção, que existam essas empresas privadas parasitas da Petrobrás. Porque não organizar toda esta imensa capacidade produtiva sob uma mesma empresa, para que os recursos sejam gastos mais racionalmente, para desenvolver projetos a serviço da maioria da população? Isto passa pela incorporação dos terceirizados à Petrobrás. Chega de discriminação e divisão. Somos todos petroleiros. Só assim deteremos a corrupção, a privatização e mesmo garantiremos os empregos de milhares de brasileiros.

JPO: Mas adianta estatizar se a empresa seguir sendo administrada pelos governos capitalistas

Leandro: Não. Precisamos de uma gestão operária da Petrobrás, através da eleição de todos cargos de mando na empresa e sob o controle de assembleias de base com mandatos revogáveis e recebendo um salário igual ao de um trabalhador especializado. Os trabalhadores, em aliança com a população, é que deveriam decidir democraticamente os rumos da empresa.

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