Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

EM MEIO ÀS PRESSÕES RESTAURACIONISTAS EM CUBA

As “portas abertas” da OEA

24 Jun 2009   |   comentários

Foi aprovada no dia 06 de Junho a suspensão do veto a Cuba na Organização dos Estados Americanos. A votação teve unanimidade entre os estados representados e significa um salto de qualidade na política do imperialismo em relação à ilha, que baniu o estado Cubano desde a expropriação da burguesia durante a revolução em 1962. Tanto Chávez e Morales quanto Fidel Castro, apesar de ter se negado a aceitá-la - festejam a votação como uma “grande vitória” dos países latino-americanos contra o imperialismo. Mas se por um lado é verdade que após a era Bush o governo Obama busca reacomodar as vias de dominação sobre a América Latina com muito menos correlação de forças internacional para manter a política das frações neoconservadoras da burguesia norte-americana, por outro é preciso ver que essa medida não contraria os interesses do governo norte-americano nem muito menos deriva de uma “rebeldia” dos países semi-coloniais contra o mesmo.

A OEA fundada em 1948, funciona desde o pós-guerra como um instrumento do imperialismo para administrar suas semi-colónias na América. É um instrumento que teve origem na Guerra Fria para combater o comunismo, apesar de ter que se adaptar depois da queda da URSS, nunca deixou de ser “um ministério das colónias” (Hugo Chávez, na OEA) para os EUA. A dependência dos governos burgueses semi-coloniais ao imperialismo não deixa de existir durante as reuniões da OEA, e por isso suas decisões não são independentes das políticas do governo de Washington. Segundo o próprio Fidel Castro, na OEA “muitos países dependem do dedo indicador de uma mão do governo dos Estados Unidos, apontando para o Fundo Monetário, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento ou qualquer outra direção para punir rebeldias” (Granma, 03/06/09). A medida da OEA acompanha a postura do governo norte-americano (em reduzir as restrições ao envio de remessas a Cuba) de favorecer as pressões capitalistas em Cuba contra as conquistas da classe trabalhadora pelo assédio democrático. Essa nova postura prepara o caminho para substituir a ineficaz política de endurecimento do embargo no governo Bush que além de não ter sido efetiva para restaurar o capitalismo na ilha, ainda favoreceu o apoio interno à burocracia castrista, na medida em que deixava viva a chama do anti-imperialismo.

A resolução histórica que reabre as portas da OEA a Cuba faz parte de uma política consciente do governo norte-americano em pressionar a burocracia cubana a uma restauração capitalista de forma que esta se submeta publicamente com as instâncias imperialistas na América Latina. Esta perspectiva será definida pelo confronto de distintos interesses, por um lado, da burocracia do PC cubano que irá buscar permanecer na direção do estado mesmo no caso da ilha aprofundar seu curso rumo a restauração capitalista, se transformando em classe dominante, e por outro do imperialismo. Mas para isso ainda precisa efetuar diversas reformas capitalistas importantes em Cuba, ataques de magnitude. Sem isso, a burocracia não tem margem de manobra para implementar a restauração capitalista mantendo-se na direção do estado. Por isso a direção do PC cubano necessita se delimitar da decisão da OEA, afirmando que Cuba “não quer entrar na OEA nem reformada” sendo necessário “desmantelar a OEA e fundar uma nova organização de países latino-americanos e caribenhos, sem os EUA” (Granma 03/06/09), postura que contrasta com a saudação de Raul Castro no início do ano diante da eleição de Obama à presidência dos EUA. Por outro lado, a política do governo Obama mostra suas frações internas que representam parte das distintas frações burguesas no interior do país, uma vez que existe nos EUA um influente setor social de cubano-americanos com influência na população latina e representação no Congresso que é abertamente contrário à decisão da OEA e da política adotada por Obama.

Houve, portanto, uma preocupação permanente de Thomas Shannon, secretário de Estado assistente para a América Latina, e de Dan Restrepo, responsável da região no Conselho de Segurança Nacional, em dizer que “a volta de Cuba à OEA não será automática” por ser necessária a cooperação do governo de Cuba aos supostos “princípios básicos da democracia, dos direitos humanos” , ou seja, retirando a carga demagógica, a restauração completa do capitalismo na ilha. Durante a sessão, a delegação norte-americana tentou mascarar sua política afirmando “não terem lido a versão final da resolução em inglês antes de submetê-la à aclamação do plenário” . Uma manobra política para facilitar a relação interna entre os dois projetos distintos da base democrata e republicana em relação à restauração capitalista em Cuba: uma fomenta a inserção mais rápida do capital imperialista na ilha, forçando reformas mais rápidas por parte da burocracia do PCC e são o bloco dos agricultores e da industria alimentícia representada por Richard Lugar [1] no Senado, que aprovaram a redução das restrições financeiras à Cuba no intuito de aumentar a exportação e investimentos no setor de alimentos à ilha, com respaldo de Obama; outra não abre mão do embargo e das restrições como pressão externa e interna contra a direção do PCC no estado cubano, é o bloco cubano-americano presente no Congresso e respaldado por Hillary Clinton no governo. A burguesia cubana radicada nos EUA faz pressão no governo norte-americano para que se mantenha a antiga política dos vetos e o embargo a Cuba, pois pretende recuperar suas antigas propriedades e para isso seria necessário acabar de vez com a permanência da burocracia do PC cubano no poder através do embargo e restrições. Durante a sessão que revogava o banimento de Cuba, deputados do bloco cubano-americano no congresso dos EUA apresentaram projeto de revogar o apoio financeiro norte-americano à OEA em caso de aprovação da revogação do veto a Cuba, estes deputados eram Connie Mack, Lincoln Diaz-Balart, Ileana Ros-Lehtinen, Dan Burton, Mario Diaz-Balart, Paul Broun do partido Republicano, além do deputado democrata Albio Sires [2]. Esta fração burguesa norte-americana encontra um horizonte na política de Hillary Clinton[3], em contraposição à Obama, em diversas oportunidades isso se comprovou como vimos nas prévias democratas à presidência dos EUA. Vemos hoje, devido à ineficácia da política de décadas e o avançar das relações de Cuba com o imperialismo europeu, a predominância da primeira contra a segunda dentro do governo dos EUA, apesar da forte e presente influência de ambas deixarem perspectivas em aberto, assim como internamente em Cuba existir ainda a possibilidade de um histórico enfrentamento da classe trabalhadora contra a burocracia castrista interrompendo o avançar deste processo de restauração capitalista.

A “salvaguarda” de Hugo Chávez

Foi contrastante o papel destacado do governo venezuelano nas negociações pela reintegração da ilha na OEA, parte de uma política de longa data do apoio de Chávez a Cuba, tendo este sido o principal interlocutor do processo. Essa motivação se dá devido a necessidade do governo venezuelano se ver livre do encargo de manter um vasto suporte económico (basicamente com remessas de petróleo) ao regime castrista, em meio à crise económica que golpeia duramente a Venezuela, ao mesmo tempo em que tenta manter Cuba como um forte aliado do chavismo dentro do mesmo palco político que o governo Chávez enfrenta seus adversários. A crise capitalista golpeou fortemente a economia venezuelana com a queda abrupta do preço do petróleo, pilar da economia do país. O fator “crise” força Chávez a restringir as remessas de petróleo ao exterior e deixa o país muito mais susceptível às investidas imperialistas o que faz muito mais necessária a integridade das relações com seus governos aliados mais fiéis na região.

O serviço conciliador do governo Lula

O governo Lula, impulsionado pelo antigo boom económico pré-crise de valorização do real e valorização o preço das matérias-primas brasileiras, foi o responsável por criar uma realidade que exportava as empresas brasileiras (Odebrecht, Friboi, Vale, Petrobrás) e seus empresários como verdadeiros carrascos na América Latina, todos armados com boas injeções de capital estrangeiro. Entre o bloco nacionalista de Chávez e Evo, e o imperialismo de Bush e Obama, o governo Lula manteve seu papel e influência como mediador dos conflitos regionais a serviço do imperialismo e o lucro de seus investimentos na América Latina conjuntamente com muita demagogia. Em contraposição sempre à direita da proposta nacionalista da ALBA (Alternativa Bolivariana para a América Latina), o governo Lula patrocinou o chamado grupo do Rio, para a formação da Organização dos Estados da América Latina e Caribe, com interposição imperialista, e também se posicionou favorecendo uma política de intervenção nas reuniões da UNASUL sobre os casos da crise constitucional na Bolívia, assim como no conflito Colómbia-Venezuela e nos escândalos da Odebrecht e Itaipu no Equador e Paraguai. No mesmo sentido foi a política adotada por Celso Amorim (ministro das relações exteriores brasileiro) no encontro da OEA em Honduras. A política de Celso Amorim foi a precursora da conformação de um grande bloco conciliador que isolou a Venezuela e o bloco da ALBA em relação ao desprestígio da OEA como instituição, e deu condições de se consolidar uma proposta pactuada em relação a “abertura sob condições democráticas” da OEA ao estado cubano. É impossível que esses governos latino-americanos como o governo brasileiro, financiados por empresas que dependem intimamente do capital estrangeiro tomem qualquer decisão desvinculada e independente dos interesses de Washington.

[1] Não atóa o caso Cuba foi um dos motivos prováveis de Obama sugerir Richard Lugar para o cargo que hoje ocupa Hillary Clinton. Dando uma olhada em quem é o mesmo Richard Lugar que defende a reinsersão da Cuba “comunista” dentro da OEA, rapidamente vemos que não se trata em nada de uma medida com intenções “progressistas” : “Fazendeiro milionário, senador republicano, um dos chamados ”˜neoconservadores”™ típicos, votando a criminalização do aborto, contra o casamento de pessoas do mesmo sexo e autor de leis que classificava crimes devido a orientação sexual, além da criação do muro anti-imigrantes separando os EUA do México.” - Conheça os homens de Barack Obama, Jornal Palavra Operária n.49
[2] "Os membros da OEA não devem sequer considerar a possibilidade de readmitir essa ditadura brutal. Isso é insensato, irresponsável e antidemocrático" Connie Mack em entrevista. - Folha Online, 03/06/09 -http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u576066.shtml
[3] Não atóa, o presidente do parlamento cubano, Ricardo Alarcón afirmou que o governo de Cuba não quer voltar à OEA, mas comemorou a votação com uma provocação, elogiando a “receptividade” da Secretária de Estado Hillary Clinton em Honduras.

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