Quinta 18 de Abril de 2024

Juventude

DEBATE

As mentiras e o sectarismo do PCO estão na contramão da defesa dos processados. É preciso uma campanha ampla, rumo à mobilização!

06 Mar 2013   |   comentários

O PCO divulgou no site do seu jornal “USP Livre” uma matéria em que afirmam que a LER-QI boicotou o ato-debate realizado na manhã do dia 27, em frente ao bandejão, sobre os processos aos 72 que foram presos na reintegração de posse da reitoria da USP. Em primeiro lugar, pode causar alguma estranheza ao leitor uma mentira tão sem fundamento, já que ao lado do título “Por que a LER-QI não foi ao ato-debate em defesa dos 72 processados?” está a foto (...)

O PCO divulgou no site do seu jornal “USP Livre” uma matéria em que afirmam que a LER-QI boicotou o ato-debate realizado na manhã do dia 27, em frente ao bandejão, sobre os processos aos 72 que foram presos na reintegração de posse da reitoria da USP. Em primeiro lugar, pode causar alguma estranheza ao leitor uma mentira tão sem fundamento, já que ao lado do título “Por que a LER-QI não foi ao ato-debate em defesa dos 72 processados?” está a foto tirada pelos próprios militantes do PCO, e postada na matéria de capa desse mesmo site, com Brandão, militante da LER-QI e demitido político, sentado à mesa do debate! Também estivemos com Pardal, um de nossos estudantes processados, compondo a mesa do debate.

Outro artigo no mesmo site, “Por que a LER-QI quer paralisar a campanha em defesa dos 72?”, nos acusa de estarmos em oposição a qualquer medida de luta. O que o PCO tenta esconder atrás de tantas mentiras é a impotência de sua própria política, sectária e estéril para construir uma efetiva defesa dos processados e contra as punições já implementadas na universidade. Nesses artigos abre duas polêmicas, relacionadas, que abordaremos.

Uma campanha massiva ou "uma campanha realizada pelos próprios presos"?

Desde que se efetivou a prisão dos 72 na reitoria, nós da LER-QI estivemos sempre na linha de frente da composição do Fórum dos Processados, e travamos lutas políticas fundamentais com as direções do movimento estudantil na USP (PSOL e PSTU) para que as entidades que dirigem, como o DCE, se colocassem a tarefa de defender os trabalhadores e estudantes perseguidos politicamente, como no XI Congresso dos Estudantes da USP, aprovando o reconhecimento do ME da USP da legitimidade do Fórum (mesmo com o voto contrário do MES-PSOL) e importantes medidas de frente-única, como o debate realizado na Faculdade de Direito, com personalidades como Fabio Konder Comparato e Eduardo Suplicy. Foram essas e outras medidas que construímos ao lado de estudantes independentes que militam conosco na Juventude às Ruas, do Sintusp, do Fórum dos Processados, entre outros setores, que ajudaram a garantir que não sofrêssemos punições ainda mais graves, como expulsões (como foi no caso da Moradia Retomada) e demissões.

Os companheiros do PCO, entretanto, lamentavelmente se abstiveram de praticamente todas essas lutas políticas, pela concepção de que de nada ajuda o apoio do “DCE pelego”, e mais vale fazer "uma campanha realizada pelos próprios presos". É uma visão sectária que só pode levar ao isolamento e à derrota do movimento.

Agora, após a denúncia do MP, o PCO tenta “tirar o atraso” de seu abstencionismo com uma política ainda mais sectária e impotente. Enquanto travamos uma luta para construir a plenária conjunta convocada pelo DCE e Sintusp no dia 20/2 e para que essa tirasse medidas concretas para construir uma ampla campanha com os mais diversos setores, o PCO insiste em sua linha isolacionista. Demos peso para a construção do ato-debate de frente única na noite do dia 27, em plena calourada unificada, que o DCE se viu obrigado a convocar para poder se relocalizar politicamente após ter passado mais de um ano tratando a luta contra a repressão como algo pra lá de secundário. É nítido que a intenção da gestão do DCE é canalizar a indignação contra a denúncia do MP para sua campanha de “diretas para reitor”, argumentando que tudo isso acontece porque o reitor não é eleito democraticamente, quando na verdade essa reforma manteria todo o essencial da estrutura de poder herdeira da ditadura, a serviço da repressão e da privatização. Não é parte da estratégia do DCE uma campanha consequente contra a repressão, construindo uma forte mobilização com esse eixo neste semestre. Não à toa implodiram, de forma extremamente burocrática, essa mesma plenária do dia 20/2, mesmo convocada junto ao Sintusp, simplesmente pra que não se encaminhasse a discussão sobre a convocação de uma assembleia geral, que dias depois se viram obrigado a convocar.

Para esse interesse do DCE, nada mais funcional que a defesa do PCO de "uma campanha realizada pelos próprios presos", entregando o movimento estudantil para a linha do DCE sem uma disputa. Nós, ao contrário, exigimos uma campanha realizada pelo DCE e CAs, pelas entidades de massas. Primeiro porque valorizamos muito cada medida que cerque os processados de solidariedade e apoio político, não importa de onde venha, diferentemente do PCO, para quem o resultado desse ataque importa muito menos do que esbravejar contra o DCE. E em segundo lugar, porque nos interessa arrancar de fato o movimento estudantil, e portanto suas entidades, da influencia da atual gestão do DCE, objetivo para o qual de nada serve, no momento em que o DCE propõe uma atividade em apoio aos processados, gritar "o DCE não apoia os processados! não devemos participar! façamos nosso próprio ato!". Ou seja, o PCO confunde as coisas, toma por ilusão no DCE - que não temos nenhuma -, nossa profunda confiança na base do movimento estudantil - que o PCO desconhece -, e se mantém completamente inofensivo para a direção do DCE.

O ato do dia 27, com a presença de centenas de calouros, parlamentares, entidades sindicais e estudantis, mostra o grande potencial que essa campanha democrática tem, e que agora precisamos lutar para que se nacionalize em uma campanha contra a repressão, pautando também repressões aos sem-terra, trabalhadores dos canteiros de obras do PAC, estudantes da Unifesp etc. E que isso se reverta em uma forte mobilização, com medidas para que seja massiva, a partir de cada curso, que é a única forma de efetivamente reverter o processo repressivo que está em andamento. Essa é a política que devemos lutar em cada curso e cada assembleia de base para que se concretize, e que discipline por essa via as direções do movimento a se colocar em defesa dos processados.

O que é o fórum dos processados?

Essa linha sectária tem sua expressão organizativa. Em seu segundo artigo, o PCO nos acusa de “paralisar” o fórum por defender que não deliberasse com baixo quórum, em uma reunião mal convocada, e que, havendo deliberação, somente os processados votassem – tudo isso em meio à discussão daquelas diferenças políticas. Desde as prisões, atuamos para fortalecer o fórum dos processados, como um mecanismo para manter organizados os estudantes e trabalhadores atacados, para manter a coesão política e jurídica na defesa contra os processos. Agora o PCO, que nunca deu importância a esses objetivos – tendo inclusive rompido com a defesa coletiva centralizada, optando por seus próprios advogados -, passa a participar do fórum, com esse outro objetivo, de usá-lo de plataforma para aprovar medidas vanguardistas e isoladas. Para isso, defende o voto aberto no fórum, para fazer como em uma reunião recente, esvaziada, e em que a minoria era de processados, e a maioria de militantes, com peso do próprio PCO e também do POR, votar suas posições à revelia da posição dos processados.

E aonde isso tudo vai dar?

Haja aparelhamento vindo de quem tanto crítica o DCE pelo burocratismo com o qual, de fato, engessa o movimento! Mas se pode parecer surpreendente num primeiro momento, logo ganha sentido. É que o sectarismo é sempre a contracara do oportunismo. E eis que o PCO fecha sua política com a chave de ouro de uma declaração de seu militante processado (https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=jFAPDqJU1Rw), em nome dos processados (!), em um ato “em defesa do PT” e pela anulação do julgamento do mensalão (!!), em que vai, não ao DCE, mas ao PT, "pedir para que os companheiros participem dessa campanha [contra os processos na USP]" (!!!), dizendo que “o ataque da USP, assim como o ataque do mensalão, é um ataque às liberdades democráticas” (!!!) e, sem nenhuma crítica, “agradecer aos companheiros, estamos lado a lado, muito obrigado" (!!!!!)

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