Terça 23 de Abril de 2024

Movimento Operário

As eleições no Grande ABC Paulista e o profundo questionamento do PT no seio da classe operária

10 Oct 2014 | Diferente do que apontavam as pesquisas de opinião do eleitorado da região do grande ABC para presidente, que colocavam um empate técnico entre Dilma e Marina Silva com 32% das intenções de voto, e Aécio Neves atrás com apenas 21%, o resultado das apurações dos votos demonstrou a complexidade dessas eleições, onde Dilma e o PT saem claramente como os principais perdedores, Marina uma mera figurante e Aécio Neves, candidato tucano, o mais bem votado da região.   |   comentários

Diferente do que apontavam as pesquisas de opinião do eleitorado da região do grande ABC para presidente, que colocavam um empate técnico entre Dilma e Marina Silva com 32% das intenções de voto, e Aécio Neves atrás com apenas 21%, o resultado das apurações dos votos demonstrou a complexidade dessas eleições, onde Dilma e o PT saem claramente como os principais perdedores, Marina uma mera figurante e Aécio Neves, candidato tucano, o mais bem votado da (...)

Quem sai ganhando e quem sai derrotado dessas eleições no ABC paulista?

No grande ABC tanto a candidata do PSB quanto o candidato do PSDB ficaram com uma quantidade de votos bem próximo do obtido nas eleições de 2010, quando Marina não tinha o espectro da queda do avião que matou Eduardo Campos (ex-candidato a presidência que a cedeu o lugar com sua morte) e o PSDB tinha como candidato José Serra.

O mais surpreendente foi a expressão de um forte enfraquecimento do PT na região, a candidata Dilma foi derrotada em cinco das sete cidades nessa região que é um bastião histórico do PT, nem mesmo a presença ostensiva de Lula durante a campanha, a utilização do prefeito de São Bernardo do Campo como coordenador da campanha eleitoral e as ofensivas repetidas do sindicato dos metalúrgicos do ABC nas fabricas da região foi capaz de sustentar Dilma no primeiro lugar, nem mesmo na cidade de São Bernardo do Campo. A candidata petista foi vitoriosa apenas nas cidades de Diadema e Rio Grande da Serra.

Em Mauá foi a candidata Marina quem ficou em primeiro, e no restante das cidades Aécio Neves foi o grande vitorioso, chegando a ter 60% dos votos validos em São Caetano do Sul. Quadro oposto se compararmos com a última eleição presidencial em 2010, quando Dilma ganhou em 6 das 7 cidades da região.

Mesmo com forte aparato sindical, Dilma sai derrotada do bastião histórico do PT

Em São Bernardo do Campo, cidade com as principais montadoras, onde o sindicato dos metalúrgicos do ABC comandou uma campanha eleitoral massiva para Dilma, o resultado também foi bastante decepcionante para os petistas, Aécio ficou em primeiro com 36% dos votos, e Dilma com 32%. Em Santo André essa diferença é ainda maior, Aécio teve 60 mil votos a mais que Dilma, ficando com 40% dos votos validos, contra 27% de Dilma e 25% de Marina.

Até em Mauá, uma cidade majoritariamente negra e periférica, onde o PT nunca foi derrotado, nesse ano Marina conseguiu desbancar a petista com substanciais 36% dos votos contra 30% de Dilma e 27% de Aécio, uma expressão do forte questionamento ao PT fruto das manifestações de Junho de 2013 . Mesmo em Diadema, onde o PT terminou em primeiro lugar houve um recuo importante, em 2010 Dilma havia ficado com 56% do eleitorado, e nessas eleições ficou com apenas 41%, perdendo mais 40 mil votos.

Não apenas nas eleições presidenciais o PT perdeu espaço na região, as eleições para Governador e Senador também demonstram uma importante deterioração da legitimidade petista na região. As eleições para Governador deixaram claras as debilidades para emplacar o nome de Padilha na região, ele foi derrotado por Alckmin em todas as cidades do grande ABC, algo que ainda não havia acontecido desde que Lula assumiu a presidência. Em comparação com 2010 o PT caiu quase pela metade sua votação para governador na região, naquela eleição o candidato Aloisio Mercadante teve um total de cerca de 630 mil votos, ganhando de Geraldo Alckmin, agora em 2014 Padilha teve pouco mais de 350 mil votos.

Para senador temos a disputa entre José Serra e Eduardo Suplicy, tendo Serra vencido em 5 das 7 cidades do grande ABC. Nas duas cidades em que Suplicy venceu, apenas em Diadema registra grande margem de diferença. Em São Bernardo (centro do bastião petista) Suplicy vence com apenas 0,50% a mais de votos que Serra. Podemos perceber uma inversão com relação as eleições anteriores, onde em 2006 Suplicy vence em 6 cidades com folga.

Como saí a esquerda depois das mobilizações de Junho e a onda de greves operárias?

A esquerda continua com um resultado bastante inexpressivo nas eleições não chegando nem aos 3% mesmo com esse enfraquecimento do PT. Com isso fica claro que esse espaço de descontentamento com o PT não pôde ser capitalizado pela esquerda tradicional.

A candidata mais votada foi Luciana Genro do PSOL que atingiu 2,84%, cerca de 41 mil votos validos, seguido de Zé Maria do PSTU que não recebeu nem 1500 votos e Mauro Iasi do PCB com 1000 votos. Esses números representam um aumento relativo em comparação com as eleições de 2010, porém demonstra que os partidos tradicionais da esquerda estão muito aquém do necessário para que surjam como uma alternativa real ao PT. Essa debilidade da esquerda está muito ligada a essa não ter se ligado organicamente aos principais fenômenos da luta de classes que expressaram esse descontentamento com o PT.

Cresce um questionamento ao PT nos sindicatos e no governo

O questionamento ao PT, no ABC Paulista é uma consequência da experiência real que muitos trabalhadores fazem com este partido desde as direções burocráticas nos sindicatos, no governo federal há 12 anos e nos governos municipais da região. Essa experiencia se fortalece na medida que se começa a questionar o discurso de melhoras graduais nas condições de vida, a partir das medidas de ataques concretas organizadas pelo governo em aliança com as direções sindicais do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a CUT: como são os ajustes na produção que certamente resultam em mais perdas de postos de trabalho.

Mesmo o discurso do PT nas fabricas, com a campanha “Nem que a vaca tussa”, que declara abertamente que somente Dilma tem compromisso com o interesse dos trabalhadores não emplacou. Pois os trabalhadores já perceberam que o PT e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) são os principais auxiliares dos patrões para formular e implementar ataques contra os trabalhadores. Como tem sido com os lay-offs (suspensões de contratos) e as negociações rebaixadas nas campanhas salariais que não alcançaram aumento acima da inflação.

Quando os sindicalistas da CUT falam em “garantir o emprego”, os trabalhadores sabem que na verdade quer dizer que mais uma vez terão que aceitar ataques patronais em troca de permanecer no emprego, assim como é com o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) que os petistas utilizaram como uma conquista e fizeram campanha diretamente com Dilma sobre isso, quando na realidade significava reduzir o salário e as horas de trabalho para não perder o emprego, ou mesmo na já citada campanha “Nem que a vaca tussa” onde Dilma afirma que não vai mexer nos direitos básicos dos trabalhadores como, FGTS, seguro desemprego, férias etc., todos sabem muito bem que isso significa apenas que o ataque virá por outra via, fazendo ajustes a favor dos patrões, retirando outros direitos nossos para favorecer a patronal.

Falta uma alternativa à esquerda do PT que possa responder profundamente os anseios de Junho e das greves de 2014

Ninguém consegue sustentar a ilusão de que gradualmente as coisas vão continuar melhorando com Dilma. Isso porque a maioria das montadoras da região já estão com férias coletivas, afetando toda a cadeia produtiva da região, principalmente as auto-peças que estão preparando as demissões para depois das eleições.

Essa situação na indústria, propagandeada como crise mais que na verdade tem muitos elementos de chantagem patronal, se dá num momento mais crítico de debilitamento da economia nacional. A crise de representatividade escancarada em Junho e aprofundada pelas importantes greves operárias, com destaque a dos Garis do Rio de Janeiro e agora dos trabalhadores da Universidade de São Paulo, abre um importante espaço que a esquerda tradicional (PSOL e PSTU) não pode ocupar por não terem sido parte efetiva do desenvolvimento de uma vanguarda operária mais radicalizada.

A greve da USP demonstrou esse novo espirito entre os trabalhadores pela positiva, adotando medidas de auto-organização e de hegemonia operaria a partir de uma direção sindical que possibilitava o sindicato ser um verdadeiro instrumento à serviço da vitória dos trabalhadores. Essa conjuntura que inclui um forte debilitamento do PT e consequentemente da CUT abre espaço para a conformação de uma esquerda entre trabalhadores.

Essa perspectiva coloca na ordem do dia a necessidade de recuperar as lições em chave revolucionaria do último ascenso operário que ocorreu no pais entre o final da década de 1970 e inicio da década de 1980. Pois foi o momento de formação do PT e da CUT e teve como epicentro o ABC paulista, somente assim os erros estratégicos que levaram ao desvio esse processo revolucionário não voltarão a ocorrer.

Para que os trabalhadores trilhem o caminho revolução vitoriosa, da tomada do poder pela classe operaria, nós da LER-QI e do MNC (Movimento Nossa Classe) colocamos todas as nossas forças desde já para ser parte ativa do novo ativismo operário que abre novamente a perspectiva de um mundo sem classes e sem exploração ou qualquer forma de opressão.

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