Quinta 18 de Abril de 2024

Juventude

As contradições da chapa Palmares, futura gestão do CACS/PUC

05 Dec 2004   |   comentários

O movimento estudantil, que esteve praticamente ausente da cena política na década de 90, inicia um processo de recomposição. Ao longo do ano de 2004 não foram poucas as lutas travadas pelos estudantes contra a repressão, em defesa dos seus interesses imediatos e em defesa da universidade pública. Neste final de ano, esse processo de recomposição e reorganização se expressou nas eleições estudantis em todo o país. Com a desilusão de amplas camadas da população frente ao governo Lula e com a hegemonia petista começando a ser questionada nas universidades, estamos vivendo o inicio de um processo que se aprofundará no ano de 2005.

Frente a essa situação, a Comuna lançou um chamado para que nas eleições estudantis se conformassem chapas unificadas de todos aqueles que se colocam conseqüentemente em luta contra a reforma universitária e contra o governo Lula. Fizemos isso porque o grande divisor de águas no movimento estudantil hoje é a posição em relação ao governo Lula e é sobre a posição em relação a esse governo que as chapas devem se formar.

Na PUC-SP o nosso chamado não foi respondido nas eleições do CACS e os setores que se colocam em luta contra o governo se apresentaram divididos. Uma parte destes estudantes compós junto conosco a chapa Não Passarão!, que levantou um programa claro de enfrentamento ao governo federal, de aliança com os trabalhadores, fazendo um chamado à ruptura com a UNE e à construção da Conlute como um pólo nacional antiburocrático. Outro setor, entre eles estudantes independentes e militantes do PSTU, alegando "críticas à gestão atual Guernica", se aliaram ao PSOL e a setores do PT, compondo uma chapa com um programa ambíguo, que não coloca uma posição clara sobre o governo e o PT. Por último, setores “autogestionários” , que são parte da vanguarda que ao longo do ano se mobilizou contra a reforma, montaram uma chapa com setores apolíticos e individualistas, defendendo a dissolução do CA. Essa divisão daqueles que lutam contra a reforma universitária em nada ajudou nestas eleições a desmascarar o papel do petismo no movimento estudantil para cada estudante da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP. Pelo contrário, a chapa vitoriosa, Palmares, apostou na ambigüidade do seu programa para vencer as eleições.

Gestão Guernica: um exemplo para o movimento estudantil

Fora a Não Passarão!, as outras três chapas nestas eleições se colocaram na pratica como oposição à atual gestão. Desde a chapa da UNE governista Pra transformar o tédio em melodia (PCdoB e MR8/PMDB) até os “ autogestionários” . Infelizmente isso fez com que o único debate que essas chapas colocassem nas eleições fossem os "erros" e os "acertos" da atual gestão e não a discussão fundamental da posição em relação ao governo, de qual é o caminho para derrotar a reforma universitária e de qual deve ser a posição dos estudantes em relação à UNE.

Durante o ano de 2004, a PUC se demonstrou uma universidade que esteve na vanguarda das lutas do movimento estudantil. Já na calourada muitos estudantes tomaram seu primeiro contato com o CA e com o movimento, participando de uma importante ação de unidade operário-estudantil na ocupação de fábrica da Flakepet. Uma unidade que deve ser tomada como um grande exemplo para os estudantes e trabalhadores de todo o país. Ainda nos mobilizávamos em defesa dos postos de trabalho da Flakepet, quando a Reitoria baixou a punição de vinte dias de suspensão contra 15 estudantes, supostos organizadores de uma festa em 2003. A resposta surge espontaneamente e a reitoria é ocupada no mesmo dia por cerca de 200 estudantes.

Esse processo durou 21 dias e teve o potencial de questionar toda a estrutura de poder da universidade, ajudando a desmascarar a falsa democracia do Consun (Conselho Universitário), e gerou uma grande polarização na universidade, fazendo inclusive com que estudantes direitistas se mobilizassem para tentar desocupar a reitoria à força; objetivo que não conseguiram alcançar pois centenas de estudantes cerraram fileiras contra este ataque. Durante estes mais de vinte dias de polarização, foram realizadas as maiores assembléias dos últimos tempos na PUC, chegando a reunir milhares de estudantes na quadra. Durante todo este processo, a gestão Guernica deu um exemplo de como se atua, impulsionando a democracia direta dos estudantes: tudo era decidido em assembléia e a própria gestão se dissolveu no comitê de ocupação. Como resultado deste processo de ocupação, a reitoria e o Consun foram obrigados a adiar por meses a sua decisão quanto às punições.

Ainda durante o primeiro semestre, a gestão Guernica organizou um ónibus de estudantes da PUC para ir ao primeiro encontro realizado contra a reforma universitária no Rio de Janeiro, onde foi lançada a Conlute.

A partir daí a PUC entrava numa conjuntura eleitoral. Seria a primeira vez que três candidatos a reitor apareceriam, rompendo a tradição das chapas únicas. Eram três candidatos, que apesar das suas diferenças, prometiam no essencial seguir aplicando os planos da Gestão Ronca, de aumento de mensalidade, corte de bolsas e a repressão à comunidade universitária. O CACS, em conjunto com outros Centros Acadêmicos, lançou uma campanha pelo voto nulo nas eleições, denunciando a falta de democracia na PUC e lutando pelo fim da estrutura onde o voto dos professores vale mais que o de estudantes e funcionários.

Depois da vitória da candidata Maura Veras, da Faculdade de Ciências Sociais, o antidemocrático regime universitário da PUC saiu fortalecido e o reitor Ronca não tardou em divulgar o resultado final da sindicância contra os estudantes. O reitor apostou na divisão do movimento e manteve a suspensão para apenas quatro estudantes. Apesar de não ter nenhum integrante do CA suspenso, a gestão Guernica lutou até o fim contra as punições, tentando unificar os CAs da PUC nesta luta e mobilizar os estudantes. Infelizmente, com o boicote de setores do movimento estudantil e com o fortalecimento da estrutura de poder da PUC depois do processo eleitoral, onde o voto nulo teve uma adesão muito pequena dos estudantes, foi impossível uma luta como a do primeiro semestre contra a repressão.

Ainda tivemos, no final do ano, a plenária de Brasília, para a qual a PUC levou um ónibus financiado centralmente pela Guernica e pelo CA Psico, a plenária de São Paulo e a luta do dia 11/11, onde a PUC apareceu como uma das universidades do país onde houve luta contra a reforma, cumprindo o calendário nacional de lutas. Agora, frente à repressão do dia 11, sabemos que a luta deve continuar contra a reforma universitária, mas também contra a repressão, pelo desprocessamento dos estudantes e pela punição dos policiais responsáveis pela agressão.

De maneira nenhuma negamos que durante o ano houve erros e falhas na gestão. Porém “só erram os que fazem” e a gestão Guernica que está chegando ao seu fim travou importantes lutas, destacando-se como a mais conseqüente na luta contra a repressão na universidade. Aqueles que preferiram colocar as divergências acima dos acordos e do chamado à unidade que fez a Não Passarão!, cometeram um grave erro, movidos exclusivamente por um cálculo eleitoral oportunista.

As contradições da chapa Palmares

Vitoriosa com uma grande diferença de votos para a segunda colocada (CACS Livre e os Malacabados), não são poucas as contradições internas desta chapa. Ela é composta por diversos estudantes independentes, muitos de origem proletária e dos cursinhos populares, que tem uma grande disposição de luta. Porém ela também é composta por três correntes políticas que tem enormes diferenças entre si, mas que chegaram a um acordo oportunista para disputar as eleições. São elas, como dissemos no inicio do artigo, o PT, o PSOL e o PSTU. Poderíamos dizer que é uma chapa que começa dividida.

Não chegaram a uma posição comum sobre o chamado da Não Passarão! para que a diretoria do CA fosse proporcional (isto é, que estivessem representadas todas as chapas de acordo com a sua votação) e aberta ao voto dos estudantes. Agora venceram as eleições e não existe um acordo na chapa se devem lançar este chamado democrático ou não.

O seu próprio programa é um exemplo do acordo oportunista que as correntes realizaram para poder compor a chapa. Na discussão sobre os rumos da PUC, ao mesmo tempo que defendem “de maneira intransigente” os “princípios fundadores da PUC” , defendem a estatização da universidade. Resta saber agora qual programa vai ser aplicado pelo CA. A defesa da estrutura da PUC e do seu caráter “filantrópico” , ou a luta pela estatização? Pior ainda, fruto desse "acordão", a chapa Palmares sequer chegou a uma política clara frente à futura reitoria da PUC, que tomará posse quase ao mesmo tempo que a futura gestão do CACS. Ao invés de combater as ilusões de que ela possa ser "um avanço" com relação à gestão Ronca, o programa da Palmares deixa em aberto o caráter da próxima reitoria, e se limita a fazer críticas superficiais à Maura que se diluem no reconhecimento de suas "boas intenções".

Um outro ponto de discórdia fundamental é sobre a reforma universitária. Para alguns membros do PT que integram a chapa, a reforma tem pontos ruins que devem ser rechaçados e pontos bons que devem ser aprofundados. Para outros, a reforma deve ser rechaçada como um todo, pois os pontos que podem parecer bons não passam de uma forma de aplicar o conjunto da reforma que visa a destruir a universidade publica. Qual programa vai ser aplicado: o programa petista ou o daqueles que são contra a reforma de conjunto?

Onde fica a Conlute?

Sabemos que o PT e o PSOL não defendem a construção da Conlute, ao contrário do PSTU e de nós. Qual será a posição da gestão do CA sobre esta questão de fundamental importância para os rumos do movimento estudantil? Na prática a política do PSTU se demonstrou anticonlute. Preferiu se aliar com o PSOL e a esquerda petista, inimigas da Conlute, a se aliar com os defensores da Conlute, apesar das diferenças entre o PSTU e a Não Passarão!. Agora o CACS, que praticamente já fazia parte da coordenação, faltando apenas sua adesão formal, como resultado da política eleitoreira do PSTU, se afasta da Conlute para se aproximar do PSOL e da esquerda petista.

E esses setores no interior da Palmares ainda poderão se apoiar para esta discussão no fato de que o seu programa sequer toca na discussão da Conlute. Fica claro que o PSTU preferiu ganhar as eleições, mesmo que isto fosse ao custo de enfraquecer a coordenação que diz defender.

Unidade contra o governo e a reforma universitária

Apesar das enormes diferenças que temos com uma parte da chapa Palmares, sabemos que temos importantes acordos com outra parte desta chapa. Ainda está por ver qual o programa que será levado adiante pela futura gestão do CACS. Nós da Comuna, continuaremos apostando na unidade do movimento estudantil contra o governo Lula e suas reformas neoliberais. Porém, sendo nossa luta principal contra o governo Lula e os ataques repressivos do Estado e da direita organizada, não deixaremos de combater cada vacilação e cada passo atrás que os setores petistas que compõe a Palmares quiserem dar, com o apoio aberto ou encoberto do PSOL.

Não vamos abandonar o CA como alguns dos atuais integrantes da chapa Palmares fizeram depois de terem sido derrotados nas eleições do ano passado. Continuaremos lutando para que o CACS integre a Conlute, na perspectiva de transformá-la no pólo nacional antiburocrático, antigovernista e pró-trabalhadores que ela ainda não é. Continuaremos sendo os mais conseqüentes na luta unitária contra a repressão. Independente da gestão que esteja no CACS, a PUC continuará sendo, e cada vez mais, um bastião dos setores antiburocráticos e pró-trabalhadores dentro do movimento estudantil.

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