Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

GREVE E OCUPAÇÃO ESTUDANTIL

Após mais de 80 dias, luta segue na UNESP

04 Jul 2013   |   comentários

Depois de mais de dois meses de luta contra o PIMESP e pela democratização da universidade, conseguimos enfim quebrar a intransigência da reitoria e do governo pela força da mobilização massiva combinada com o uso de métodos radicalizados.

Depois de mais de dois meses de luta contra o PIMESP e pela democratização da universidade, conseguimos enfim quebrar a intransigência da reitoria e do governo pela força da mobilização massiva combinada com o uso de métodos radicalizados. A combatividade dxs lutadorxs vem sendo decisiva para conquistarmos alguns dos eixos de nossa pauta! As greves e as ocupações locais continuam para garantirmos o cumprimento do acordo assinado com a reitoria, o atendimento das pautas locais e em solidariedade a greve dos trabalhadores técnico-administrativos e docentes.

No dia 27 de junho, antes do ato na reitoria, a situação era de que, em que uma das maiores greves estudantis da história da UNESP, ainda não havia avançado em praticamente nenhum dos pontos da pauta unificada. A linha da reitoria era claramente de estender as negociações e fazer com que a mobilização se desgastasse. Apoiados nas grandes assembleias, que em vários campi chegava perto ou ultrapassava a casa dos milhares, e nas reuniões também cheias dos comandos de greve, discutíamos já há algum tempo a necessidade de radicalizar nossas ações para derrotar a intransigência da reitoria e do governo do Estado. No último Conselho de Entidades da UNESP, realizado em Marília nos dias 14, 15 e 16 de junho, promovemos um corte da rodovia SP 294 por mais de duas horas e votamos o indicativo de ocupações das direções nas unidades em que os estudantes avaliassem que havia correlação de forças, o que se concretizou em Franca, Rio Preto, Rio Claro, Ourinhos e em São Paulo logo na semana seguinte, além de Marília que já havia ocupado a direção quando entrou em greve em maio.

Antes de irmos para São Paulo para o ato da reitoria tomamos conhecimento que, reforçando a enrolação e o desgaste, a reitoria havia cancelado a reunião do Conselho Universitário (órgão colegiado máximo da universidade composto pela antidemocrática proporção de 70% das cadeiras para professores, 15% para os técnico-administrativos e 15% para estudantes) que tinha como mínimo a obrigação de se posicionar sobre nossas pautas de reivindicações. Mesmo diante da possibilidade de repressão, deliberamos em reunião aberta do DCE provisório ocupar o prédio da reitoria. Sem vacilo, cerca de 350 estudantes ocuparam o prédio da reitoria.

Poucas horas depois do início da ocupação, conseguimos arrancar um documento por escrito no qual a reitoria se comprometia a não promover nenhum processo administrativo ou criminal por conta da ocupação e marcar uma reunião de negociação no período da tarde. Já no primeiro ponto de pauta da reunião ficou comprovada a eficiência dos métodos radicalizados para conquistar nossas pautas e a completa falsidade dos argumentos da burocracia acadêmica para nega-las: conquistamos toda a demanda por bolsas para este ano e para os próximos, uma das reivindicações motores de nossa greve. Além disso, conquistamos a formação de uma comissão paritária que será responsável por elaborar as políticas de permanência estudantil e um plano de obras com verba específica para tal, garantindo a construção de moradias e restaurantes universitários em todas as unidades em que não há. Ainda que a aprovação deste plano seja uma conquista importante frente a posição anterior da reitoria que insistia em não construir moradias e apenas conceder bolsas aluguéis de valor insuficientes, apresenta um limite claro ao ter que ser aprovada ainda pelo Conselho Universitário e sem uma previsão clara de quanto de verba será destinado ao plano.

Outra conquista importante veio para os cursinhos populares da UNESP, que em muitas unidades tiveram professores e estudantes na linha de frente das greves e ocupações e que colocam antes da preparação para o vestibular a prioridade de formação política e militante de seus estudantes, inclusive levantando a bandeira do fim do vestibular. Ficou garantido o acesso dos estudantes dos cursinhos às bibliotecas, restaurantes universitários e laboratórios de informática; a liberação de verba para o segundo semestre e o custeio do transporte para realização de provas da USP, UNESP E UNICAMP em outras cidades do interior de São Paulo.

Após a negociação, deu-se início a uma nova plenária para avaliar a manutenção ou não da ocupação frente às propostas apresentadas. Nós da LER-QI, junto com estudantes independentes que atuam ao nosso lado na Juventude às Ruas, defendemos o fim da ocupação mediante as conquistas arrancadas da reitoria por avaliarmos que frente ao andamento das negociações e a conjuntura colocada nas estaduais paulistas neste momento não era possível arrancar o restante da pauta, mais especificamente o fim das sindicâncias abertas, a legalização imediata do DCE e dos representantes discentes no Conselho Universitário e a ampliação do número de meses das bolsas de extensão de 10 para 12. Avaliamos que manter a ocupação e concentrar em São Paulo o setor de estudantes mais ativos poderia desorganizar e dispersar as greves e ocupações em curso nas unidades num momento onde a proximidade das férias já aponta claramente um desgaste maior na maioria dos campi, ainda mais quando não há perspectivas claras de avançar na pauta unificada. Ao final da plenária, foi deliberado o fim da ocupação e a reitoria aceitou nossa exigência de arcar com o transporte para que voltássemos para as unidades.

Neste momento, o reitor Durigan voltou de viagem da Coréia e de maneira autoritária e antidemocrática ameaça descumprir os acordos assinados com a vice-reitora. Além disso, deu carta branca para os diretores locais utilizarem a reintegração de posse para ocupar com as ocupações. Enquanto fechamos este artigo, os estudantes ocupados da UNESP de Rio Claro acabam de receber um mandato de reintegração de posse e um processo contra quatro estudantes! Não permitiremos que o acordo seja descumprido e não encerramos a greve e as ocupações enquanto houver processos contra qualquer estudante! Abaixo a ameaça de reintegração de posse em Rio Claro!

Setores de estudantes autonomistas anti-partidários e organizações sectárias sem o menor peso no movimento estudantil da UNESP tentam, de maneira oportunista, atacar a LER-QI nos acusando de levar militantes de outras estruturas para votar na plenária que definiu a desocupação ou ter manobrado a mesa para que nossa posição prevalecesse. Os militantes e organizações que lutam lado a lado conosco nos locais onde atuamos sabem que esses métodos não fazem parte de nossa tradição e que travamos um combate ferrenho contra as burocracias que os utilizam. Desde o início da greve, fizemos um esforço enorme para levar a solidariedade de outras estruturas como a USP e UNICAMP sem nunca desrespeitar os espaços de deliberações. Não permitiremos que este tipo de calunia oportunista seja difundida de maneira irresponsável sem que sejam apresentadas provas que as confirmem. Estes ataques despolitizados e desesperados contra nossa organização só comprovam a incapacidade desses setores de apresentar criticas públicas e fundamentadas contra nossas posições políticas.

O movimento estudantil da Unesp mais uma vez deixa lições

A força do movimento estudantil da UNESP reside não apenas em sua combatividade, mas principalmente na capacidade de auto-organização e coordenação das lutas, e esta é uma primeira lição importante para extrair desse processo. As ações unificadas que foram decisivas para ampliar a mobilização e obter conquistas foi articulada a partir da Comissão Estadual de Mobilização (CEM), que agora passa ser o DCE provisório até nosso próximo congresso em setembro. Esse instrumento de coordenação é composto por delegados eleitos em assembleias de base e com mandatos revogáveis. A força e legitimidade das assembleias de base definiram os rumos da mobilização e permitiram que o movimento estudantil da UNESP desse um salto de organização em pouco tempo. De um cenário de completa desarticulação no começo do ano, passamos para outro em que construímos e mantivemos até aqui uma greve estadual e uma ocupação de reitoria com conquistas significativas.

É impressionante o contraste entre a atuação de um instrumento como o DCE provisório da UNESP comparado as atuações de entidades como o DCE da USP e da UNICAMP. Sem qualquer estrutura, inclusive financeira, e tendo de lidar com a dificuldade da dispersão das unidades, os estudantes da UNESP deram um exemplo de como se organizar e lutar por suas demandas. Mesmo contando com um aparato com dezenas de diretores e com estrutura financeira bem articulada, essas entidades nada fizeram para mobilizar os estudantes de suas universidades para lutar contra o PIMESP e por outro projeto de educação. Optam pela atuação burocrática, parlamentar e reformista e constroem a passividade ao fugir das assembleias ao invés de apoiar-se nelas. Na atual conjuntura em que entramos no Brasil, esta concepção de entidade precisa ser combatida e superada para que o movimento estudantil possa ligar a luta por outra universidade a luta nas ruas e nas fábricas ao lado dos trabalhadores.

Outro exemplo importante que o movimento estudantil da UNESP mais uma vez deixa é a superação do corporativismo, seu caráter pró-operário e o peso dado para a aliança com os trabalhadores. Essas características se confirmam nas ações práticas na busca de aliança com os trabalhadores da UNESP e o apoio total a sua luta e na participação e protagonismo que centenas de estudantes de UNESP estão cumprindo nos atos de ruas que emergiram nas cidades do interior de São Paulo a partir da nova conjuntura que se abre a nível nacional. Mas é principalmente nos aspectos de programa onde isso se materializa. Parte significativa dos estudantes da UNESP defendem o programa de fim da terceirização e incorporação de todos os terceirizados sem concurso público e a bandeira de fim do vestibular e estatização das universidades particulares e a bandeira de uma universidade a serviço dos trabalhadores.

Nas próximas semanas manteremos nossa greve e as ocupações locais para pressionar as diretorias e congregações pelas pautas de cada unidade que não foram atendidas. Demos um passo importante ao frear o processo de elitização da UNESP ao avançar na permanência estudantil, porém precisamos manter a luta pela democratização radical da universidade para que seja gerida democraticamente a serviço dos interesses dos trabalhadores. Para isso é estratégico que nos voltemos para os jovens e trabalhadores que estão fora das universidades públicas, nos apegando à resolução que votamos para nossa pauta unificada de levantar a bandeira das cotas como parte da luta pelo fim do vestibular!

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