Sexta 29 de Março de 2024

Internacional

FIDEL CASTRO E CHAVEZ CONTRA O POVO LÍBIO

Apoiando Kadafi não se luta contra o imperialismo

21 Mar 2011   |   comentários

Diante do processo revolucionário
árabe e da guerra civil de frações na Líbia,
Fidel Castro e Hugo Chávez respaldaram
Muammar Kadafi. O argumento
do líder cubano é que o imperialismo
busca ocupar a Líbia e ficar com seu
petróleo. A ameaça de intervenção imperialista
tem que ser enfrentada pelos
lutadores operários, populares e antiimperialistas
porque é uma ameaça ao
processo revolucionário árabe. Porém o
castro-chavismo usa o fato como desculpa
para se refugiar no terreno dos
que buscam liquidar as insurreições de
massas.

Kadafi mais próximo de Luis XVI e
Batista que de Lumumba

Fidel Castro reconhece que “a revolução
no mundo árabe, que tanto
temem os EUA e a OTAN, é a dos que
carecem de todos os direitos diante
aos que ostentam todos os privilégios,
que dizem ser mais profunda que a de
1789 que se desatou na Europa com a
queda da Bastilha” (http://www.cubadebate.
cu/reflexione...). O que Castro
não assinala, é que se o norte da África
vive seu 1789, Kadafi está mais próximo
de Luis XVI, que do líder independentista
africano Patrice Lumumba. Apoiando
Kadafi, Castro toma partido dos que
“ostentam todos os privilégios” contra a
emergência dos que “carecem de todos
os direitos”.

A política de Fidel Castro e Chávez
compromete a luta contra o imperialismo
ao apoio a um ditador e dá ao imperialismo
as bandeiras democráticas
de um “1789” norte-africano. Desta forma
permite que fortaleça o operativo
de cooptação do processo revolucionário
que pretende os EUA.

Que o imperialismo queira se montar
sobre uma revolução para defender
seus próprios interesses é uma questão
tão velha como as revoluções. Na América
Latina conhecemos alguns exemplos.
Durante a guerra civil do bando
constitucionalista da revolução mexicana
(1914-1916) o presidente norte-americano
Woodrow Wilson favorecia o
armamento das tropas do general Francisco
Villa porque considerava que ele
fosse o único capaz de manter a unidade
do país. Equivocou-se, e pouco tempo
depois, em 1916, teve que intervir
militarmente no México contra Villa que
havia atacado a cidade de Columbus.

Guardando as proporções, já que
nem as forças de oposição na Líbia são
Pancho Villa a analogia histórica serve
para mostrar que o imperialismo não só
atua contra as revoluções com golpes
contra-revolucionários, mas também
cooptando suas direções.

O êxito de cooptação de uma revolução
pelo imperialismo depende da
radicalidade do movimento e de sua
direção política. A posição dos revolucionários
é oposta a do castro-chavismo
de apoiar os carrascos do povo
líbio. É a de lutar contra a ingerência
imperialista e seus agentes nas fileiras
do campo opositor. Para derrubar as
pretensões norte-americanas lutamos
por elevar o movimento revolucionário
árabe a uma autêntica luta antiimperialista
que não só rechace a intervenção
militar da OTAN, como também
que proclame seu compromisso com a
vitória do movimento palestino contra o
Estado de Israel.

Kadafi desmente Fidel

A revolução verde do kadafismo
igualmente a todos os movimentos do
nacionalismo pan-árabe, não liquidou
nem a estrutura tribal da Líbia, nem a
submissão nacional ao capital estrangeiro,
nem significou uma mudança nas
relações de propriedade. O regime de
Kadafi terminou em uma ditadura capitalista
corrupta e nepotista aliada ao
capital estrangeiro e aos imperialismos
europeus.

É o próprio Kadafi quem não se cansa
de dizer que está na liderança de uma
guerra contra o terrorismo da Al Qaeda,
na maior linha de luta contra o terrorismo
de Bush. Quem se compara com Israel
–carrasco do movimento nacional
palestino- bombardeando Gaza. Quem
adverte em um tom racista que seu amigo
Berlusconi não pode esquecer que
sua queda provocaria uma “invasão de
negros” na Europa.

Um divisor de águas

A posição castro-chavista abriu uma
enorme fissura na intelectualidade
apoiadora do castrismo e do chavismo,
e na esquerda populista e stalinista.
Para o castrismo o apoio à contra-
 revolução kadafista é similar ao apoio
que deu à repressão sobre a Primavera
de Praga na Tchecoslováquia em 1968
pelo Kremlin. Na esquerda latino-americana
é necessário um balanço e um
divisor de águas. Não há lugar para a
conciliação. Defender o posicionamento
de Castro e Chávez é estar contra
as massas insurretas. Precisam se pronunciar
claramente não só contra a intervenção
imperialista, mas também a
favor da derrubada revolucionária de
Kadafi. Essa é a única via para derrotar
o imperialismo e radicalizar política
e socialmente a revolução árabe, para
transformá-las em revoluções operárias
e socialistas.

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