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Apesar da vitória de Dilma, PT é derrotado nos principais polos industriais do país

27 Oct 2014   |   comentários

A derrota de Dilma e do PT em importantes centros industriais do país, que já havia ocorrido no 1º turno, se repetiram no 2º turno. Mais que um questionamento momentâneo, vimos uma perda de hegemonia do PT em seus históricos bastiões operários, algo mais estrutural.

A derrota de Dilma e do PT em importantes centros industriais do país, que já havia ocorrido no 1º turno, se repetiram no 2º turno. O discurso de uma candidatura de mudança de Marina Silva se transferiu em grande parte a Aécio Neves. Mais que um questionamento momentâneo, vimos uma perda de hegemonia do PT em seus históricos bastiões operários, algo mais estrutural.

O PT não só surgiu no calor do último grande ascenso operário do Brasil, no início da década de 80. Historicamente, este se manteve como partido hegemônico nas mais importantes regiões industriais do país. A chegada do PT ao governo federal e a transformação que trilhou nestes últimos 12 anos (que seguirá por mais 4) levou a uma perda de identidade e de sentimento “patriótico” de boa parcela do operariado com esse partido.

A classe que criou o PT, bastante enraizados nos trabalhadores mais qualificados das grandes indústrias e também entre trabalhadores dos serviços públicos, já não reconhece o filho como antes. O estrato social que o PT “criou”, ou seja, fez crescer massivamente nos seus 12 anos de governo, com a criação massiva de emprego com trabalhos precarizados, terceirizados e rotativos, além de uma ampla camada de pobres urbanos dependentes das políticas assistenciais, é que manteve sua maioria apertada nestas eleições.

Concentrações operárias de São Paulo e de Minas Gerais

Poderia se esperar que com a polarização do segundo turno, com a saída de Marina Silva do páreo, que se postava como terceira via, o mapeamento dos votos retornassem mais aos nichos históricos. Mas não foi isso que vimos neste domingo, dia 26/10.

No ABC paulista, o PT e Dilma confirmaram a histórica derrota que amargaram desde o primeiro turno. O PT voltou a vencer apenas em Diadema, mas com magros 54% dos votos, diferente dos segundos turnos de 2002, 2006 e 2010, quando venceu com 73%, 70% e 66%, respectivamente.

Em São Bernardo do Campo, berço político de Lula, o PT voltou a perder no segundo turno, atingindo 44% dos votos válidos, contra 56% de Aécio Neves. Nesta cidade, o pior desempenho do PT havia sido da própria Dilma em 2010, quando atingiu 56% dos votos no segundo turno.

Em Mauá, onde Marina Silva havia vencido no primeiro turno, o segundo turno foi de Aécio, com quase 56% dos votos, amargando mais uma derrota para o PT no ABC.

Em Osasco, na grande São Paulo, o PT perdeu também pela primeira vez, Dilma obteve 41% dos votos, contra 59% de Aécio. Diferente dos 65%, 58% e 55% de 2002, 2006 e 2010.

Das cidades de grande concentração operária do interior de São Paulo, Dilma venceu apenas em Hortolândia, na Região Metropolitana de Campinas, como no primeiro turno. Ainda assim bem abaixo das eleições anteriores, vieram de73%, 75% e 68% de 2002 a 2010, para 57% agora.

Em Sumaré, também na Região Metropolitana de Campinas, o PT perdeu pela primeira vez, repetindo o feito do primeiro turno. Perdeu por pouco, 49% para Dilma, contra os quase 51% de Aécio, mas bem distante da histórica casa dos 60% dos votos que o PT mantinha na cidade.

Na região, perderam também em Campinas, Indaiatuba, Vinhedo e Valinhos, como ocorreu no primeiro turno.

Em Minas Gerais, a história também se repetiu do primeiro para o segundo turno. Ainda que o PT tenha vencido Aécio Neves no Estado de conjunto, onde o candidato do PSDB foi governador por 8 anos, nas cidades mais operárias o PT saiu mal. Na capital, Belo Horizonte, Dilma perdeu com apenas 36% dos votos, vindo decrescendo de 76%, 63%, 50% de 2002 a 2010.

Em Contagem, uma das principais cidades industriais do Estado, Dilma atingiu apenas 48% dos votos, muito abaixo dos 82% de 2002, 76% e 64% de 2006 e 2010, respectivamente. Uma baixa drástica, uma amarga derrota.

Apenas em Betim o PT manteve sua hegemonia, onde Dilma obteve 56% dos votos. Mas seguindo a mesma tendência geral de baixa nos votos, saindo de 76%, 76% e 65% de 2002 a 2010.

Rio de Janeiro, Norte e Nordeste do país

No Rio de Janeiro, a situação é diferente, assim como foi no primeiro turno, quando o PSOL teve expressiva votação no primeiro turno. Das cidades operárias mais importantes do Estado, Dilma venceu em Duque de Caxias, São Gonçalo e Nova Iguaçu, com 69%, 64% e 68%, oscilando pouco para baixo em relação às últimas eleições.

Novamente, o Norte e o Nordeste do país foram a contra-tendência clara ao desgaste do PT, que garantiram a vitória de Dilma neste segundo turno. Em Manaus (AM), Camaçari e Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Recife (PE), o PT venceu com folga. Em alguns Estados venceu em todos os municípios. Ainda que em Manaus, por exemplo, tenha baixado do patamar próximo a 80% que oscilava nas eleições anteriores para 56% agora em 2014.

Uma forte mudança na base social do PT?

O que está em jogo para o PT é a possibilidade de uma mudança estrutural. Os históricos bastiões operários, a classe operária mais enraizada do país, nas grandes concentrações industriais, em parte perdeu sua identidade com o partido após estes 12 anos de governo; ou pelo menos não é mais uma identificação mais próxima como um dia já foi.

O PT passou de ser reconhecido como partido dos trabalhadores para se tornar um partido da ordem, que governa para os capitalistas, com alguma política social. Prova disso é que Dilma venceu apenas na faixa da população que recebe até 2 salários mínimos, composta da grande massa de pobres urbanos e dos setores operários mais precarizados. A contradição é que ainda na maioria dessas concentrações operárias o PT segue dirigindo os sindicatos a partir da CUT.

Uma das dificuldades que o partido deve cruzar no próximo governo é que perde espaço onde poderia ter mais solidez, mais organicidade, já que o apoio dos setores mais rotativos da economia e também dos pobres urbanos, é mais pragmático, e tende a oscilar de forma mais rápida de acordo com as oscilações da economia, que anda em franco declínio (“quem pode manter meus benefícios?”). Questão com a qual o PT dialogou durante a campanha dizendo que Aécio cortaria estes benefícios, mas ao custo de gerar ilusões que provavelmente não vai poder cumprir.

Para um governo de mais crise, com recessão econômica e a necessidade de ajustes econômicos que virão cedo ou tarde, a tendência é que esse questionamento seja ainda superior, e pode atingir mais claramente também a burocracia sindical dirigida pelo PT, que domina a CUT. Resta saber para onde será canalizado este questionamento. Por isso a necessidade de se construir uma forte alternativa da classe trabalhadora, independente das burocracias e patrões, enraizada no movimento operário, que retome os sindicatos como ferramentas de luta.

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