Quarta 24 de Abril de 2024

Juventude

SOBRE A EVASÃO NA USP

Alckmin e a “universidade de elite”

21 Mar 2011   |   comentários

Alckmin assumiu o governo do estado de São Paulo promovendo grandes mudanças e exacerbando as diferenças com Serra. Dissolveu a Secretaria de Ensino Superior – criada por Serra em 2008 quando tentou retirar a autonomia das universidades estaduais – e moveu todas as universidades para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, além de ter reafirmado a continuidade da UNIVESP agora com a denominação de “quarta universidade estadual paulista”. Estas medidas deixam claro o conteúdo da política proposta por Alckmin, que é ter, por um lado, a UNIVESP como um pólo de expansão precária de vagas por ensino à distância, sem prédios próprios, com professores precarizados (tutores) e com 60% das aulas na TV. E, por outro lado a USP, UNESP e Unicamp, juntamente à FAPESP, vinculadas à Secretaria de Desenvolvimento, com o objetivo de aportar para a grande burguesia com tecnologia e ciência de ponta, desenvolvendo centros elitistas de excelência que avancem na “internacionalização” da universidade. Mesmo com a blindagem oferecida pela alta dos preços das commodities, os ventos da crise sopram no Brasil, e fazem com que tanto o tucanato quanto Dilma tomem medidas de ataques ao conjunto da população para descarregar os custos da crise, que ainda não chegou, nas costas destes. As universidades não ficam de fora deste processo.

Tudo isto está em consonância com o que apontou a Folha de São Paulo, em 10/03, sobre a evasão na USP. O número de desistências na matrícula nunca foi tão alto, um em cada quatro estudantes trocou a USP por outras opções, o que a Folha aponta como um grande processo de democratização do ensino, com mais de 70000 bolsas do FIES (programa de financiamento do ensino superior do governo federal) e 420 mil bolsas do PROUNI, além da expansão de vagas das universidades federais com o REUNI, e do novo ENEM. Diante desse importante aumento das opções e de sua qualidade, seria natural que os estudantes optassem por outras universidades. O que reproduz a Folha, entretanto, é uma falácia, pois esta “democratização” do ensino superior se dá em um sentido de privatização e precarização da qualidade. A maior política de “democratização” do ensino superior do governo federal, desde FHC, é financiar instituições privadas de ensino, e, no governo Lula e agora com Dilma, dobrar as vagas das universidades federais sem dobrar os recursos (REUNI) combinada com a captação de recursos na iniciativa privada (lei de inovações tecnológicas). Esta suposta encruzilhada coloca para a USP a perspectiva de “tentar firmar-se como uma universidade de elite (...). Embora muitos torçam o nariz à menção da palavra "elite", seguir essa rota não chega a ser estranho às tradições da USP.” [1] Este é o projeto de Alckmin, uma universidade de elite para a elite, uma ilha de excelência num mar de precarização.

Hoje, vemos medidas como o plano diretor, que propõe uma reforma universitária que adéqüe currículos, oferecimentos de vagas e financiamento dos cursos às necessidades da grande burguesia - e os cursos que não se adequarem ao plano sofrerão sanções financeiras. Medidas estas que concretizam o projeto de Alckmin de uma universidade de elite, através de uma busca consciente por maior prestígio internacional, consolidando centros de excelência que cumpram este objetivo estratégico. É mais que urgente defender o caráter público da universidade e lutar pela sua real democratização.

[1Democratização do ensino cobra mudanças na universidade. Folha de São Paulo, 10/03/2011.

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