Quinta 25 de Abril de 2024

Cultura

Arte, universidade e mercado

Abaixo essa sociedade espetacular mercantil

24 Mar 2007   |   comentários

A consigna, uma das inúmeras que foram difundidas durante o processo de lutas contra a sociedade capitalista que o movimento estudantil protagonizou em maio de 1968, na França, não poderia melhor ecoar na sociedade contemporânea. A revista Caras lançou no mês passado uma coleção seriada intitulada “As pinturas mais valiosas do mundo” no qual anexa aos seus exemplares pinturas que atingiram um alto valor no mercado mundial com o “preço” etiquetado no pacote. De Da Vinci a Picasso as artes plásticas parecem ter atingido o esgotamento de seu sentido na sociedade atual, para se tornarem apenas mercadorias de luxo e signos do status quo.

Pelo vértice da tendência modernista nas artes, que se desenvolveu principalmente nas primeiras décadas do século passado essa posição, tão clara e difundida, da arte como um bem de consumo torna-se ainda mais degradante. Os artistas que protagonizaram as rupturas no campo das artes através da crítica as técnicas formais das academias de Belas Artes, ao modo de vida da humanidade, a sociedade capitalista, estão, na atualidade, digeridos, esvaziados e difundidos, tanto na academia quanto no mercado. Enquanto “Picassos” seguem sendo leiloados mundo afora e a Bovespa monta seu estande de investimentos na Bienal de São Paulo, as rupturas formais modernistas viram técnicas, agora também lecionadas como Belas Artes. Todo o questionamento da sociedade capitalista, proposta sob distintas perspectivas pelos grupos que conformaram esses artistas, é tomada por muitos como um discurso falido.

O que fazem então estes estudantes de artes plásticas, literatura, artes cênicas, cinema? Tornam-se professores ou críticos de arte? Ou se isolam dentro de seus ateliês e escritórios para procurar uma arte “genuína” , que parte de si mesmo e acaba em si mesmo, e pouco ou nada fala sobre o que acontece a sua volta, ou até mesmo da inserção dele mesmo na sociedade...mas pode ser vendida e exposta. Apesar desta tendência, muitos artistas na atualidade ainda buscam o efeito de choque no público, através da crítica aos acontecimentos sociais, ou mesmo através de uma crítica à condição humana hoje. Mas essa crítica, essa arte, parecem não conseguir fugir de um esvaziamento quase imediato de seu sentido, perdendo, rapidamente, seu motivo para existir, sua faculdade de sensibilizar o outro.

A produção artística na atualidade deve colocar-se contra a mercantilização e instucionalização que a ela é veladamente imposta. O debate vivo entre artistas, estudantes de arte e pessoas interessadas pode ser uma chave importante para travar-se esse combate cultural, a ser esboçado inclusive desde dentro da academia, nas universidades. Esses processos devem se reinserir na universidade por fora dos espaços da instituição, ou ela tenderá a se restringir a gestações mudas, e se fardará a estudar como relíquia o que ainda persiste vivo na arte.

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