Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

Bahrein

Abaixo a intervenção pró-imperialista da Arábia Saudita no Bahrein

20 Mar 2011   |   comentários

Enquanto a situação na Líbia entra em um momento de inflexão, os enfrentamentos de massas no Bahrein seguem. As manifestações contra a odiada monarquia sunita de Hamad bin Isa Al Khalifa na capital Manama foram brutalmente reprimidas em 15/03, deixando um saldo de 2 mortos e mais de 200 feridos. O Bahrein, um pequeno arquipélago próximo à Arábia Saudita, é uma das monarquias sunitas apoiada pelo imperialismo norte-americano. Assim como a Líbia, a principal atividade econômica do país é o petróleo, que responde a 60% das exportações e 30% do PIB. A monarquia do Bahrein, parasita e corrupta como é tradição, tem origem sunita, tal como a da Arábia Saudita e governa uma nação majoritariamente xiita (70% da população). Os manifestantes xiitas estão desde fevereiro realizando mobilizações e chegaram a ocupar a Praça das Pérolas, no centro de Manama. Porém, nada indica que a tese da imprensa burguesa de que se trata de um conflito sectário seja verdade, ainda que possa vir a tomar esta dinâmica, já que a reivindicação é por igualdade de direitos, e contra a monarquia sunita. O fato é que a intervenção da Arábia Saudita no Bahrein mostra a debilidade do regime em conter os protestos, que seguem.

O que está em jogo no Bahrein

O que está em jogo no Bahrein é muito mais que o destino deste pequeno arquipélago. Em primeiro lugar, por que a importância do Bahrein é política, já que abriga a V Frota da marinha dos EUA, sendo um aliado estratégico para os interesses imperialistas. Por outro lado, um golpe na monarquia do Bahrein poderia alentar as massas da vizinha Arábia Saudita a também se levantarem. Isso em si constituiria um salto de qualidade nos processos do Magreb e Oriente Médio, dada a importância da Arábia Saudita para o mundo, sendo o principal produtor de petróleo mundial. A monarquia saudita de Abdulah, tal como a do Bahrein, é de origem sunita. Embora na Arábia Saudita os xiitas sejam minoria, são maioria entre os trabalhadores, o que torna a possibilidade do contágio das reivindicações por igualdade de direitos do povo do Bahrein potencialmente mais explosivas.

Durante a segunda semana de março, estava marcada para acontecer na Arábia Saudita o “Dia de Fúria”, em que se realizariam grandes manifestações na capital, Riad. Entretanto, um fortíssimo aparato repressivo foi acionado, e ao que tudo indica as manifestações se restringiram às cidades menores em que os manifestantes foram reprimidos à bala. Entretanto, não se pode crer que a imensa insatisfação popular e dos trabalhadores da Arábia Saudita tenha sido vencida. Uma prova disso foram as greves nos setores da construção civil, em que milhares de trabalhadores cruzaram os braços contra as péssimas condições de trabalho. Apesar das imensas riquezas do país, 40% da população vive abaixo da linha da pobreza, enquanto a taxa de desemprego é de 10,5% e chega a cerca de 30% na população com idades entre 20 e 29 anos.

Este processo já foi responsável pela queda dos ativos da Arábia Saudita em seu menor nível em muitos anos, que se recuperou após a repressão ao “Dia de Fúria”. A instabilidade na Arábia Saudita poderia, portanto, levar a um agravamento ainda maior da crise capitalista, com a explosão do preço do petróleo, que muitos analistas imperialistas afirmam que poderia inaugurar uma dinâmica como a da crise dos anos 70, marcada pela alta do combustível, porém com o agravante de que o mundo já se encontra imerso em uma crise capitalista, e o recurso de fim do Acordo de Breton Woods já não mais é possível.

Por outro lado, há uma série de analistas que ressaltam que a queda da monarquia do Bahrein poderia trazer como consequência o fortalecimento do Irã na região, argumento usado para legitimar a entrada em cena da Arábia Saudita, ainda que com contradições. De acordo com a agência Stratfor de 16/03: “As implicações regionais da agitação no Bahrein foram sublinhadas quando o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, visitou Manama em 12 de março, e instou o regime do Bahrein a fazer reformas ousadas. Gates disse que a interferência iraniana se tornaria uma grande possibilidade. Enquanto o Bahrein e a Arábia Saudita se unem para evitar essa possibilidade, esta não é isenta de riscos. Líder da linha-dura movimento Haq Mushaima Hassan, que acredita-se estar insuflando a agitação xiita no Barein com o apoio do Irã, disse que a intervenção da Arábia Saudita daria ao Irã o mesmo direito de intervir. Um cenário regional de forças árabes sunitas reprimindo os xiitas é ua pressão sobre o Irã para responder mais abertamente, mas a sua capacidade militar é limitada e é uma opção muito arriscada. Assim, apesar de não haver sinal de que o exército iraniano tomará medidas militares, a situação na região poderia piorar se os xiitas no Barein continuam as manifestações ".

Lidar com esta situação mantendo seus aliados foi a razão da recente visita de Robert Gates. É de se crer que a criminosa ocupação militar do Bahrein pelas tropas da Arábia Saudita tenha sido negociada durante a visita de Gates, apesar das declarações oficiais da Casa Branca dizer o contrário. Isso demonstra que o imperialismo de Obama, enquanto enche a boca para falar em democracia, não hesita em prestar apoio às mais reacionárias monarquias árabes para garantir seus interesses.

Fora as tropas da Arábia Saudita do Bahrein

A Arábia Saudita se aproveita de sua vitória tática ao impedir as manifestações de massas m Riad, e impor um reacionário estado de emergência em seu próprio país, para investir contra o Bahrein e dar um fim às mobilizações contra as monarquias pró-imperialistas na região. Cerca de mil homens sauditas e 500 policiais do EAU estão marchando sobre as cidades do Bahrein. Entretanto, a população do Bahrein não deixou de se enfrentar com as forças de repressão e está se colocando contra as forças de ocupação. É preciso apoiar-se nesta disposição de luta do povo do Bahrein, que segue se enfrentando heroicamente para acabar com a ocupação militar das tropas sauditas e avançar nas demandas postas pelas manifestações. Buscar apoio nos organismos do imperialismo como a ONU, o em outro nível nas forças iranianas comandadas por Ahmadinejad [1] , como foi anunciado pelos setores da direção xiita do movimento opositor Al Ayyan, é levar esta luta a um beco sem saída.

Também é necessário que o chamado feito em 14/03 pela União Geral dos Sindicatos do Bahrein por uma greve geral contra a repressão aos manifestantes, se efetive e tome a forma de uma greve geral política, que coloque os trabalhadores no centro da luta contra a monarquia, e abra espaço para a criação dos organismos de autodeterminação dos setores em luta, unificando trabalhadores sunitas e xiitas. Torna-se mais que urgente a constituição de comissões de auto-defesa dos trabalhadores e do povo, para que estes possam resistir aos ataques das tropas ocupantes e das forças leais à monarquia.

Os trabalhadores e o povo do Bahrein e da Arábia Saudita são irmãos. Sua unificação na luta contra as reacionárias monarquias pró-imperialistas que os oprimem há décadas poderia impor uma derrota estratégica, abrindo um novo momento da primavera árabe, e dando um novo alento para a resistência do povo líbio e uma perspectiva superior para todos os povos e trabalhadores da região. Um avanço neste sentido, também poderia alentar o surgimento de uma direção revolucionária, que pudesse avançar de maneira independente das alternativas burguesas e de qualquer arremedo tardio de panarabismo, provado pela história ser incapaz de responder à emancipação dos trabalhadores e do povo árabe.

[1Apoiar-se no Irã seria problemático para o desenvolvimento em chave progressista do processo, pois além de se tratar de um regime reacionário, que afoga as manifestações de seu próprio povo poderia levar a que a luta dos bareinitas a uma dinâmica de enfrentamentos sectários entre sunitas e xiitas. Esta divisão só pode favorecer ao imperialismo ou aos regimes teocráticos da região.

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