Sábado 20 de Abril de 2024

GRAVE ACIDENTE COM A LINHA 117 EM CAMPINAS

A vida de mais um Silva no caos do transporte coletivo

23 Jul 2013   |   comentários

Nessa manhã, em meio à forte chuva da madrugada, eu e muitos outros fomos trabalhar com um pouco mais de medo. Entenda bem: um pouco mais. A situação caótica de abandono, sucateamento e destruição do transporte coletivo em Campinas é uma armadilha pronta a nos atingir diariamente.

São milhares os usuários que tomam diariamente a linha 117. O ônibus DIC VI liga uma das regiões mais populosas da cidade ao centro. Trabalhadores e jovens vão e vem o dia todo, em ônibus abarrotados. Uma parte importante de seu trecho realiza-se na rodovia Santos Dumont, uma via de alta velocidade, em que muitos se arriscam em pontos de parada sem segurança alguma, totalmente expostos aos veículos que passam a mais de 100km/h [1].

No último dia 11, dia nacional de manifestações, participei de um ato no Terminal Ouro Verde. Professores estaduais e municipais da região do Ouro Verde e de outros locais, estudantes de escolas públicas, universitários, metalúrgicos e outros manifestantes debatiam com a população a situação dos serviços públicos e a resposta era imediata: apoio! Todos aqueles que tomam o 117, que usam o hospital Ouro Verde, que estudam na E. E. Eduardo Barnabé, sabem a precariedade dos serviços públicos. A realidade não é diferente nas outras escolas, hospitais e linhas de ônibus da periferia da cidade. A luta por garantir transporte, saúde e educação públicos e de qualidade é elementar. A população está engasgada com prefeitos e mafiosos do transporte que brincam com nossas vidas: é preciso cuspi-los.

A passagem aumenta, e a qualidade cai: essa é a regra da cidade com a tarifa mais cara do país. Ônibus sanfonas sem manutenção alguma param quebrados ao longo dos trajetos diariamente. Problemas nos freios, nas marchas, nos sinais, em tudo. Motoristas e cobradores doentes por conta da dupla-função, das dobras para ter um salário que pague as contas, do barulho de motores desregulados e do excesso de passageiros. Stress, surdez, depressão, problemas na coluna. A alta rotatividade, pelas péssimas condições de trabalho, expõe motoristas e usuários a riscos cotidianos. Ônibus imundos, verdadeiras incubadoras de viroses, doenças, insalubridade.

A imagem do metal retorcido do resto de um ônibus caído de uma ponte quase sem proteção é a fotografia da irracionalidade do transporte público em Campinas. Chego à escola, e encontro olhos marejados de uma estudante de 14 anos: não sabia se sua mãe estava viva, por ser a cobradora do ônibus acidentado, o mesmo que eu e milhares tomam diariamente. Apesar de ferida, estava viva. Mas Antonio da Silva, como tantos Silvas nesse país, perdeu sua vida em meio a uma cidade planejada em função dos lucros, não de nossas vidas. Antonio tinha 45 anos, era porteiro, e estava as 5 e meia da manhã a caminho do trabalho.

Mais de 20 pessoas estão feridas. Jonas e os mafiosos do transporte seguramente dormiam nesse horário. Rapidamente, a hipocrisia do prefeito saiu da cama para dizer, que em um viaduto sem a mínima proteção, tudo estava em perfeita ordem. A chuva e a culpabilização do motorista serão os argumentos para que Jonas e a máfia dos transportes fujam de sua responsabilidade, do crucial: nosso transporte coletivo está mais do que falido e vidas seguirão colocadas em risco diariamente. Em particular, a vida do povo pobre, da juventude, dos trabalhadores que usam o transporte coletivo e as linhas mais cheias.

Em junho, milhões de pessoas país afora começaram a questionar o caos no transporte público. A faísca contaminou Campinas e obrigou a prefeitura a reduzir as passagens. Mesmo assim, mais de 60 mil tomaram as ruas, e milhares de jovens e trabalhadores despertam para a vida política. Mesmo com a redução, seguimos com uma tarifa altíssima e péssimo transporte. O acidente com o 117, assim como tantos outros, poderiam ser evitados. Está mais do que claro que os mafiosos empresários e seus esquemas corruptos com Dilma, Alckmin e Jonas somente levam a altas tarifas de pedágios, a privatização dos aeroportos, a máfias no transporte coletivo urbano, sem tocar nos problemas que sentimos dia-a-dia.

Precisamos dizer basta: é preciso lutar pela estatização do transporte público sob controle dos motoristas, cobradores e usuários para garantir um transporte de qualidade e seguro de acordo com nossas reais necessidades de trabalho e lazer. Os usuários, motoristas e cobradores sabem que aquele acidente poderia ter sido evitado e quais são as reais necessidades para planificarmos o transporte.

Taxar as grandes fortunas de uma minoria e não permitir que nosso país entregue metade de nosso orçamento aos banqueiros (através do não pagamento da dívida pública) são soluções que viabilizariam o dinheiro necessário para resolver os principais problemas do povo, garantindo assim um transporte gratuito e de qualidade a população. Isso não somente é possível, mas necessário.

[1Só nos primeiros meses de 2013, foram 10 mortos por acidentes na rodovia, um aumento de 500% em comparação a todo o ano passado

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