Quinta 28 de Março de 2024

RIO DE JANEIRO

A remoção da Aldeia Maracanã e a repressão como exemplo de um projeto de cidade e país

25 Mar 2013   |   comentários

O despejo da Aldeia Maracanã é uma ponta de lança de um ataque profundo e bem maior. É a concretização de um “projeto de cidade” que reprime os trabalhadores, os negros, os índios, para entregar terrenos e realizar projetos à favor de Eike, da FIFA e das empreiteiras. Este projeto de cidade por sua vez está profundamente ligado a um “projeto de país” de Lula e (...)

O despejo da Aldeia Maracanã é uma ponta de lança de um ataque profundo e bem maior. É a concretização de um “projeto de cidade” que reprime os trabalhadores, os negros, os índios, para entregar terrenos e realizar projetos à favor de Eike, da FIFA e das empreiteiras. Este projeto de cidade por sua vez está profundamente ligado a um “projeto de país” de Lula e Dilma.

Uma cidade privatizada, militarizada e higienizada

O ataque aos povos indígenas organizados na Aldeia Maracanã é parte de um projeto de expulsão dos trabalhadores, dos negros e neste caso dos índios de todo terreno que seja alvo de privatização e seja útil a especulação imobiliária. Da mesma maneira que o terreno do antigo museu do índio é útil para a privatização do Maracanã (servindo de estacionamento e museu olímpico), milhares de casas estão sendo destruídas para abrir caminho a outras privatizações. Na região portuária um bairro inteiro foi entregue ao Consórcio Porto Maravilha, terrenos doados, serviços públicos como limpeza e iluminação urbana privatizadas. Por toda a cidade outros milhares de casas são destruídas para abrir caminho a BRT (sistemas de ônibus em traçados exclusivos) para ligar a Barra ao Aeroporto e abrir caminho para maior adensamento da região oeste da cidade, alvo da especulação imobiliária e que tem piores condições de vida para os trabalhadores (menos emprego, pior transporte, menos saúde e educação públicas, etc).

Este projeto de cidade favorece as empreiteiras e empresas que ganham estas concessões. No caso do Maracanã é o amigo de Cabral e Dilma, Eike Batista. Em meio a este projeto a cidade do Rio de Janeiro tem exibido uma imensa valorização do preço dos imóveis que junto as remoções com desculpas “olímpicas” tem ajudado a concretizar uma expulsão dos pobres e dos negros das regiões centrais da cidade. Uma cidade muito mais branca e de classe média aguardará os turistas se este projeto seguir tendo sucesso.

Parte fundamental da concretização deste projeto higienista se sustenta em meio a um aumento expressivo da repressão. Uma repressão com cada vez mais recursos, como novos caveirões e inovações como a “arma sônica” usada no despejo da Aldeia, mas fundamentalmente com as UPPs e o choque de Ordem. As UPP exibem um nível de militarização inaudito. Em cada uma delas há uma proporção de 1 policial a cada 80 habitantes, número 2 vezes maior que Israel tem para ocupar Gaza e a Cisjordânia! É uma operação de guerra, diária, contra os negros e trabalhadores em geral, impedindo o direito de reunião e expressão nas áreas ocupadas.

Este “projeto de cidade” como parte de um “projeto de país”

As obras do Maracanã e entrega de todo seu entorno a Eike funciona do mesmo modo que todas grandes obras do PAC neste “projeto de país”. Uma grande obra, “conquistada” por um consórcio de construtoras e empresas amigas do governo que recebe vultuosos financiamentos do BNDES, a juros abaixo do preço de mercado (menores até que os juros da dívida do governo).

No Maracanã, em Jirau, Belo Monte, no Porto Açu de Eike no Norte Fluminense o governo Dilma junto a seus aliados locais como Cabral e Paes estão subsidiando os bilionários e reprimindo os lutadores. As concessões de ferrovias, portos, aeroportos terão condições ainda melhores, antes mesmo de operarem estas empresas serão pagas como se o serviço estivesse funcionando. A conta desta “bolsa bilionário” fica toda com a classe trabalhadora.

No Estado do Rio de Janeiro e em todo o país não faltam recursos para financiar as grandes empresas, para mega-projetos do PAC, da Copa e Olimpíadas. Porém, ano a ano a população trabalhadora, com especial destaque ao Rio, sofre de tragédias anunciadas com as chuvas, padece de uma educação e saúde terríveis ao mesmo tempo que se arrocha salários dos trabalhadores destas áreas e aumenta sua privatização. Do mesmo modo que se militariza as cidades Dilma anuncia que realizará remoções forçadas em áreas de risco e envia, a cada greve, a Força de Segurança Nacional para reprimir – e prender! – grevistas em Jirau, Belo Monte e outras grandes obras do PAC.

Uma atualização de um país, pobre, precário, semi-colonial vendida como desenvolvimento

Esta realidade não vem a tona devido a uma situação da economia, do emprego, da renda que permite amplas camadas da classe trabalhadora consumirem mais ano a ano. A continuidade desta situação, sob impacto da crise capitalista, e das contradições internas não pode seguir indefinidamente. Mas não é só com uma situação econômica que isto se sustenta. É também pela política. Lula, Dilma, e seus aliados locais Cabral e Paes conseguem vender a reprodução das velhas condições neoliberais e heranças do Brasil “antigo” semi-colonial como “modernização”.

Para conseguir passar gato por lebre contam com o apoio das principais centrais sindicais do país como a CUT e CTB , dirigidas por burocracias sindicais ligadas ao PT e PcdoB. Na juventude a UNE lhes auxilia na mesma tarefa. Assim conseguem que este novo Rio sem pobres, militarizado vire “desenvolvimento”, que o boom de empregos sob Lula vire “nova classe média” enquanto o que se reproduzia era o trabalho precário, terceirizado e com intermináveis acidentes de trabalho. O financiamento de grandes empresas com subsídio do BNDES “criação de campeões nacionais”, as privatizações viraram “concessões”.
São estas bases profundas que estão em jogo em uma luta tão limitada no espaço como a luta da Aldeia Maracanã. Seu triunfo poderia abrir caminho a uma efetiva coordenação das lutas no Rio para enfrentar este projeto de cidade, e por esta via a este projeto de país.

Organizar e massificar a resistência para fazer frente a este projeto!

Os governos Cabral e Paes para fazerem passar seu projeto de cidade – lucrativa – para a burguesia e grandes empresários precisam atacar diferentes setores que resistem e lutam contra esse projeto elitista, racista e higienista. Remoções de ocupações urbanas localizadas na zona portuária da cidade, perseguição e repressão aos usuários de crack, militarização da vida com as UPPs, privatização da saúde, sucateamento da educação pública, transporte coletivo precário. A repressão aos indígenas e lutadores sociais que os apóiam em defesa da Aldeia Maracanã é mais uma mostra de um projeto de cidade já em curso. Para levar até o fim seu projeto Cabral e Paes não hesitarão – como já temos muitas mostras – em reprimir os setores que se oponham. Por isso é necessário e urgente que unifiquemos nossa luta para resistir. A partir dessa unidade buscaremos a força necessária para lutar em defesa da moradia e contra as remoções, reivindicando um plano de obras públicas que seja controlado pelos trabalhadores e usuários. Nos fortalecer para lutar contra a internação compulsória, contra a privatização da saúde, por uma saúde pública de qualidade! Contra o sucateamento da educação pública, contra fechamento de escolas! Por seguras condições de trabalho nas obras do PAC, Olimpíadas e Copa do Mundo! Por salários que garantam o que prevê a constituição para todos trabalhadores, o salário mínimo do DIEESE (cerca de R$ 2750,00)! Aldeia Maracanã para os povos indígenas! Contra a repressão aos lutadores e lutadoras! Retirada de qualquer processo contra lutadores!

Para avançar em implementar um plano de lutas como este é preciso uma urgente coordenação das lutas. Tratando isoladamente cada luta Cabral, Paes, Dilma e os empresários têm conseguido avançar contra os interesses dos trabalhadores e do povo. É preciso construir grandes coordenações de luta que além de reunir representantes de entidades sindicais, populares, estudantis, indígenas, dos movimento negro, de mulheres e de direitos humanos, reúnam dezenas de ativistas desde a base para tornar viva e real a coordenação e assim possamos dar passos para garantir nossos direitos! Com uma coordenação real, com participação dos trabalhadores desde os locais de trabalho e moradia poderemos começar a levantar uma oposição a este projeto de cidade e país retomando nossos métodos de luta como as greves, piquetes! Os parlamentares do PSOL, os sindicatos dirigidos pela esquerda anti-governista como o SEPE e Sindisprev podem cumprir um papel colocando seus recursos a serviço desta luta e sua organização desde a base! Será a partir de medidas concretas dos sindicatos dirigidos pela esquerda anti-governista que poderosos sindicatos como os metalúrgicos do Rio e também de Niterói, petroleiros (onde setores governistas são majoritários) serão pressionados a saírem do discurso contra “este projeto de cidade” e, arrastados pela base e não pela orientação política de suas direções, à ação.

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