Quinta 28 de Março de 2024

Teoria

DISCUSSÃO DE TROTSKY E DELEGAÇÃO DE COMUNISTAS AMERICANOS

A questão negra na América

18 Nov 2012 | Publicamos a seguir uma discussão de Trotsky com uma delegação de representantes da Liga Comunista da América (seção americana da Oposição de Esquerda Internacional). Esta discussão ocorreu em Prinkipo durante o exílio de Trotsky nesta localidade turca em fevereiro de 1933. Traduzido da versão em inglês de www.marxists.org   |   comentários

Swabeck: Nós da American League não temos nessa questão nenhuma diferença notável de um caráter importante, assim como não temos ainda um programa formulado. Eu apresento portanto visões que desenvolvemos em geral.

Como nós deveríamos ver a posição do negro americano: como uma minoria nacional ou como uma minoria racial? Isso é de grande importância para o nosso programa.

Os stalinistas mantem como sua principal consigna a de “autodeterminação para os negros” e reivindicam em conexão com isso um Estado separado e direitos estatais para os negros no cinturão negro. A aplicação pratica da ultima demanda tem revelado muito oportunismo. Por outro lado, eu reconheço que no trabalho prático em meio aos negros, apesar dos numerosos erros, o Partido Comunista pode também obter algumas conquistas. Por exemplo, nas greves têxteis do sul, onde em larga medida, as linhas de cor foram rompidas.

Weisbord, eu entendo, é a favor da consigna de “autodeterminação” e direitos de Estado separado. Ele mantem que é a aplicação da teoria da revolução permanente para a América.

[Albert Weisbord era então o dirigente de uma pequena organização chamada Communist League of Struggle (Liga Comunista de Luta)]

Nos avançamos da situação atual: existem aproximadamente 13 milhões de negros na América; a maioria nos estados do sul (cinturão negro). Nos estados do norte os negros estão concentrado nas comunidades industriais como operários, no Sul eles são em sua maioria fazendeiros e meeiros1.

Trotsky: Eles alugam do estado ou de proprietários privados?
Swabeck: De proprietários privados, de fazendeiros brancos e donos de plantações; alguns negros são donos das terras que eles trabalham.
A população negra do norte é mantida num grau inferior – economicamente, socialmente e culturalmente; no sul sob as opressivas condições Jim Crow. São barrados de muitos sindicatos importantes. Durante e desde a guerra, a migração do sul cresceu; talvez em torno de quatro a cinco milhões de negros vivem agora no norte. A população negra do norte é esmagadoramente proletária, mas também no sul a proletarização esta progredindo.

Hoje nenhum dos estados do sul tem uma maioria negra. Isso da mais enfase a forte migração para o norte. Nos colocamos a questão da seguinte maneira: os negros, em um sentido politico, são uma minoria nacional ou racial? Os negros se tornaram totalmente assimilados, Americanizados, e suas vidas na América tem desequilibrado as tradições do passado, modificado e transformado-as. Nos não podemos considerar os negros uma minoria nacional no sentido de terem sua própria língua. Eles não tem nenhum costume nacional especial, ou alguma religião ou cultura nacional especial; tampouco tem interesses especiais de minoria nacional. É impossível falar deles como uma minoria nacional nesse sentido. Nossa opinião é, portanto, de que os negros americanos são uma minoria racial as quais as posições e interesses estão subordinados as rela coes de classe do pais e dependentes delas.

Para nos, os negros representam um importante fator na luta de classes, quase um fator decisivo. Eles são um importante setor do proletariado. Existe também uma pequena burguesia negra na América, mas não tao poderosa ou tao influente ou cumprindo o mesmo papel que a pequena burguesia e burguesia em meio ao povo nacionalmente oprimido (colonial).

A consigna stalinista de “autodeterminação” é principalmente baseado num calculo do negro americano como uma minoria nacional, para ser ganho como aliado. Para nos a questão que se coloca é: nos queremos ganhar os negros como aliados sobre esta base e quem nós queremos ganhar, o proletariado negro ou a pequena burguesia negra? Nos parece que vamos, com essa consigna, ganhar principalmente a pequena burguesia e nos não podemos ter muito interesse em ganhá-los como aliados sobre essas bases. Reconhecemos que os pobres camponeses e os meeiros são os aliados mais próximos do proletariado, mas é nossa opinião de que eles podem ser ganhos principalmente a partir da luta de classes. Conceder nesta questão de principio colocaria os aliados da pequena burguesia na dianteira do proletariado e dos fazendeiros pobres também. Reconhecemos a existência de estágios definidos de desenvolvimento que requerem consignas específicos. Mas a consigna stalinista nos parece levar diretamente a “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”. A unidade dos trabalhadores, brancos e negros, devemos preparar desenvolvendo a partir de uma base classista, mas nisso é necessário reconhecer também os problemas raciais e junto a isso as consignas classistas também levantar as consignas raciais. É nossa opinião que nessa questão, a principal consigna deveria ser “igualdade social, politica e econômica para os negros”, assim como as que derivam a partir dai. Essa consigna é naturalmente completamente diferente da consigna stalinista de autodeterminação para uma minoria nacional. Os dirigentes do Partido Comunista sustentam que os negros trabalhadores e fazendeiros só podem ser ganhos em base a essa consigna. Para começar, isso era defendido para os negros em todo pais, mas hoje apenas para os estados do Sul. É nossa opinião de que podemos ganhar os trabalhadores negros apenas com uma base classista, levantando inclusive as consignas raciais para os estágios intermediários necessários. Dessa maneira acreditamos inclusive que os negros fazendeiros podem melhor ser ganhos como aliados diretos.

Centralmente, o problema das consignas acerca da questão negra é o problema do programa prático.

Trotsky: o ponto de vista dos camaradas americanos não me parece totalmente convincente. “autodeterminação” é uma demanda democrática. Nossos camaradas americanos levantam essa demanda liberal para ir contra a demanda democrática.. Essa demanda liberal é, além do mais, complicada, eu entendo o que “igualdade politica” significa. Mas qual é o significado de igualdade econômica e social por dentro de uma sociedade capitalista? Isso significa uma demanda para a opinião publica que todos recebam igual proteção das leis? Mas isso é igualdade politica. A reivindicação “igualdade política, econômica e social” me soa ambígua e enquanto ela é confusa para mim, ela também se abre facilmente à interpretação errada.

Os negros são uma raça e não uma nação: - nações crescem a partir da questão racial sob condições definidas. Os negros na Africa não são ainda uma nação, mas eles estão no processo de construção de uma nação. Os negros americanos estão em um nível cultural superior. Mas enquanto eles estão sob a pressão dos americanos, eles se tornam interessados no desenvolvimento dos negros na Africa. O negro americano desenvolvera lideres para a Africa, que alguém pode dizer com segurança e que, por sua vez, influenciarão o desenvolvimento da consciência politica na América.

Nós não devemos, com toda certeza, obrigar os negros a se tornar uma nação; se eles são, então essa é uma questão de consciência deles, isto é, pelo que eles desejam e pelo que eles lutam. Nós dizemos: se os negros querem isso então nós devemos lutar contra o imperialismo até a última gota de sangue, para que eles ganhem esse direito, onde quer que seja e como eles desejarem, para separar um pedaço de terra para eles mesmos. O fato de que eles não sejam hoje maioria em nenhum estado não tem importância. Não é uma questão de autoridade dos estados, mas dos negros. Que no território esmagadoramente negro também tem existido e permanecerão existindo brancos lá daqui em diante não é a questão e nós não precisamos hoje quebrar nossas cabeças sobre a possibilidade de que em algum momento os brancos serão suprimidos pelos negros. Em qualquer caso, a supressão dos negros empurra-os em direção à unidade política e nacional.

Que a consigna de “auto-determinação” irá preferencialmente ganhar a pequena burguesia ao invés dos trabalhadores – tal argumento seria também bem sustentado para a consigna de igualdade. É claro que os elementos especiais dos negros que aparecem mais aos olhos públicos (homens de negócio, intelectuais, advogados, etc) são mais ativos e reagem mais ativamente contra a desigualdade. É possível dizer que a demanda liberal assim como as democráticas em primeira instância atrairá a pequena burguesia e só depois os trabalhadores.

Se a situação fosse tal que na América existissem ações comuns entre os trabalhadores brancos e os negros, que a solidariedade de classe já tivesse se tornado um fato, então talvez os argumentos de nossos camaradas teriam uma base – eu não digo que elas seriam corretas – então talvez nós separaríamos os trabalhadores negros dos brancos se nós começássemos com a consigna da “auto-determinação”.
Mas hoje os trabalhadores brancos em relação aos negros são os opressores, canalhas, que perseguem os negros e os amarelos, os humilham e os lincham. Quando os trabalhadores negros se unem com sua própria pequena burguesia, isso se dá porque não estão ainda suficientemente desenvolvidos para defender seus direitos elementares. Para os trabalhadores nos estados do Sul, a demanda liberal de “igualdade social, política e econômica iria indubitavelmente significar progresso, mas a demanda pela “auto-determinação” um progresso superior. De qualquer forma, com a consigna “igualdade social, política e econômica” eles podem muito mais facilmente serem enganados (“de acordo com a lei você já tem essa igualdade”).

Quando nós tivermos avançado tanto que os negros digam que querem autonomia; então eles tomam uma posição hostil conta o imperialismo americano. Nesse estágio, os trabalhadores já estão muito mais determinados do que a pequena burguesia. Os trabalhadores vão então ver que a pequena burguesia é incapaz de lutar e que não chega a lugar algum, mas eles continuarão reconhecendo simultaneamente que os trabalhadores brancos comunistas lutam pelas suas reivindicações, e isso empurrará eles, os negros proletários, até o Comunismo.

Weisbord está correto de certa maneira quando diz que a “auto-determinação” dos negros pertence a questão da revolução permanente na América. Os negros irão, através de seu despertar, através de suas reivindicações por autonomia, e através da mobilização democráticas d suas forças, serão empurrados ao classismo. A pequena-burguesia tomará a demanda pela “igualdade social, política e econômica” e por “autodeterminação” mas se provará absolutamente incapaz na luta; o proletariado negro marchará sobre a pequena-burguesia em direção à revolução proletária. Isso talvez seja para eles o trajeto mais importante. Eu não vejo razão, portanto, de porque nós não deveríamos levantar para a demanda de “autodeterminação”.

Eu não tenho certeza se os negros no sul não falam de fato sua própria língua negra. Agora que eles estão sendo linchados só por serem negros eles naturalmente temem falar sua língua negra; mas quando eles estiverem livres, sua língua negra vai viver novamente. Eu aconselharia os camaradas americanos a estudar essa questão muito seriamente, incluindo a língua nos estados do sul. Devido a todos esses Masons eu preferiria, nessa questão, inclinar-me à posição do partido (Comunista); é claro, com a observação: eu nunca estudei essa questão e nos meus comentários eu parto das considerações gerais. Eu me baseio somente sobre os argumentos trazidos à tona pelos camaradas americanos. Eu os acho insuficientes e os considero uma certa concessão ao ponto de vista do chauvinismo americano, o qual me aparenta ser perigoso.

O que nós podemos perder nessa questão quando nós levantamos nossas reivindicações, e o que tem os negros hoje a perder? Nós não os forçamos a se separar dos EUA, mas eles tem o direito total de autodeterminação quando eles assim desejarem e nós os ajudaremos e defenderemos com todos os meios a nossa disposição na conquista dessa direito, o mesmo que nós defendemos a todos os povos oprimidos.

Swabeck: eu admito que você apresentou argumentos poderosos mas eu ainda não estou inteiramente convencido. A existência de uma língua especial nos estados do sul é possível; mas em geral, todos os negros americanos falam inglês. Eles são totalmente assimilados. Sua religião é a Batista americana e a língua falada nas igrejas é igualmente o inglês;

Igualdade econômica nós não a entendemos no sentido da lei. No norte (assim como, obviamente, nos estados do sul) os salários para os negros são sempre mais baixos do que para os trabalhadores brancos, e suas jornadas de trabalho mais longas, que é por assim dizer, aceito como uma base natural. Além disso, os negros são alocados nos trabalhos mais degradantes. É por causa de todas essas condições que nós reivindicamos igualdade econômica para os trabalhadores negros.

Nós não contestamos o direito do negro a autodeterminação. Essa não é a questão de nosso desacordo com os Stalinistas. Mas nós contestamos a precisão da consigna de “autodeterminação” como um meio para ganhar as massas negras. O impulso da população negra é antes de tudo em direção à igualdade nos sentidos social, político e econômico. Atualmente, o partido propaga a consigna de ’autodeterminação’ só para os estados do sul. Claramente, alguém dificilmente esperaria que os negros das indústrias do norte quereriam retornar ao sul, e não há nenhuma indicação de tal desejo. Ao contrário. Sua demanda não formulada é por ’igualdade econômica, social e política’ baseada nas condições sob as quais eles vivem. Esse é também o caso no sul. É por causa disso que nós acreditamos que esta é consigna racial importante. Nós não reconhecemos os negros sofrendo uma opressão nacional no mesmo sentido que os povos oprimidos colonizados. É nossa opinião que a consigna dos stalinistas tende a direcionar os negros para longe da base classista e mais em direção da base racial. Essa é a razão central para nossa oposição a ela. Nós somos da crença de que a consigna racial no sentido apresentado por nós encaminha diretamente à base classista.

Frank: Existem movimentos negros especiais nos EUA?

Swabeck: Sim, muitos. Primeiro nós tivemos o movimento de Garvey, baseado no objetivo de migração à África. Ele teve amplos seguidor, mas explodiu no ar. Agora não sobrou muito disso. Sua consigna era a criação de uma república negra na Africa. Outros movimentos negros majoritariamente vêm de uma base de reivindicações por igualdade política e social, como por exemplo a Liga [Associação Nacional] pelo Avanço das Pessoas de Cor ((League [National Association] for Advancement of Colored Peolple_)). Este é um vasto movimento nacional.

Trotsky: Eu acredito que a demanda por ’igualdade social, política e econômica’ também deveria permanecer e eu não falo contra essa demanda. É progressista à medida que não se realizou. A explicação do camarada Swabeck em consideração à questão da igualdade econômica é muito importante. Mas isso sozinho não decide a questão do destino do negro como tal, a questão da "nação", etc. De acordo com os argumentos dos camaradas americanos, alguém poderia dizer, por exemplo que a Bélgica também não tem direito como uma nação. Os belgas são católicos e um vasto setor deles fala francês. E se a França anexasse eles com tal argumento? Também o povo da Suíça, através de sua história, sentem, eles mesmos,apesar de línguas e religiões diferentes, como uma nação. Um critério abstrato não é decisivo nessa questão, mas muito mais decisivo é a consciência histórica, seus sentimentos e impulsos. Mas isso também não é determinado acidentalmente, mas principalmente pelas condições gerais. A questão da religião não tem absolutamente nada a ver com a questão da nação. A igreja batista do negro não tem nada a ver com a igreja batista de Rockfeller: são duas religiões diferentes.

O argumento político rejeitando a demanda da ’autodeterminação’ é doutrinário. Aquele que sempre ouvimos na Rússia em relação a questão da ’autodeterminação’. As experiências russas nos mostraram que grupos que vivem em base camponesa retêm peculiaridades, seus costumes, suas línguas, etc, e dadas as oportunidades eles os desenvolvem novamente.

Os negros não estão ainda despertos e eles não estão ainda unidos aos trabalhadores brancos. 99.9% dos trabalhadores americanos são chauvinistas, em relação aos negros eles são algozes e eles o são também em relação aos chineses. É necessário ensinar os monstros americanos. É necessário fazê-los perceber que o Estado americano não é o Estado deles e que eles não devem ser, portanto, os guardiões desse Estado. Aqueles trabalhadores americanos que dizem: “Os negros deveriam se separar quando eles assim decidirem e nós os defenderemos contra nossa polícia americana” - aqueles são revolucionários, eu tenho confiança neles.

O argumento de que a consigna da ’autodeterminação’ encaminha para longe de uma base classista é uma adaptação à ideologia dos trabalhadores brancos. O negro pode ser desenvolvido para um ponto de vista de classe apenas quando o trabalhador branco for educado. No todo, a questão do povo colonizado é em primeira instância uma questão do desenvolvimento do trabalhador metropolitano.
O trabalhador americano é indescritivelmente reacionário. É mostrado hoje que ele não foi ganho ainda nem mesmo para a ideia de seguro social. Por causa disso, os comunistas americanos são obrigados a propagar reivindicações de reforma.

Quando atualmente os negros não reivindicam a autodeterminação é naturalmente pela mesma razão que os trabalhadores brancos não levantam ainda a consigna da ditadura do proletariado. O negro ainda não colocou dentro de sua pobre cabeça negra que ele ousa esculpir para ele mesmo um pedaço do grande e poderoso EUA. Mas o trabalhador branco precisa encontrar os negros a meio caminho e dizer a eles: “Quando você quiser se separar você terá nosso apoio”. Os trabalhadores Tchecos só vieram até o comunismo frente a desilusão com seu próprio Estado.

Eu acredito que pelo atraso político e teórico inédito e pelo avanço econômico inédito, o despertar da classe trabalhadora vai proceder bastante rapidamente. A velha cobertura ideológica explodirá, todas as questões vão emergir de uma vez, e uma vez que o país está tão maduro economicamente, a adaptação do teórico e do político ao nível econômico será alcançada muito rapidamente. É então possível que os negros se tornem o setor mais avançado. Já tivemos um exemplo similar na Rússia. Os russos eram os negros europeus. É muito possível que os negros também através da autodeterminação prosseguirão à ditadura do proletariado em um par de passos gigantescos, antes do grande bloco de trabalhadores brancos. Eles irão então consolidar a vanguarda. Eu estou absolutamente certo de que eles irão em qualquer caso lutar melhor do que os trabalhadores brancos. Isso, contudo, só poderá acontecer provido de o partido comunista continuar sem concessões uma impiedosa luta não contra as supostas predisposições nacionais dos negros, mas contra os colossais preconceitos dos trabalhadores brancos, e der a isso nenhum concessão, seja qual for.

Swabeck: sua opinião, é portanto, de que a consigna de ’autodeterminação’ será o meio para congregar os negro em movimento contra o imperialismo americano?

Trotsky: naturalmente, assim que os negro puderem arrancar seu próprio estado da poderosa América e com o apoio dos trabalhadores brancos sua consciência de si desenvolve-se enormemente.
Os reformistas e os revisionistas tem escrito muito sobre o assunto de que o capitalismo está continuando seu trabalho de civilização na África, e se os povos da África fossem deixados por si mesmos eles serão mais explorados pelos empresários, etc, muito mais do que agora, onde eles ao menos tem uma certa medida de proteção legal.

Em certa medida esse argumento pode ser correto. Mas nesse caso é também em primeiro lugar a questão dos trabalhadores europeus: sem a sua libertação, a real libertação das colônias também não é possível. Quando o trabalhador branco realiza o papel do opressor, ele não pode libertar a si mesmo, muito menos os povos colonizados. A autodeterminação dos povos colonizados pode, em certos períodos, levar a diferentes resultados; em última instância, contudo, ela levará à luta contra o imperialismo e à libertação dos povos colonizados.
A Social Democracia Austríaca (particularmente Renner) também levantou a questão das minorias nacionais abstratamente antes da guerra (primeira guerra). Eles argumentaram igualmente que a consigna de ’autodeterminação’ apenas levaria os trabalhadores para longe do ponto de vista de classe, e que tais estados de minorias não sobreviveriam independentemente. Era correta ou falsa essa maneira de colocar a questão? Era abstrato. A social Democracia Austríaca disse que as minorias nacionais não eram nações. O que nós vemos hoje? As partes separadas [do velho Império Austro-húngaro, dos Habsburgos] existem, muito mal, mas existem. Os Bolcheviques sempre lutaram na Rússia pela autodeterminação das minorias nacionais, incluindo o direito de completa separação. E ainda assim, ao alcançarem autodeterminação, esses grupos permaneceram com a União Soviética. Se a Social Democracia Austríaca tivesse antes aceitado a política correta nessa questão, eles teriam dito aos grupos nacionais minoritários: ’vocês tem direito pleno a autodeterminação, nós não temos qualquer interesse que seja de deixá-los nas mãos da monarquia Habsburgos’ – teria sido então possível, depois da revolução, criar uma grande federação Danúbio. A dialética dos desenvolvimentos mostra que onde o firme centralismo existiu, o estado foi aos pedaços, e onde a completa autodeterminação foi proposta, um estado real emergiu e permaneceu unido.

A questão negra é de enorme importância para a América. A Liga deve empreender uma séria discussão dessa questão, talvez em um boletim interno.

1 Os meeiros são não proprietários de terra que praticam o esquema de meação para sobreviver a partir do cultivo da terra de outrem, onde estabelece-se um esquema de “aluguel” da terra pela via da entrega de parte da produção para o proprietário. A meação se estendeu como politica dos proprietários brancos para os negros após a guerra civil, que libertou os negros norte-americanos e gerou uma grande massa de trabalhadores que se submeteriam a um regime de trabalho bastante mais superexplorado do que os meeiros anteriores – pequenos artesãos brancos.

Artigos relacionados: Teoria









  • Não há comentários para este artigo