Quinta 28 de Março de 2024

Questão negra

A questão negra e as eleições

10 Oct 2014   |   comentários

Em um país de maioria negra, onde 55% dos votantes são negros e pardos, a discussão sobre políticas para o povo negro pode definir os rumos da eleição.

O Brasil é o maior país negro fora da África, foi o país onde mais chegaram negros escravizados e também o último país do mundo a abolir a escravidão. Em um país de maioria negra, onde 55% dos votantes são negros e pardos, a discussão sobre políticas para o povo negro pode definir os rumos da eleição.

O apoio do movimento negro a Dilma significa colocarmos uma corda em nosso pescoço

Para conseguir capitalizar o descontentamento do povo negro, vários setores do movimento negro escreveram uma carta em apoio à candidatura de Dilma.

Há 11 anos na presidência, o governo PT mostrou que não é capaz de resolver os problemas dos negros em nosso país. Ao contrário, durante esse governo o índice de morte do povo negro só aumentou, assim como o trabalho precário. Colocou a Força Nacional contra as greves dos peões negros da construção civil. Para receber a Copa do Mundo, desalojou milhares de famílias, em sua maioria negras. A população carcerária, em sua maioria esmagadora composta por negros, duplicou durante os três mandatos do PT.

O PT foi responsável por mandar tropas para liderar a ocupação militar a ONU no Haiti, país que protagonizou uma revolução de negros escravos e que por conta dos ataques imperialistas é hoje o pais mais pobre da América Latina. Ao mesmo tempo, utilizou essa ação militar para treinar as forças que atuariam contra os negors e negras nas favelas brasileiras através das UPPs.

Tanto Aécio como Dilma são os grandes representantes da burguesia brasileira. Nas suas campanhas, recebem dinheiro de grandes empresas para defender seus interesses. Como quem paga a banda escolhe a música, essa ligação inviabiliza qualquer possibilidade desses candidatos serem representantes da voz dos trabalhadores, dos negros e negras.

Esses candidatos não podem resolver o problema dos negros sem terra nem dos quilombolas porque estão diretamente ligados ao grandes latifundiários. Não podem resolver os problemas da educação, saúde, transporte e moradia porque aceitam destinar religiosamente metade do orçamento público para o pagamento de juros e amortizações para os banqueiros e investidores milionários. Não podem combater a terceirização porque defendem essa via de maximização dos lucros patronais. Não irão combater o preconceito às religiões de matrizes africanas, pois estão enrolados com a bancada evangélica que prega o ódio a essa religiões e impõe a morte de milhares de mulheres negras que abortam clandestinamente. São incapazes de tirar as tropas brasileiras do Haiti, pois estão diretamente ligados com as empreiteiras que lucram com a “reconstrução” desse país.

O PT busca cooptar o movimento negro através de ações afirmativas e concessões como as cotas raciais e sociais, os programas de bolsas nas universidades (PROUNI, REUNI) etc. Essas politicas são uma forma de dar um pouco com uma mão para continuar tirando com as duas os direitos do povo negro, que como é a maioria da população só podem ser resolvidos se são tratados como direitos universais.

Se durante os anos de crescimento econômico foram dadas apenas algumas concessões, frente à crise que se avizinha, tanto por parte de Aécio como de Dilma, só podemos esperar ataques. Os negros são os que mais vão sofrer com os cortes nos gastos sociais, a inflação, o desemprego e a retirada de direitos para preservar os lucros patronais.

Pela libertação, negro não vota em patrão!

O racismo é uma ideologia criada para sustentar a exploração dos negros escravizados. Hoje continua servindo para explicar como negros e negras ainda permanecem em situação de miséria em nosso país, fazendo parte do setor mais explorado da classe operária e sendo a maior parte da população que sofre com as mazelas da falta de moradia, transporte, educação, saúde e etc. A superexploração e a miséria dos negros no nosso país serve para que os patrões continuem a aumentar suas taxas de lucros.

Para conseguir avançar nas demandas dos negros e negras é preciso por um lado unificar trabalhadores negros e negras de forma independente da classe dominante. A burguesia não é capaz de dar nem os direitos mais elementares para os negros do nosso país. Por isso teremos que arrancá-los à força, não podemos contar com os partidos que representam a classe dominante.

Os negro não podem terbnenhuma confiança no Estado (seja no poder executivo, judiciário ou legislativo), essas intituições da democracia dos ricos que são herdeiros diretos da casa grande. Essa democracia persiste em cima da perpetuação da pressão de negros e negras e do sangue dos que se levantaram contra essa miséria.

O movimento negro há anos tem reivindicado as cotas nas universidades, e essa é uma das únicas politicas que podem ser implementada por esses políticos causando o mínimo de ônus possível. Esses políticos colocam em seu programa cotas para não ter que tratar do problema mais estrutural da educação, que deixa a esmagadora maioria do povo pobre de fora do ensino superior. Se por um lado é verdade que as cotas raciais colocaram muitos negros nas universidades públicas, também é verdade que 73% dos jovens negros de 18 a 24 anos estão fora das universidades e que dos 37% que estão cursando o ensino superior, a maioria estuda nas instituições privadas.

Para que todos os negros e negras possam estudar nas universidades é preciso atacar os grandes conglomerados da educação privadas, lutar pela estatização das universidades particulares sem indenização e pelo fim do vestibular, como única forma de garantir que todos os negros que queiram possam entrar na universidade.

Não podemos cair na armadilha de que negros votam em negros. Um grande exemplo disso foi a candidatura da marina silva, única candidata negra a presidência, que na verdade representava os interesses da burguesia branca racista.

Nós negros e negras devemos votar nulo no segundo turno, ao mesmo tempo em que devemos debater como podemos avançar em nossa organização independente. Apoiando-nos na força que tiveram os trabalhadores da USP em sua greve, muitos dos quais são negros e negras, estamos fortalecendo Secretaria de políticas anti-racistas do Sintusp. Chamamos todos a participar das reuniões e das atividades impulsionadas por essa secretaria, que precisa se constituir como um polo de referência da luta negra que parte desde dentro do movimento operário. Uma primeira tarefa que precisamos colocar de pé é uma forte campanha pela retirada das tropas brasileiras do Haiti.

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