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Internacional

A quatro anos da invasão do Iraque

24 Mar 2007   |   comentários

Os resultados da invasão até o momento
Em março de 2003 Bush anunciou num discurso carregado de tons messiânicos que iniciava naquele momento a assassina ofensiva sobre o Iraque e seu povo. Naquele momento, o presidente norte-americano se baseava na superioridade militar de seu exército para assegurar uma vitória relativamente rápida. O objetivo de fundo era disciplinar as potências rivais buscando pela força a reversão do processo de decadência história do imperialismo norte-americano, de maneira a garantir que o século XXI fosse um novo século ianque, e de quebra redefinir as vias de dominação sobre o Oriente Médio e, sobretudo dos recursos energéticos do Iraque.

Quatro anos mais tarde com um saldo de cerca de 34 mil iraquianos mortos além de 3.200 soldados norte-americanos, e de um gasto de mais de US$ 378 bilhões (US$ 183.000 dólares por minuto), o resultado desta ofensiva por fora da correlação de forças é evidentemente um desastre de proporções históricas para os interesses do imperialismo. Como afirma o jornal imperialista britânico The Economist: “Deveria servir como exemplo de como construir a democracia no Oriente Médio, mas terminou sendo uma amostra de como arruinar um país. Deveria ser um aviso para os regimes radicais como os da Síria e do Irã. Deveria confrontar o extremismo islâmico na sua fonte, mas intensificou o jihad global. Deveria ser uma demonstração do poder global dos EUA, mas terminou debilitado militarmente pela insurgência” . Finaliza com uma afirmação incontestável: “O debate não é mais sobre como obter a ”˜vitória”™ no Iraque, mas como colocar limites às perdas dos EUA” . Para além da demagogia de “levar a democracia” ao Oriente Médio, com a qual o The Economist sempre pactuou como justificativa para o banho de sangue promovido pelo imperialismo na região, o fato de um dos veículos mais tradicionais do imperialismo britânico expor de maneira tão clara a falência da guerra do Iraque é uma mostra das proporções do estrago.

Dentre as principais conseqüências desta ofensiva do imperialismo norte-americano constam: a aceleração de sua decadência histórica como potência hegemónica, o fortalecimento de potências regionais de retórica anti norte-americana como o Irã no Oriente Médio e da Venezuela na América Latina, que buscam ampliar sua influência nestas regiões, e o conseqüente debilitamento dos aliados tradicionais dos EUA, uma das maiores taxas de desaprovação que um presidente já teve na história daquele país, hoje apenas 29% dos norte-americanos apóiam Bush. Mas apesar destes importantes elementos de desgaste se fazerem cada vez mais sentidos, o que tem obrigado o imperialismo inclusive a abrir um diálogo com o Irã sobre o futuro do Iraque, Bush continua defendendo sua política original, como o demonstra a requisição para o envio de mais 21.500 soldados ao Iraque, o que pode acelerar ainda mais as contradições abertas nos EUA.

Esta posição de Bush encontra-se respaldada pela própria política do Partido Democrata, que apesar de ter sido eleito fruto do repúdio da população à guerra do Iraque e ser maioria no congresso, tem mostrado que mantém acordo fundamental com a política dos republicanos, para além das diferenças e matizes existentes hoje. Prova disso é o apoio que deram a várias políticas reacionárias de Bush, como a autorização à própria guerra do Iraque e do Afeganistão, o apoio à construção do muro na fronteira entre os EUA e o México (do qual Hillary Clinton, presidenciável democrata é defensora entusiasmada), além de setores deste partido terem votado em favor da lei que legaliza a tortura nos interrogatórios. Neste sentido, a própria ilusão que a população norte-americana mantém no Partido Democrata pode sofrer algum desgaste na medida em que se torne mais evidente que aqueles não podem dar uma resposta de fundo aos anseios de acabar com a guerra.

Manifestações anti-guerra: é necessária uma perspectiva independente

Foi neste cenário político que entre os dias 17 e 18 de março milhares de pessoas vindas de mais de 150 cidades marcharam em Washington contra a guerra do Iraque, lembrando os massivos atos que em 1967 aconteceram no mesmo local contra a guerra do Vietnã. Outros atos aconteceram pelo país, como em Nova York e Los Angeles. “É o 40o aniversário da manifestação contra a guerra do Vietnã, que mudou o curso dos acontecimentos e esperamos poder fazer o mesmo hoje” , disse Alan Pugh, 27 anos, de Cleveland (Ohio, norte), estudante. Os manifestantes levavam cartazes pedindo o fim da guerra, e alguns o impeachment de Bush. Durante o ato do dia 17 em Washington foram presas 222 pessoas. Este movimento já havia dado mostras de ressurgir no início do ano quando cerca de 100.000 pessoas se mobilizaram em janeiro. Estes atos nos EUA se combinaram a marchas em cidades de diversos países, dentre os quais em Londres na Inglaterra, Madri na Espanha e Atenas na Grécia, e ao recentemente ocorrido em Vicenza na Itália que mergulhou o governo do presidente Prodi numa grande crise.

Apesar de ser um elemento fundamental na presente situação política norte-americana, o movimento anti-guerra ainda atua baseado em imensas ilusões nos democratas, mantendo a lógica de pressionar o Congresso para obter a saída das tropas do Iraque. É necessário que o movimento anti-guerra atue de maneira independente, já que como dissemos acima os democratas integram e defendem os interesses da mesma burguesia imperialista levando à frente uma política reacionária. Neste sentido, é preciso que os trabalhadores norte-americanos tomem a frente das ações anti-guerra, arrastando a comunidade negra, a juventude, e os latinos e imigrantes que no ano passado se levantaram em imensas mobilizações, pois são estes os que atuando de maneira independente podem golpear o imperialismo, tanto internamente, quanto brecar a política assassina que tem custado a vida do povo iraquiano e afegão. É nesta perspectiva que nós, como revolucionários, apostamos.

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