Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

MOVIMENTO OPERÁRIO

A posição dos revolucionários sobre os “planos de carreira”

16 Sep 2011   |   comentários

“Ao mesmo tempo (...) a classe operária não deve exagerar a seus próprios olhos o resultado final destas lutas diárias. Não deve esquecer-se de que luta contra os efeitos, mas não contra as causas desses efeitos; que logra conter o movimento descendente, mas não fazê-lo mudar de direção; que aplicam paliativos, mas não cura a enfermidade. (...)” [1]. Marx define toda a história da humanidade a partir da compreensão das contradições materiais que movem as diferentes classes sociais a um conflito irreconciliável a que denomina luta de classes. A burguesia, proprietária dos meios de produção e o proletariado, obrigado a vender sua força de trabalho, constituem a base material da sociedade dividida em classes sociais (o capitalismo).

No capitalismo o processo de trabalho assume um caráter peculiar já que seu intuito fundamental é conseguir reverter em valor de troca todas as necessidades humanas, valorizando o capital investido originalmente através da agregação de valor produzida pelo trabalho humano. Neste processo os proprietários (patrões) pagam aos trabalhadores apenas o necessário à sua reprodução como fonte de força de trabalho sob a forma de salário, acumulando de maneira privada (para si) a maior parte do produto do trabalho humano não pago (mais-valia). Estas definições feitas por Marx há quase dois séculos nos permitem entender que o trabalho assalariado longe de ser “natural” corresponde aos interesses materiais de uma classe, significando a possibilidade do lucro para os capitalistas e uma prisão para os trabalhadores que passam boa parte de suas vidas sob inúmeras privações.

No processo de valorização, a sede de lucros da burguesia e a competição imposta pela concorrência levam a uma constante busca pelo aumento da taxa de lucro de cada capitalista que o faz através da imposição aos trabalhadores do aumento das jornadas de trabalho, da redução dos salários, ou de mecanismos que lhe permitam uma “otimização” da mesma jornada de trabalho, aumentando a produtividade do trabalho. Como definia Marx: “Ao comprar a força de trabalho do operário e ao pagá-la pelo seu valor, o capitalista adquire, como qualquer outro comprador, o direito de consumir ou usar a mercadoria comprada. (...) Portanto, o capitalista, ao comprar o valor diário, ou semanal, da força de trabalho do operário, adquire o direito de servir-se dela ou de fazê-la funcionar durante todo o dia ou toda a semana. (...) A quantidade de trabalho que serve de limite ao valor da força de trabalho (ou seja, o salário) do operário não limita de modo algum a quantidade de trabalho que sua força de trabalho pode executar” [2].

E é neste contexto que os chamados Planos de Carreira tornam-se uma ferramenta extremamente eficaz para os patrões. Neste caso o aumento da produtividade é obtido através do atrelamento dos reajustes salariais às avaliações de desempenho e de produtividade individuais, ou seja, travestindo um ataque às condições de trabalho do conjunto dos trabalhadores através de pequenas “concessões” para alguns trabalhadores. Os capitalistas calculam os preços dos produtos e os salários (da diferença entre os dois extrai a mais-valia) não pelo que “cada” trabalhador produz, mas sim pela média de todos os trabalhadores de uma empresa ou ramo de produção. Na USP a produtividade do trabalho tem que ser medida pelo conjunto de todos os trabalhadores e não por “cada um”. Com o Plano de Carreira e o PROADE a Reitoria passa a tratar a produtividade como “individual”, relativa a cada funcionário, medida pelo “seu” desempenho. Ou seja, se um determinado trabalho é realizado por uma equipe de cinco funcionários, mesmo que seu resultado final seja positivo, os funcionários serão avaliados pelo desempenho individual, fazendo com que o “trabalho final” (coletivo) tenha um valor X, mas o custo pode ser diminuído pela individualização do desempenho, permitindo à gerência de recursos humanos “punir” e até demitir funcionários, diminuindo os custos e obrigando os demais a continuar produzindo o “trabalho final” com a mesma produtividade de antes.

Além disso, os Planos de Carreira impõe aos trabalhadores o espírito de competição e individualismo alimentando a ilusão de ascensão pelo mérito individual e causando uma nefasta divisão social e política entre “eficientes” e “indolentes” ou “improdutivos”. Do ponto de vista ideológico, a “ascensão individual” pelo mérito é o que permite à burguesia alimentar a idéia de uma “conciliação harmônica” de interesses, buscando desta forma falsear a divisão da sociedade entre classes sociais. E o Plano de Carreira ataca, também, um direito histórico e fundamental da classe trabalhadora: o contrato coletivo de trabalho, que foi uma dura batalha há mais de 100 anos para garantir que os patrões deixassem de contratar os trabalhadores individualmente, pagando a cada um como queria, impondo regras individuais para extrair o máximo possível de lucro (como no século XIX e começo do século XX). Por mais que pareça uma “modernidade”, os Planos de Carreira significam um retrocesso histórico da luta dos trabalhadores, entregando aos patrões o direito de “individualizar” a relação de trabalho, o que enfraquece a força da nossa classe e dos nossos sindicatos.

Partimos destas definições para tentar demonstrar que, para os marxistas revolucionários a luta por um Plano de Carreira “justo” ou adequado às necessidades dos trabalhadores é impossível de ser atingido na medida em que os Planos de Carreira são uma armadilha travestida de concessões utilizada pelos patrões para dividir os trabalhadores e aumentar sua margem de lucro através da precarização das condições de trabalho e da imposição de metas de produtividade inatingíveis que podem levar à morte milhões de trabalhadores todos os anos.

Portanto, para os revolucionários não se trata, então, da perspectiva de “reformar” ou “melhorar” os mecanismos de exploração, mas romper com o corporativismo e passar ao questionamento das causas, combinando a necessária luta por salários, pelo emprego para todos e pela redução da jornada de trabalho, à perspectiva revolucionária apontada já em meados do século XIX: “Em vez do lema conservador de: ‘Um salário justo por uma jornada de trabalho justa! ’, deverá inscrever na sua bandeira esta divisa revolucionária: ‘Abolição do sistema de trabalho assalariado! ’” [3].

Esta posição de princípios é a que nos separa, estrategicamente, de organizações do movimento sindical que apenas formalmente denunciam os Planos de Carreira como se fosse possível “separar” os “benefícios” da carreira, como o reajuste salarial dos “ataques”, como as avaliações por competência. Dentro do próprio Sintusp, onde compomos a Diretoria junto aos companheiros do Coletivo Piqueteiros e Lutadores, consideramos fundamental abrir e aprofundar esta discussão estratégica. Afinal, os sindicatos além de defender os direitos dos trabalhadores e seu nível de vida, contra os ataques patronais e governamentais, devem servir para a luta estratégica contra a exploração capitalista, pelo fim do capitalismo e seu sistema de assalariamento e superexploração.

Lutamos por:

 Fim do Proade! Abaixo a avaliação de desempenho e o “chicote” das chefias! Estabilidade no emprego!
 Efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público ou processo seletivo.
 Salário mínimo do DIEESE.
 Nenhuma demissão! Punição aos patrões da iniciativa privada ou pública que demitirem.
 Redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução de salário. Emprego pleno para todos!

[1Salário, preço e lucro, de Karl Marx.

[2Idem.

[3Idem.

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