Sexta 29 de Março de 2024

Nacional

Mais um massacre contra os sem terras. Até quando?

A política do governo Lula encoraja os latifundiários

05 Dec 2004   |   comentários

No sábado, 20 de novembro, um bando de pelo menos 15 homens armados invadiram o acampamento de sem terras conhecido como Terra Prometida, na cidade de Felisburgo, nordeste de Minas Gerais, próximo à Bahia. Chegaram atirando e ateando fogo, destruindo 31 barracas das 65 existentes que abrigavam cerca de 200 pessoas. Esse massacre resultou na morte de cinco sem terras e 13 feridos, entre eles 2 crianças.

A fazenda havia sido ocupada pelos sem terras há mais de dois anos, tendo sido vistoriada pelo Incra concluindo que essas terras, em grande parte, seriam devolutas, ou seja, do Estado. Mas, nesses dois anos os sem terras continuam acampados e sem conseguir as terras, pois o Incra e o Ministério de Desenvolvimento Agrário, dirigido pelo “senhor” Miguel Rosseto, dirigente da corrente do PT Democracia Socialista (DS), com sua política de conciliação e pactos com os fazendeiros e políticos burgueses na prática tem impedido a distribuição das terras “prometidas” .

O governo Lula, com sua política antipopular e antioperária, não cumpriu sequer com a metade dos assentamentos prometidos aos sem terras. Neste governo, o número de mortos entre os sem terras tem sido recorde. Isso não é por acaso: é o resultado da aliança do PT com os partidos burgueses e os latifundiários para aplicar uma política de defesa da propriedade privada, negando o direito aos sem terras de ocupar os latifúndios e colocando-o na “ilegalidade” . Os latifundiários se sentem encorajados pelo PT e armam seus bandos paramilitares para “defender suas propriedades” , que na realidade são terras do Estado, públicas, roubadas pelos capitalistas. Enquanto Lula vestia chapéus dos sem terras, na prática, sinalizava para os latifundiários que ficassem tranqüilos porque este governo vai garantir os interesses desses expropriadores, enganando e traindo os trabalhadores e o povo pobre. Os latifundiários se sentem mais livres para armar seus bandos e organizar verdadeiros assaltos contra os sem terras. No dia seguinte ao massacre em Felisburgo, outro bando de latifundiários invadiu o acampamento Nova Conquista, na Fazenda Santo Antonio, na região de Nova Alvorada do Sul, no Mato Grosso do Sul, disparando mais de cem tiros de escopeta e revólver calibre 38. Ninguém foi morto ou ferido porque os 140 acampados estavam numa reunião em outro acampamento.

Diante de mais esses ataques, o governo tenta eliminar suas responsabilidades e procura passar a imagem de que “são casos isolados” . Mentira, os latifundiários estão organizados militarmente para matar os sem terras em nome da “defesa da propriedade privada” ! O próprio presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduino afirma que “o horizonte está se fechando. E isso não é só em Minas” , e que “a tensão tem aumentado desde o primeiro ano do governo Lula” .

O “senhor ministro” Rosseto tem a cara de pau de afirmar que “é um crime inaceitável” e “premeditado” . Ora, qual o crime dos latifundiários contra os sem terras que o “senhor ministro” considera “aceitável” ? O “senhor ministro” , para encobrir o governo, mente ao falar em crime “premeditado” , pois o governo tinha conhecimento de que há dois anos o Ministério Público do Estado havia instaurado inquérito contra o fazendeiro por ameaças contra esses sem terras. Em julho passado um dos sem terras havia impetrado representação na polícia denunciando a ameaça de morte feita pelo latifundiário Adriano Chafik. Mas nesses dois anos nem o “senhor ministro” nem a polícia nem o governo fizeram qualquer coisa para garantir as terras para os acampados e a vida dos sem terras. Devem ser responsabilizados pelas mortes porque deixaram o latifundiário, como sempre, livre para organizar seu bando, constituído por pistoleiros e policiais civis, porque confiam na proteção do Estado e do governo capitalista.

Os responsáveis diretos por mais esse massacre devem ser punidos com cadeia e expropriação dos seus bens que devem passar imediatamente para o controle dos sem terras. Os sem terras acampados devem ter o direito de se armar para garantir suas vidas. Não adianta o dirigente do MST João Paulo Rodrigues afirmar que “não temos medo de jagunços” enquanto os sem terras continuam desarmados, sem defesa e organização, transformando-os em verdadeiros alvos dos bandos organizados pelos latifundiários. Também não adianta a direção da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), na pessoa do seu presidente Manuel Francisco dos Santos criticar “a falta de firmeza do presidente Lula” .

A direção do MST, da Contag e demais entidades dos trabalhadores do campo, não podem continuar aceitando essa situação em que os sem terras vivem abandonados nas beiras de estradas ou em fazendas, vivendo de cestas básicas, sem poder produzir e sustentar suas famílias, além de serem alvos indefesos dos latifundiários. A direção do MST e as demais direções não podem continuar apoiando este governo nem suas reformas “neoliberais” como a reforma universitária, exigindo apenas que “a derrubada da equipe económica” , como se não fosse Lula e seu governo os responsáveis pela negação da reforma agrária e pelos ataques contra os salários, a renda, o emprego e a violência. A própria direção do MST não pode negar que o governo mentiu quando fez um acordo para assentar 115 mil sem terras. Nem metade será possível, pois o governo Lula e o “senhor ministro” Rosseto priorizam os interesses dos capitalistas e negam as verbas para assentar os sem terras. Enquanto a direção do MST tem poupado o “senhor ministro” Rosseto e apoiado o governo Lula, os sem terras não se intimidaram em vaiá-lo na Conferência Nacional de Terra e à gua, no dia 22 de novembro.

A falsa ideologia criada por essa direção do MST de que seria necessário apoiar o governo e preservar Lula para evitar que a “direita cresça” está desmentida pelos massacres que expressam justamente o “crescimento” e o “encorajamento” dos latifundiários ’ “a direita” ’, pois estes compreendem bem que as traições de Lula e do PT contra os sem terras e o povo trabalhador dão mais força para que os expropriadores continuem impondo seu domínio, pelas leis ou pela “lei das armas” , como sempre foi e será.

A direção do MST deve romper com este governo e sua política para exigir, junto com os sindicatos que já rompem com o governo ’ como os que estão na Conlutas, por exemplo ’ que a CUT rompa com o governo Lula e assuma um programa de defesa dos interesses dos trabalhadores, dos sem terras e do povo pobre, convocando um Congresso Nacional de delegados eleitos entre os trabalhadores empregados, desempregados e os sem terras para discutir e aprovar um plano de ação que organize e defenda a ocupação e expropriação de todos os latifúndios, produtivos ou não, em combinação com a preparação de uma greve geral nacional contra as reformas e os ataques do governo Lula e dos capitalistas e pelo atendimento das reivindicações que garantam emprego e salário para todos e terra e crédito barato para os sem terras.

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