Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

A opção política do Syriza e o debate com a esquerda

03 Feb 2015   |   comentários

Dentro de setores da esquerda, há uma operação para eximir a opção política do Syriza de responsabilidade. Mesmo os mais entusiastas em disfarçarem o real significado das alianças do Syriza e suas correspondentes iniciativas, agora encontram subitamente “contradições” das quais não podem desvencilhar-se.

Dentro de setores da esquerda, há uma operação para eximir a opção política do Syriza de responsabilidade.

Mesmo os mais entusiastas em disfarçarem o real significado das alianças do Syriza e suas correspondentes iniciativas, agora encontram subitamente “contradições” das quais não podem desvencilhar-se. O correspondente do PSOL e dirigente da juventude do MÊS/Juntos, Thiago Aguiar, em seus primeiros “relatos” depois da vitória do Syriza, exaltava o combate iniciado na Grécia por Tsipras e responsabilizava o KKE (Partido Comunista Grego) pela “indigesta presença” dos Gregos Independentes no gabinete de Tsipras. O KKE, que defende uma aliança com setores burgueses que querem romper com a União Européia, e de fato se negou a compor a aliança de governo, é responsável pela divisão e paralisia dos trabalhadores em dezenas de jornadas de greve geral, sem um plano de ação que lhes desse continuidade. Mas seria leviano considerar que a presença da direita no gabinete de Tsipras resultou da negativa do Partido Comunista Grego em compor governo, e não de uma opção política do Syriza.

Dois dias depois, mesmo sem nenhuma crítica à direção do Syriza ou sua aliança de governo, reconhecia que “os principais enfrentamentos ainda não vieram”. As maiores contradições e desafios “ficariam na seguinte questão: o que significa a ‘renegociação’ da dívida? E se a Troika, com Merkel na vanguarda, não aceita ceder?”

Este argumento se parece muito com o “não restava outra opção”, “era preciso formar governo urgentemente”, com o qual se tenta justificar a opção política de formar governo com um partido nacionalista de direita.

A aprovação acrítica de todos os movimentos de Tsipras por parte do PSOL, que em suas notas oficiais frisam apenas os anúncios econômicos do novo governo (ainda não concretizados), deixando de lado sua política, serve de justificativa da lógica oportunista do Syriza, cuja coalizão com os Gregos Independentes seria “útil” para encarar, em melhores condições, a negociação da dívida.

Por mais que se rodeie o problema, Tsipras deixou claro que seu objetivo é fortalecer o capitalismo grego e sua posição na Europa. Esta estratégia, de superar a crise sem enfrentar o sistema capitalista, justifica conformar um governo de “unidade nacional” que neutraliza a dinâmica da luta de classes na Grécia.

É necessário enfrentar os diferentes projetos capitalistas para a crise da União Européia. Tanto a utopia de democratizar a UE que levanta a esquerda reformista, ignorando seu caráter imperialista e reacionário, como a demagogia da extrema direita que agita ódios nacionais com o objetivo de separar a classe operária entre os diferentes países e entre trabalhadores nativos e imigrantes, para deixá-la atada a setores das burguesias nacionais, e também às falsas alternativas de “patriotismo de esquerda”. Os trabalhadores necessitam um programa independente de toda variante capitalista.

Do que se trata para a esquerda revolucionária é dar passos para que a classe trabalhadora se constitua em sujeito político independente, para aproveitar o peso social que paralisou o país nas greves gerais.

Os trabalhadores e a juventude não podem ter nenhuma confiança no governo do Syriza e precisam desde já trilhar o caminho da mobilização independente para resistir às novas formas de austeridade que já se desenham e lutar por suas demandas. Frente à crise da Europa do capital e seus governos, para superar a fragmentação das fileiras operárias, combater a xenofobia, as políticas anti-imigrantes e ganhar os setores médios pauperizados pela crise, é necessário colocar esta luta contra os governos, a Troika e as instituições imperialistas da UE no caminho de impor governos de trabalhadores que lutem pelos Estados Unidos Socialistas da Europa. Esta é a única saída progressista para os trabalhadores de todo o continente.

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