Quinta 28 de Março de 2024

Movimento Operário

Movimento Luta de Classes

A necessidade de uma política classista e o papel da juventude trabalhadora

15 Jun 2005   |   comentários

O Luta de Classes, Movimento Revolucionário da Juventude Trabalhadora, foi lançado no último 1o de maio, com a presença de mais de 150 pessoas, entre trabalhadores da USP, PUC, Sabesp, Correios, metalúrgicos, bancários, cobradores de ónibus, judiciários, químicos, gráficos, do comércio, escritórios, etc.

No fim de maio foi realizado o I Encontro do MLC, quando aprovamos uma campanha de denúncia da traição das grandes centrais sindicais com um “acordão” de cúpula que abre espaço para o governo implementar a Reforma Sindical-Trabalhista. No campo internacional resolvemos apoiar a luta dos trabalhadores ceramistas de Zanon, uma fábrica na Argentina que há três anos funciona sem patrões, sob controle operário. Também lançamos o Jornal Luta de Classes, ferramenta central que em conjunto com o site, utilizaremos para impulsionar a construção nacional do MLC.

Diante do processo revolucionário da luta de classes na Bolívia, motorizada pela luta dos trabalhadores e do povo boliviano pela nacionalização do gás que derrubou o segundo presidente em dois anos, estamos iniciando uma ampla campanha de solidariedade internacional ativa. Estamos contagiados por esse grande exemplo da classe trabalhadora e do povo boliviano.

Luta de classes, desde as grandes fábricas aos trabalhos precarizados

A iniciativa da LER-QI em chamar a construção do Luta de Classes está diretamente relacionada à necessidade de organizar politicamente a juventude trabalhadora, potencializando sua disposição de luta a partir de uma política classista e revolucionária.

Desde as grandes fábricas e empresas de setores estratégicos dos serviços, os trabalhadores podem e precisam avançar das demandas de cada categoria à defesa dos interesses do conjunto da classe trabalhadora, passando pelo apoio ativo aos trabalhadores precarizados e tomando para si a tarefa de acabar com o desem-prego, impondo a divisão das horas de trabalho entre todas as mãos disponíveis sem redução de salário. É por isso que fazemos o chamado à juventude trabalhadora a fortalecer o Luta de Classes desde as grandes fábricas e os serviços chaves para o funcionamento da economia ’ como transporte, energia, telecomunicações, correios ’ passando pelas médias e pequenas empresas, hospitais, comércio, escritórios, até os trabalhadores mais preca-rizados e os desempregados.

Hoje temos o Luta de Classes no ABC, por exemplo, com jovens trabalhadores discutindo e escrevendo sobre a história do movimento operário nessa região estratégica da economia nacional, onde a classe operária industrial aparece em concentrações de milhares por fábrica. Esses jovens trabalhadores do Luta de Classes ABC ’ funcionários públicos, do comércio, da indústria ’ demonstram a compreensão e toda disposição para construir um movimento forte nessa região. É com esse objetivo que o nosso movimento está voltando forças para abrir uma casa operária e juvenil no ABC, que seja um verdadeiro pólo de organização dos trabalhadores, de expressão política e cultural da juventude trabalhadora, do movimento negro, do hip hop.

Para nós da LER-QI, é motivo de orgulho construir um movimento em conjunto com jovens militantes independentes que demonstram a cada momento uma gigantesca energia, iniciativa política e compromisso com as tarefas da nossa classe. Infelizmente, demonstra-se a impotência das correntes e partidos da esquerda, sem iniciativa alguma para organizar a juventude trabalhadora em torno das principais tarefas que a realidade impõe. Nem mesmo nos sindicatos dirigidos pela esquerda não se é impulsionada a organização dos trabalhadores desde a base e nem sua ligação com os trabalhadores mais precarizados, quase sempre não sindicalizados.

Como mostra disso, no caso das terceirizações, faz falta uma política para organizar, defender os direitos e dar proteção aos terceirizados contra as ameaças que sofrem. Ao invés de lutar para que todos os trabalhadores tenham salários e direitos iguais na perspectiva de conquistar a efetivação de todos os terceirizados, o PSTU, por exemplo, quando toca nesse assunto, defende o concurso público, que para a imensa maioria dos terceirizados significa a perda dos seus postos de trabalho. A paralisação que protagonizaram os terceirizados da USP, que nós do MLC apoiamos ativamente, e o apoio que vem sendo conquistado junto aos trabalhadores efetivados são exemplo de como avançar na unidade de classe.

A recomposição do movimento operário e o papel dos marxistas revolucionários

O movimento operário vem dando mostras de recomposição internacionalmente, depois de duas décadas de retrocesso e contrariando as teses do “fim do trabalho” bastante difundidas no início da década de 90. A adaptação a essas teses por parte de correntes da esquerda está diretamente ligada às orientações que negam a classe operária como sujeito social da revolução, atribuindo a outros setores, aos “movimentos sociais” em geral ou às “multidões” a definição de novos sujeitos.

O aumento do número de assalariados, sua fragmentação, a diminuição da classe operária industrial, o crescimento do setor de serviços e o aumento do desemprego são algumas das principais marcas das transformações da força de trabalho. O que é necessário ressaltar é a vigência do papel fundamental da classe operária, sua localização estratégica que ’ avançando na unidade da classe ’ é capaz de colocar em xeque o modo de produção capitalista, que hoje continua sendo a base de sustentação da sociedade.

Portanto, a classe operária permanece sendo a única classe que pode dirigir o conjunto dos explorados e oprimidos na grande tarefa de expropriar a burguesia e implantar a ditadura do proletariado. É essa compreensão estratégica que faz com que nossa corrente internacional, a FT (Fração Trotskista), atue ativamente no movimento operário, buscando aportar para que se desenvolvam processos mais avançados na luta de classes, como em Zanon, um valioso exemplo para a classe operária de todo o mundo e com o MLC.

Porque confiamos na classe operária, combatemos os obstáculos ao cumprimento do seu papel histórico: desde os aparatos burocráticos que amordaçam a ação política dos trabalhadores, passando pelos setores que afirmam o fim da classe operária como sujeito, até aqueles que viram as costas para o combate conseqüente às burocracias, abandonando milhões de trabalhadores ’ como a política de ruptura com a CUT adotada pelo PSTU.

Nós do MLC, fazemos a aposta estratégica de que todos esses obstáculos podem ser superados pela classe operária, com a recuperação dos métodos mais avançados que somente nossa classe pode levar a cabo.

O processo de rupturas com o governo Lula e o PT e as lutas que vêm ocorrendo são parte dessa recomposição. Depois de vinte anos, o movimento de massas faz sua experiência. Nós da LER-QI, achamos que a grande contribuição que podem dar os marxistas revolucionários no Brasil está ligada a construir frações classistas no movimento operário para levar até o final a experiência de independência de classe ’ fazendo com que os trabalhadores confiem em suas próprias forças, capazes de esmagar as burocracias conciliadoras, retomando os sindicatos como verdadeiras ferramentas de luta dos trabalhadores contra a burguesia e avançando na unidade da classe ’, um passo fundamental que foi abortado pelas direções conciliadoras do PT.

Os jovens trabalhadores que hoje começam a se colocar na vida política defendendo um posicionamento classista podem cumprir um papel chave ligando-se aos setores mais avançados da velha guarda, que romperam ou começam a romper suas ilusões com o governo Lula e o PT. E é para isso que vem o MLC.

A juventude trabalhadora tem um papel chave a cumprir, para que entrem em cena os batalhões do movimento operário em marcha à sua recomposição e reorganização.

A construção do MLC é uma contribuição nesse sentido. E frente às grandes tarefas, chamamos a juventude trabalhadora a botar de pé esse movimento em todo o país, espalhando-se pelas fábricas, bairros, locais de trabalho e estudo para atuar em cada processo de luta dos trabalhadores contra os patrões, o governo e a burocracia sindical, e preparando-se para os embates futuros ainda mais duros da luta de classes.

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