Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

ESTADOS UNIDOS E 15-O

A mobilização da juventude despertará os trabalhadores?

25 Oct 2011   |   comentários

Iniciado há mais de um mês, o movimento “Occupy Wall Street” em Nova Iorque pode expressar sinais do nascimento de um massivo movimento da juventude nos EUA e, com isto, inúmeras vias de contágio em todo o mundo . Este movimento começa, ainda que incipientemente, a atrair trabalhadores e a gerar um ativismo não só nas praças ocupadas, mas em centenas de universidades.

A crise da economia norte-americana como pano de fundo

A comemorada recuperação da economia em 2009–2010 logo se transformou numa imensa incerteza: se a divisão entre os partidos republicano e democrata, e dentro de cada um deles, não levaria esta potência à insólita posição de dar um calote. A fraqueza do emprego e renda nessa recuperação mostra sua insustentabilidade. Os números comemorados tratavam-se mais de uma recomposição de estoques que de um crescimento propriamente dito. Por sua vez, a crise da dívida na Europa acendem outras luzes amarelas.

Do ponto de vista social, o nível de renda dos trabalhadores em 2011, descontada a inflação, nos ritmos de recuperação de 2009-2010 (ou seja, sem considerar que a crise tende a agravar os problemas ainda mais), não alcançaria o nível de 2000 (o pico mais recente) antes de 2021 [1].

Há cortes de orçamento, demissões, recessão e uma “recuperação” contra a classe trabalhadora. É neste cenário econômico, mas também subjetivo, que se desenvolvem as ocupações e o movimento da juventude universitária americana.

Uma burguesia com crescentes sinais de divisão

Obama tentou assentar sua influência como um negociador, e terminou desgastado em diversas oportunidades. Negociando com todos, não tem agradado ninguém. Seus níveis de aprovação não são muito diferentes aos do odiado George W. Bush. No entanto, entre os democratas não há nenhuma opção a não ser manter seu mandatário.

Os republicanos não dão corda a seu setor mais dinâmico, o Tea Party, porque este não atrai votos do centro político neste sistema bipartidário (que mais se assemelha a um sistema de um só partido com duas frações públicas). Entre seus candidatos, nenhum, até o momento, parece capaz de vencer Obama e o partido tem se dividido bastante.

Estas incertezas em como enfrentar sua divisão política, que tem paralisado diversas votações no Parlamento, além das certezas de decadência do peso hegemônico e econômico dos EUA no mundo, motorizam as polarizações políticas com o surgimento do Tea Party, por um lado, e este novo movimento de ocupações e acampamento de rua, por outro. Segundo a pesquisa da Time, 12% dos americanos são parte ou simpatizam com o Tea Party. Por outro lado, só 27% os vêem favoravelmente. Já o movimento de ocupações é apoiado por 54% da população [2]. Não é possível comparar estes movimentos entre si, mas sim os sinais da tendência a polarizações com perda de hegemonia do centro do establishment norte-americano.

A burguesia norte-americana vê a profundidade de sua crise, mas não consegue pensar uma saída e menos ainda unificar-se. Não é possível deixar de constatar o auxílio que recebe pela debilidade da esquerda no país: o fracionamento do proletariado americano; seu atual estado de dormência (ainda com alguns espasmos, como em fevereiro em Wisconsin); a traidora central sindical AFL-CIO; e a inexistência de alternativas à esquerda, e mais ainda de um partido marxista revolucionário; tudo isso permite que as classes possuidoras e seus partidos tornem públicas suas divergências, e invistam nelas, em vez de unirem-se contra o inimigo comum: o proletariado. Ou seja, a virtual falta de oposição pela esquerda devolve em alguma medida um tempo de ação que a crise econômica tira do governo Obama e da burguesia ianque, o que amarra os tempos da crise por que passa o país. Em virtude disso, o movimento de ocupações ainda não configura nenhuma crise de hegemonia ou crise política orgânica; mas mostra as tendências que se acentuam, pois a crise está longe de terminar e abre espaços para o movimento de massas. A falta de ação do proletariado coloca todo o foco na juventude que começa a tomar as ruas respondendo distorcidamente aos anseios da população (mesmo através de seu slogan, “somos os 99%”). A falta de ação do proletariado ainda não faz com que a burguesia tenha que recorrer a saídas mais agressivas contra o proletariado, como um regime bonapartista, o que poderá se colocar em algum momento. Mas não deixa de ir treinando suas tropas de assalto primeiro contra os imigrantes, como já ocorre em diversos estados fronteiriços com o México.

Vários setores da juventude americana começam a se organizar

O pico deste iceberg que é o movimento estudantil norte-americano é a ocupação de Wall Street e sua replicação em mais de 100 cidades. No parque Zuccotti, algumas centenas de jovens, trabalhadores e ativistas contra a guerra têm permanecido. A partir deste ponto nevrálgico têm organizado atos contra a guerra (tentativa de ocupação do Museu Nacional Aero-Espacial), atos em bancos, atos em solidariedade a trabalhadores, aulas públicas, palestras, e sofrendo repressão policial e ameaça de desalojamento pelo prefeito bilionário Michael Bloomberg. Vários de seus atos reuniram milhares de pessoas, como na tentativa de desalojamento no dia 14/10 e no 15-O. O mesmo ocorreu em algumas cidades como Boston, Los Angeles, Denver e Chicago, com intensa repressão policial. Em diversas outras cidades, centenas se reúnem quase todos os dias. Esta parte do iceberg é visível, mas há algo mais profundo gestando-se e com potenciais mais duradouros.

Há anos algumas universidades americanas têm vivido esporádicas mobilizações estudantis e ocupações. Um local de concentração deste movimento foi o Estado de Nova Iorque. O movimento atual seria uma continuidade/salto em relação a esta experiência recente somada à influência da primavera árabe, dos indignados do Estado Espanhol, entre outras. Estas mobilizações estudantis centraram-se em sua maioria nas reduções de mensalidades e aumento de bolsas neste hiper-elitista regime universitário que chega a custar mais de US$ 30 mil ao ano, mesmo em universidades públicas. Em meio à crise, a capacidade dos pais pagarem a educação de seus filhos, ou do pagamento com empregos precários, reduziu-se drasticamente. Isto tem empurrado estes setores a levarem suas demandas aos movimentos de ocupação e a começar um interessante processo, ainda que inicial, de coordenações em Nova Iorque e Massachusetts (estado que inclui Boston) e com centenas de universidades realizando ocupações, assembléias, paralisações parciais (“walk-outs”).

No dia 14/10, a agência de notícia Reuters afirma que mais de 140 universidades tiveram algum tipo de mobilização em solidariedade ao movimento em Wall Street [3]. Fontes falam em assembléias importantes na NYU (Nova Iorque) e UMass (Boston) com mais de mil estudantes em cada. A crise capitalista pressionará crescentemente os estudantes para fora da universidade. Com a continuidade ou não do movimento de ocupações, é de se esperar que este renovado ativismo, de vanguarda, mas nacional, estenda-se no tempo e em sua influência.

A juventude pode abrir caminho para os trabalhadores?

centenas de sindicatos locais têm apoiado às ocupações financeiramente e em mobilizações conjuntas. Essa situação forçou até a super-poderosa e super-patronal central sindical AFL-CIO a pronunciar-se à favor das ocupações.

Ainda estamos longe, aparentemente, de ver uma situação como a que se desenvolveu em Wisconsin em qualquer local e menos ainda de forma nacional. Mesmo longe disso, o movimento que existe hoje já desperta setores do proletariado que vão às ocupações e, ao menos em Nova Iorque, fez setores super-precários do proletariado sentirem-se fortes para saírem a luta. Os trabalhadores da limpeza e segurança dos bancos da região de Wall Street protestaram recentemente junto ao movimento de ocupação por salários e segurança em seus empregos. O mesmo ocorreu em Los Angeles.

Poderia o movimento de ocupações e o movimento estudantil prenunciarem e abrirem caminho para que atos como desses trabalhadores precários dos prédios de Wall Street se generalizem?

Uma primeira necessidade estratégica num país como os Estados Unidos, dominado por dois partidos rivais que expressam uma mesma e estável elite econômica e financeira, é a mais absoluta independência em relação aos dois partidos do regime e ao conjunto de sua burguesia, sobretudo dos setores ligados aos democratas que buscam vender-se como amigos do povo. É necessário combater para que sejam os trabalhadores e a juventude os que tracem caminhos de luta para garantir suas reivindicações e começarem a surgir como uma posição política independente.


15-O e Ocupações: Está surgindo um movimento mundial da juventude?

“Quando a burguesia renuncia conscientemente e obstinadamente a resolver os problemas que são derivados da crise da sociedade burguesa, quando o proletariado ainda não está pronto para assumir esta tarefa, são os estudantes que assumem o centro do palco.” (León Trotsky em “As Tarefas dos comunistas na Espanha”)

A partir dos chamados feitos no Estado Espanhol, e mais ainda quando o movimento “Ocupem Wall Street” aderiu ao mesmo, setores da juventude e de trabalhadores de todo o mundo aderiram ao chamado e foram realizadas manifestações em 82 países neste 15-O. Nos países mais duramente tocados pela crise capitalista, pelas crises políticas que têm se desenvolvido em paralelo e ligadas à mesma como na Itália, Grécia e no próprio Estado Espanhol, o movimento foi mais massivo. Atraindo centenas de milhares em diversas cidades. No entanto, sua onda expansiva faz tocar setores da juventude em todo mundo que vão replicando suas consignas e métodos, fazendo ocupações próximas às bolsas de valores em Hong Kong, Tóquio, Seul, Frankfurt.

A paralisia das centrais sindicais pelegas e dos partidos traidores frente aos ataques contra o proletariado e à juventude trava o desenvolvimento de uma decidida resistência dos trabalhadores, deixando o foco mais dinâmico na indignação na juventude.

Duas tendências se mostram: os enfrentamentos de rua em Roma, Milão, Atenas, duramente atacados pela mídia por sua radicalidade; e movimentos que replicam o pronunciado autonomismo e pacifismo do movimento nos EUA. Mesmo nestes marcos, a ação da juventude pode dar lugar a um movimento global contra os ataques da crise capitalista, abrindo espaço para os trabalhadores. A partir de nossos companheiros do Classe Contra Classe que atuam diretamente no movimento de indignados do Estado Espanhol, mas também a partir das juventudes ligadas à Franção Trotskista que atuam em distintos países, trabalhamos para o desenvolvimento dessa tendência, no espelhando nos exemplos de aliança operário estudantil de Barcelona e na combatividade demonstrada pela juventude grega e italiana em suas últimas ações.

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