A luta exemplar dos trabalhadores da USP
27 Jun 2009
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Por: Daniel Matos
Os trabalhadores da USP já estão a mais de 50 dias em uma greve que ganhou as manchetes dos principais meios de comunicação do país. Apesar da ainda estar em curso, se faz necessário começar a tirar as primeiras conclusões dessa luta, pois em vários aspectos ela deve servir de exemplo para o conjunto da classe trabalhadora.
Combatividade, greve e piquetes
Em primeiro lugar, no marco de uma situação nacional em que os trabalhadores não têm sido capazes de superar suas direções atreladas ao governo e à patronal para resistir à política dos capitalistas de demitir, intensificar os ritmos de trabalho, arrochar os salários e retirar os direitos; no marco em que os próprios sindicatos ligados à Conlutas/PSTU e à Intersindical/PSOL não têm conseguido mobilizar suas bases para resistir a estes ataques; os trabalhadores da USP dão o exemplo de uma categoria combativa ao mobilizar sua base em uma forte greve com métodos radicalizados de luta como os piquetes, utilizados como instrumentos para defender o direito de greve diante das ameaças de punição e desconto dos salários que as chefias fazem contra os grevistas.
A classe trabalhadora só vai conseguir fazer com que os capitalistas paguem pela crise económica na medida em que forem capazes de se mobilizar e recorrer aos métodos de ação direta.
A ligação entre as demandas económicas e a defesa do Sintusp
Os trabalhadores da USP souberam combinar suas reivindicações mais elementares com a defesa de seu sindicato e de sua liberdade de organização sindical. Uma das reivindicações centrais da greve é a reintegração de Brandão, dirigente do sindicato demitido por perseguição política em dezembro de 2008; a retirada dos processos judiciais e administrativos que pesam sobre vários diretores e ativistas da categoria e dos estudantes; e a retirada da multa que foi cobrada do Sintusp e do DCE em função da ocupação da reitoria que os estudantes protagonizaram em aliança com os trabalhadores em 2007.
Desde o início de 2009, o Sintusp, para defender a liberdade de organização sindical e a reintegração de Brandão, vem desenvolvendo a três táticas: 1) uma campanha democrática junto a intelectuais, dirigentes políticos e sindicais e organizações de direitos humanos; 2) a mobilização da base da categoria para colocar de pé a forte greve atualmente em curso; e 3) e a atuação jurídica. Neste último âmbito, trata-se de utilizar as leis de defesa da liberdade de organização sindical que pelas lutas históricas da classe trabalhadora foram agregadas à Constituição, ainda que tendo claro que o Poder Judiciário está a serviço da burguesia.
Esse exemplo de defesa de sua organização sindical e de seus dirigentes é extremamente importante tendo em vista que, frente aos impactos da crise económica internacional no Brasil que ainda estão por vir, a burguesia tratará de tentar aniquilar os setores da classe trabalhadora que oferecerem uma séria resistência.
A luta pela unidade das fileiras operárias
O Sintusp é um dos poucos sindicatos do país que luta verdadeiramente em defesa dos terceirizados e tem como resolução congressual a demanda de incorporação dos terceirizados ao quadro funcional da universidade sem necessidade de concurso público, com salários e direitos iguais ao dos efetivos.
Esta greve foi marcada por uma forte denúncia do caráter semi-escravo a que os terceirizados estão submetidos na universidade; assim como da corrupção que esconde por trás do favorecimento das camarilhas acadêmicas tucanas no processo de privatização.
É como subproduto deste trabalho que durante a atual greve parte dos trabalhadores terceirizados da Faculdade de Medicina se encorajaram a se organizarem e a lutar por suas reivindicações.
A defesa da educação pública
Já em 2005 os trabalhadores da USP encabeçaram uma greve de mais de 30 dias por mais verbas para a educação. Em 2007, estiveram lado a lado com os estudantes na greve/ocupação da reitoria contra a política de Serra de restringir ainda mais a já restrita autonomia universitária para avançar em seus projetos de sucateamento e privatização das estaduais paulistas.
Este ano, os trabalhadores da USP , antes mesmo que os estudantes entrassem em greve, levantaram, como parte de suas reivindicações, a bandeira do fim do ensino à distância (Univesp), forma disfarçada de avançar no sucateamento do ensino superior com um discurso demagógico de “democratização” da universidade.
A luta pela democratização do poder na universidade
A crise hoje aberta na universidade, com um amplo questionamento da estrutura de poder vigente, responde em grande medida à resistência que a aliança entre trabalhadores e estudantes tem impostos ao avanço dos planos de sucateamento e privatização das estaduais paulistas.
Assim como o caráter oligárquico da atual estrutura de poder está a serviço de uma universidade elitista e racista, cujo conhecimento se coloca cada vez mais a serviço da produtividade do capital; a luta pela derrubada não só da reitora mas também do reacionário Conselho Universitário está a serviço de democratizar não só a estrutura de poder da universidade, mas também o acesso e o conhecimento nela produzido, o que será impossível sem colocar abaixo o vestibular e aumentar as vagas no ensino público superior de modo a permitir o acesso livre e direto dos filhos da classe trabalhador e do povo pobre na universidade.
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