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Internacional

CHILE

A luta dos trabalhadores e da juventude em Aysén

23 Feb 2012   |   comentários

Comentário Político Semanal do PTR-CcC n° 101
26-2-2012
Nicolás Miranda

Desde o dia 7/02 eclodiu na região de Aysen, no Chile, uma importante e heroica luta dos trabalhadores e de todo o povo contra as condições extremamente precárias de vida. Localizada em uma região extrema do país, a população de Aysen sofre ainda mais com a falta de educação, saúde, inflação e privatização dos bens naturais pelos grandes monopólios. A luta eclodiu com um projeto de lei que tenta entregar toda a atividade pesqueira aos empresários locais, contra parte da população que tira daí seu sustento. A luta se estendeu com a elaboração de um petitório amplo, com diversas reivindicações básicas de vida e de direitos e ganhou toda a população. Fez-se carne nas barricadas e nos dias 23 e 24 de fevereiro, fizerem recuar a polícia e a repressão, que tiveram que retornar aos quartéis e a população tomou a cidade em suas mãos. Como mostra o texto abaixo, a direção burocrática deste movimento, junto aos empresários e políticos burgueses, tentam já começar a entregar a luta. Nossos camaradas do PTR, organização irmã da LER-QI no Chile, estão dando apoio ativo a essa importante luta, não só estando lá diretamente, mas organizando mobilizações em apoio em várias partes do país.

A luta de Aysen se transformou em uma revolta popular com seus bloqueios de estradas, fechamentos de acessos às cidades e localidades, com suas barricadas sustentadas no apoio popular e no enfrentamento com Carabineros [polícia] em resposta a seus ataques. Seu petitório local levanta demandas legítimas das zonas extremas e postergadas do Chile. Estendem-se já por duas semanas. Os enfrentamentos nas barricadas duram mais de 12h.

O Governo respondeu com prepotência afirmando que é a Região com mais crescimento do país. Respondeu com uma repressão que recorda a da ditadura com feridos a balas disparadas à queima-roupa, perseguições até nos hospitais, ataques às moradias do povo trabalhador.

Ainda assim, a direção do movimento da luta abriu espaço a uma trégua de fato, chamando a desfazerem as barricadas, aceitando a negociação com a odiada Intendenta, dando abertura à negociação dos pontos do petitório separadamente, colocando no centro o tema dos combustíveis.

Isto abre um momento decisivo na luta. Para evitar que a trégua signifique um respiro para o Governo para ganhar tempo e passar à ofensiva, é necessário aprofundar a luta.

Um povo mobilizado, e a vanguarda das barricadas

Os bloqueios de estradas, fechamentos de acessos às cidades e localidades, as amplas mobilizações, a simpatia de todos o povo de Aysen, tem seu coração nas barricadas que enfrentam os ataques de Carabineros, que reforçaram sua repressão com efetivos enviados desde outras regiões. Com a expressa missão de quebrar a luta com a mais brutal repressão. Três lutadores se encontram hospitalizados em Santiago com perda de seus olhos por impactos de balas no rosto. Os policiais disparam corpo a corpo. Atacam as moradias. Perseguem até nos hospitais aos feridos para prendê-los.

Nada venceu a força da luta que nas batalhas da Ponte Ibañez, com suas barricadas, fez retroceder e dispersar à força de repressão.

As barricadas são sustentadas no apoio popular que abastece de alimentos, pedras, apoio, de resguardo.

A unidade das demandas, a divisão da luta

Os empresários que se somaram às demandas, rechaçam estes métodos de luta. Sem estes métodos, o petitório teria sido uma vez mais ignorado. Alguns pedem que se aplique a Lei de Segurança do Estado. Entretanto, mantém majoritariamente suas declarações de adesão.

Com eles vão os políticos patronais da direita como o senador RN Horvath, ou o deputado UDI David Sandoval, ou a prefeita PS Marisol Martínez.

Há que estar alerta. À primeira migalha que anuncie o governo, começarão a tentar por fim à luta. À primeira medida que os beneficiem principalmente, também buscarão colocar fim.

Mas não poderão fazê-lo em um só golpe. É algo que devem preparar. E assim estão fazendo.

A trégua de fato

Os dirigentes do movimento, que até agora mentem a luta, já estão dando passos nesse sentido. E frente ao anúncio do Governo de que recebeu o petitório, iniciaram uma trégua de fato, chamando a desarmar as barricadas.

Isto não faz mais que dar um respiro ao governo, que ganhe tempo. Se o governo ganha tempo, perde o povo em luta. Se os dirigentes instalam uma trégua, no momento de negociar a resposta do Governo, terão as mãos livre para assinar qualquer acordo por cima.

E a repressão desatada, estão querendo sela com sangue, feridos, detidos e perseguidos.

Basta de repressão. Fora a Intendenta e Hinzpeter

A brutal repressão ordenada por Hinzpeter e a Intendenta, própria da ditadura, pretende debilitar o movimento. Até agora não conseguiram tal feito. Mas unido a esta trégua, pode encaminhar-se a lográ-lo.

Há que para a brutal repressão. Fora Hinzpeter e a Intendenta.

Para conseguir todas as demandas, é necessário fortalecer a luta. Sem pressão. Sem negociações por cima.

Por uma Assembleia Operária e Popular sem empresários nem políticos patronais da Concertación e da direita para fortalecer a luta! Por uma Paralisação Regional indefinida!

Para evitar negociações por cima, é necessário ultrapassar as reuniões de dirigentes, e colocar de pé uma Assembleia Operária e Popular. Com delegados revogáveis e rotativos das barricadas, das juntas de vizinhos, de cada lugar de trabalho, de cada lugar de estudo. Os empresários e políticos patronais da direita e da Concertação, poderão aderir à luta. Mas a Assembleia Operária e Popular deve ser sem empresários e seus políticos da Concertación e da direita.
Eles são os que nos levaram a esta situação na qual se enriquecem uns poucos empresários a custa do povo trabalhador, os que mantem este governo autoritário de Intendentes e Governadores não eleitos por ninguém.

É que as condições de vida e de trabalho de Aysen e todas as zonas extremas, que favorece aos empresários e seus políticos da Concertación e da direita, são o resultado da herança pinochetista que eles administraram desde seus governos.

Abaixo toda a herança pinochetista! Por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana! Pela nacionalização dos recursos naturais sob controle dos trabalhadores para responder às necessidades do povo trabalhador de Aysen e de todo o Chile!

Devemos terminar com o autoritarismo das autoridades como a Intendenta. Com a impunidade da repressão. Com os multimilionários lucros dos empresários que se enriquecem as costas de nosso trabalho, do meio ambiente, de apropriação dos recursos naturais.

Há que colocar em pé uma Assembléia Operária e Popular para fortalecer a luta, evitar a trégua e as negociações pelo alto. Para se unificar – não se dividir – a outras regiões com suas demandas como Magallanes ou a cidade de Calama, que já anunciam retomar suas mobilizações.

Para chamar a lutar por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana! Pela nacionalização dos recursos naturais sob controle dos trabalhadores para responder às necessidades do povo trabalhador de Aysen e de todos o Chile! Educação gratuita para todos. Saúde gratuita para todos. Pela nacionalização das empresas da construção sob controle dos trabalhadores para a construção de casas destruídas pelo terremoto, e um plano de obras públicas que assegure seu emprego de acordo com as necessidades sociais e não da mesquinha sede de lucro dos empresários, que se não lhes é rentável não o fazem.

A revolta de Aysen pode transformar-se em um ponto de apoio para terminar com toda a herança pinochetista.

Há que por de pé uma alternativa trotskista para a luta.

Para essa luta, faz falta uma alternativa, trotskista, como a que lutamos por construir desde o Partido de Trabajadores Revolucionários – Clase contra Clase: um partido para a luta de classes, com uma política de independência de classe de toda variante patronal: nem direita, nem Concertação.

Tradução de Leonardo Rodrigues

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