Terça 23 de Abril de 2024

Direitos Humanos

RIO DE JANEIRO

A luta da Aldeia Maracanã: um exemplo contra o Rio dos grandes negócios

08 Feb 2013   |   comentários

Há anos que índios que vivem na ocupação da Aldeia Maracanã, mantida por diferentes grupos indígenas de todo pais, lutam para defender sua permanência neste espaço, onde está o antigo Museu do Índio e que historicamente serviu de “embaixada” e foco de cultura dos povos indígenas no Rio de Janeiro. O prédio abrigou durante muito tempo o Serviço de Proteção aos Indígenas (SPI), foi transformado em FUNAI e, até 1948, foi à sede do Museu do Índio, criado por Darcy Ribeiro. O Governo do Estado do Rio comprou o território da Companhia Nacional de Abastecimento, do Ministério da Agricultura, com o objetivo de derruba-los junto a vários outros prédios no Complexo do Maracanã, para construir um estacionamento neste local para os jogos da Copa das Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016), para abrir caminhos aos interesses dos empresários.

Depois de mandar a tropa de Choque para tentar realizar a reintegração de posse que desalojaria os índios e demoliria o prédio, o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral teve que retroceder diante da mobilização de defesa e solidariedade aos índios da Aldeia Maracanã e posicionamento de diferentes setores como IPHAN e FUNAI favoráveis a manutenção e do tombamento do espaço. No entanto, esta vitória é importante, mas ainda parcial, pois Cabral quer Aldeia Maracanã sem índios, privatizada e gerida por uma empresa privada, mantendo a posição de desalojar os índios que ali moram e impedindo de terem autonomia de seu próprio território. A ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT) demagogicamente se pronunciou pela manutenção da Aldeia, enquanto o Governo Dilma, condena milhares de índios a viver espremidos em terras minúsculas que sequer dão para se alimentar, forçando-os a se tornar mão de barata, perdendo suas terras para dar lugar à soja e gado, sendo reprimidos e mortos a serviço dos latifundiários e bancada do agronegócio. Esta situação levou com que desde 2000, tenham ocorrido quase 900 suicídios de índios, como foi denunciado pelos índios Guarani-Kaiowá no ano passado Pyelito Kue (em Iguatemi-MS), além das centenas de ameaças e assassinatos de lideranças do MST e outros movimentos camponeses, indígenas e quilombolas. Não podemos ter nenhuma ilusão neste governo.

A tentativa de Cabral demolir a Aldeia não se trata só de um ataque a todos os índios do país, mas faz parte de um projeto de cidade baseado na militarização, UPP e higienização com remoção de milhares de trabalhadores e pobres para abrir espaço para a especulação imobiliária e os grandes negócios capitalistas. Esta sendo erguida uma cidade contra os interesses da classe trabalhadora e do povo pobre, enquanto Eike Batista, Paes, Cabral e Dilma tentam encobrir que para o Rio de Janeiro ser a vitrine do Brasil para o mundo, uma demonstração de “Brasil potência” e de continuidade das melhorias graduais e lentas do país da democracia racial, fazem isso em base ao trabalho precário, à custa da vida de operários mortos e acidentados nos seus locais de trabalho, sobretudo na construção civil, no Maracanã, nos BRT’s1 . Milhares de jovens pobres e negros reprimidos e esculachados pela polícia, cada dia e cada fim de semana nas favelas com UPP’s, precarização e aumento do custo de vida da população.

Na ameaça da reintegração de posse pela Tropa de Choque de Cabral, dois operários que trabalhavam na construção civil no Estádio do Maracanã, ao lado da Aldeia se solidarizaram com a luta dos índios e pularam o muro entre eles para expressar seu apoio e foram demitidos. Estes operários dão mostram da espontaneidade e da solidariedade de classe que podem ter os trabalhadores e que de como a esquerda no Rio de Janeiro, que dirige vários sindicatos como, por exemplo, SEPE, Sindisprev, ANDES, Petroleiros poderiam tomar ações efetivas para construir uma grande luta junto a classe trabalhadora e a juventude para se contrapor a este projeto de cidade que passará por cima de todos.

A defesa da Aldeia Maracanã e a autonomia dos índios sobre este espaço é um pequeno e importante símbolo de resistência contra militarização e privatização da cidade e, além disso, e que tem que servindo como exemplo e um grande impulso a defender também, o Estádio Célio de Barros, o Parque Aquático Júlio De Lamare, e a Escola Municipal Freidenreich, para que também não sejam demolidos e colocados nas mãos das grandes empreiteiras que tem a possibilidade de gestão privada deste território nos próximos 35 anos. Temos que partir desta conquista para levantar uma grande luta contra este projeto de cidade a serviço da burguesia. É necessário lutar em defesa da Aldeia Maracanã e pela total e irrestrita autonomia dos índios sobre este espaço, mas também contra todas as remoções e exploração do trabalho precário para a Copa e Olimpíadas! É necessário que desde os locais de trabalho, escolas e universidades, a classe trabalhadora, junto a juventude e o povo pobre possam erguer uma luta em defesa desta Aldeia e de todos os trabalhadores e povo no caminho dos Megaeventos.

1 Bus Rapid Transit,(Transporte Rápido por Ônibus), obras construídas para servir a especulação imobiliária e relocar à população à zona oeste e aos turistas e que tem levado a que milhares de pessoas sejam removidas para dar lugar a estradas e à especulação

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