Quinta 25 de Abril de 2024

Direitos Humanos

PASSADO E PRESENTE

A luta contra a ditadura do passado e do presente na USP

11 May 2012   |   comentários

Por Marcelo “Pablito”, diretor do Sintusp, e Bruno Gilga, estudante de Ciências Sociais

A reitoria da USP, sob o comando de Rodas, indicado de Serra do PSDB, que se afoga nos escândalos revelados pela CPI do Cachoeira – envolvendo também cada vez mais a Veja, que tanto vêm intervindo a favor da reitoria na USP -, deixa cada vez mais clara a importância que tem para seu projeto privatista de universidade a repressão política, levando em ritmo acelerado dezenas de processos políticos – ignorando mesmo o preceito da justiça burguesa que estabelece uma parte supostamente “desinteressada” para julgar os processos, já que é a própria administração que acusa investiga, julga e puni - com o objetivo de “eliminar” estudantes e demitir funcionários e diretores sindicais por manifestações políticas. Esses processos certamente se estenderão no próximo período a professores (que já têm a diretoria de sua entidade interpelada judicialmente) e à entidade dos estudantes, o DCE (que já tem um processo devido às manifestações de rua) e, portanto, deve ser combatido por todos que defendem a universidade pública, quer se dirija a estudantes, professores, trabalhadores ou suas entidades.

Verdade e Justiça, ontem e hoje!

Desde o fim do ano passado um setor de intelectuais da USP vêm impulsionando, junto a estudantes e familiares de perseguidos, torturados e assassinados pela ditadura militar, um movimento pela democratização da universidade. Agora, ele começa a se organizar em torno de um Fórum pela Democratização da USP, que tem como uma de suas iniciativas centrais uma campanha por uma “comissão da verdade” da USP que apure o envolvimento da administração da universidade com crimes da ditadura.

A luta pelo reconhecimento da verdade e pela punição dos civis e militares responsáveis pelos crimes da ditadura é uma tarefa democrática fundamental em nosso país. A relação imbricada entre a USP e esses crimes faz com que esse movimento - ligado à necessidade da democratização da USP, que mantém a estrutura de poder do período do regime militar, a mais antidemocrática e autoritária do país – tenha grande importância.

Ao mesmo tempo, não se trata simplesmente de acertar contas com o passado, pois o parentesco entre a USP e a ditadura militar se mantém vivo ainda hoje. Isso se manifesta-se concretamente não somente nas homenagens que a USP presta àquele regime (como o monumento às vítimas da “revolução” - !!! - de 1964 planejado pela reitoria, ou as imagens de figuras como Gama e Silva, ex-reitor da USP, no salão nobre da reitoria) e na figura de um reitor que votou pela absolvição do estado na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos em casos tão emblemáticos como os de Zuzu Angel e Edison Luis, mas também na criminalização de toda a organização política, nas eliminações, demissões e processos inquisitórios, apoiados em um regimento disciplinar estabelecido por decreto durante a vigência do AI-5.

Nesse sentido, a luta pela democratização deve estar ligada à luta intransigente em defesa de cada companheiro perseguido, pois a democratização da USP e o fim da repressão dependem um do outro. É com esse espírito que nós da LER-QI compomos esse movimento pela democratização buscando conformar uma ala consequente que defenda também com centralidade a luta contra a repressão de hoje, que deve ser tomada por todos os setores, como uma questão de princípio para qualquer setor que se coloca no campo democrático. Atuamos dentro desta frente única, que inclui setores do petismo, em base a uma luta concreta (pela democratização da universidade e contra a repressão), buscando fazer com que essa campanha chegue aos setores mais amplos possíveis, por exemplo, exigindo que essas figuras públicas coloquem seu capital político minimamente na luta contra a repressão, dando declarações de apoio e participando de atos. Mas sabemos que as movimentações do petismo em relação a Comissão da Verdade e a democratização da USP não tem como objetivo impulsionar uma mobilização independente da comunidade universitária, pois isso entraria em choque com seus interesses e estratégia eleitorais. Nossa política é apoiar-nos em uma ampla frente única para massificar a luta pela democratização da USP, mas sempre batalhando por um programa consequente, que só pode ser o de ligar a luta contra a ditadura de ontem com a de hoje. Para nós, um combate contra a ditadura de hoje na USP e por uma real democratização, deve exigir em primeiro lugar a reintegração aos quadros da USP dos estudantes eliminados e de Claudionor Brandão, perseguidos políticos, e a retirada de todos os processos contra os lutadores, mas deve questionar profundamente a estrutura de poder e o estatuto que permitem processos inquisitórios e ilegais como os atuais. Nosso objetivo é avançar para colocar para fora Rodas e dissolver o Conselho Universitário, erguendo um regime universitário democrático, em base a uma Estatuinte Livre e Soberana imposta pela mobilização, sem burocratas acadêmicos, composta pelos estudantes, funcionários (efetivos e terceirizados) e professores, que são os mesmos que devem governar a universidade, num governo tripartite com maioria estudantil. E também acreditamos que não há uma verdadeira democratização se não for com o fim do vestibular, o que deve se dar ligado à estatização das universidades particulares, e com a permanência estudantil para todos que necessitam.

Avançar a organização contra a repressão!

Nesse sentido, é fundamental manter e fortalecer a construção do comitê unificado contra a repressão, impulsionado pelo Sintusp junto a estudantes e intelectuais de dentro e de fora da USP desde o fim do ano passado. No que se refere à categoria de trabalhadores, Rodas busca, através de concessões econômicas, principalmente ligadas à carreira (que ao mesmo tempo só precisa fazer por conta da enorme tradição de luta dos trabalhadores da USP, sendo elas mesmas, portanto, uma conquista sua), gerar ilusões na sua gestão que dividam os trabalhadores, com o objetivo de isolar seu sindicato para destruí-lo. O comitê contra a repressão é uma ferramenta valiosa para organizar a vanguarda de trabalhadores para combater essa política, e ao mesmo tempo estabelecer uma ponte em relação aos estudantes e a intelectuais e grandes figuras políticas do movimento democrático da USP e do país.

O silêncio da maioria de professores deve ser rompido!

O objetivo de Rodas quando fala de uma universidade de “padrão internacional” é a mercantilização completa da USP, o que passa por uma transformação profunda de toda a universidade (e também de seu entorno, como mostram as ameaças e ataques à comunidade da São Remo que viemos denunciando) que afetará a todos, até mesmo à relativa autonomia que as administrações da diferentes unidades e departamentos têm para estabelecer suas diretrizes de ensino, pesquisa e orçamento. Esse fato não passa despercebido, e gera crises políticas nas alturas, como expressa, por exemplo, a orientação da congregação da FFLCH a que todos os professores da faculdade dediquem três dias de aula a debater a situação na universidade, a polícia, a segurança e a democracia. Todo esse espaço político precisa ser aproveitado para aprofundar a politização da USP. Ao mesmo tempo, os professores, e mesmo organismos como as congregações, devem se posicionar categoricamente contra os processos a estudantes e trabalhadores e a política da reitoria, deixando claro se estão ao lado da universidade pública ou do projeto privatista de Rodas.

É possível e necessária uma grande mobilização estudantil!

Há um refluxo da mobilização estudantil massiva que aprofundou a crise da universidade no fim do ano passado. No entanto, não retrocedemos para antes dela, se mantém, como sua conquista, uma importante vanguarda estudantil, profundamente enraizada nas unidades que mais se mobilizaram, que se expressa nos fóruns e atividades do movimento que seguem ocorrendo, ainda que sem participação massiva. Ao mesmo tempo, na camada mais ampla de dezenas de milhares de estudantes que já não está ativa nesse momento, segue existindo uma profunda politização, um rechaço à reitoria e apoio ao movimento, como expressam desde o resultado das eleições do DCE até o cotidiano das salas de aula. Esse é o ponto de apoio fundamental para uma grande campanha pela democratização da universidade e contra a repressão. Ela depende de uma política construída em unidade entre todos os setores da vanguarda, e que o DCE deve impulsionar ativamente, para organizar essa vanguarda consolidada para se dirigir a esse amplo setor de estudantes, através de colocar todas as suas forças na implementação das resoluções da assembléia de estudantes como a coleta de dezenas de milhares de assinaturas no abaixo-assinado contra os processos, e a organização de um enorme festival artístico contra a ditadura de ontem e hoje que expresse o apoio dessa luta entre grandes artistas e na massa dos estudantes, com o objetivo duplo de expressar desde já seu apoio passivo a essa luta e, principalmente, transformar essa politização passiva em apoio ativo e mobilização!

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