Terça 23 de Abril de 2024

Movimento Operário

IV Conferência da Fração Trotskista

A intervenção nos processos de recomposição do movimento operário na América Latina

24 Mar 2007   |   comentários

Parte importante da IV Conferência esteve dedicada a analisar a realidade de cada país em que atuamos e as experiências de construção no movimento operário e estudantil que estamos desenvolvendo. Cada organização apresentou informes sobre os principais problemas políticos de cada país e os desenfiamos que enfrentamos, questão que não abordaremos aqui. O que queremos sim assinalar é que foi muito interessante poder comparar os processos que estão se dando no movimento operário na América Latina, suas semelhanças e diferenças. No México, na Venezuela e na Bolívia, a crise dos regimes políticos burgueses está gerando grandes mudanças no movimento operário, não apenas na luta de classes (onde há desigualdades notáveis que já temos assinalado) como também fraturas e realinhamentos nos aparatos sindicais, que incidem por sua vez nas organizações de base da classe trabalhadora. No México, a crise do Partido |Revolucionário Institucional (PRI), direção histórica dos aparatos sindicais nucleados no Congresso do Trabalho (fundamentalmente na Confederação de Trabalhadores do México ’ CTM), permitiu que o setor agrupado na UNT passasse a ser hegemonizado pelo Partido da Revolução Democrática (PRD) há alguns anos, enquanto existe outro setor mais combativo dirigido pelo SME (Sindicato de Eletricistas) . Estes setores "opositores" da burocracia sindical têm se fortalecido no último período encabeçando ações nas quais se expressa o descontentamento operário e popular, ações em que têm participado também sindicatos que há anos não saíam às ruas (como o sindicato mineiro). Na Venezuela, o chavismo alentou o surgimento da UNT contra a velha CTV dirigida pelos social-democratas ("adecos") cujos dirigentes foram golpistas em 2002, porém esta política entrou em crise depois que a C-CURA se transformou em sua principal corrente, onde têm peso setores que não respondem diretamente ao aparato chavista. Assim, há múltiplos processos de organização contra a velha burocracia, dos quais a fábrica ceramista Sanitarios Maracay (com 800 operários e que foi posta a produzir pelos trabalhadores) é apenas o caso mais avançado. Na Bolívia são numerosas as empresas em que os trabalhadores, alentados pelas ilusões no governo de Evo Morales, começam a formar sindicatos, não moldados pela velha lógica sindical, virgens não apenas politicamente mas também sindicalmente, devido à crise das organizações como a Central Obrera Boliviana (COB) ou a Federação de Fabris. Inclusive um setor historicamente muito avançado, como os mineiros de Huanuni, devido ao triunfo da última luta devem passar de 800 para 5 mil mineiros. Na Argentina, ainda que os grandes sindicatos continuam controlados pela desprestigiada burocracia sindical peronista, graças ao apoio do governo, temos visto o surgimento de novas comissões internas e corpos de delegados nos serviços, trabalhadores estatais e na indústria. Em um país mais estável como o Brasil, a experiência com o governo de Lula se expressará no Encontro sindical conjunto convocado pela Conlutas (PSTU) e pela Intersindical (PSOL) para o mês de março. No caso do Chile, onde a feroz ditadura de Pinochet (e o continuísmo dos governos da "Concertação") levou a classe operária a uma profunda fragmentação, também há sintomas de recuperação.

Como se vê, ainda que não se expresse diretamente em lutas, há um processo de reorganização da classe trabalhadora no qual vêm intervindo as organizações que conformamos a FT-QI. Estar inseridos nele, alentando seus setores mais conseqüentes e classistas com uma perspectiva política revolucionária de conjunto (evitando o sindicalismo e o obrerismo), é uma condição indispensável para mostrar que uma teoria e um programa revolucionário que não ceda à conciliação de classes imperante na esquerda a nível internacional, é o mais adequado para incidir nos processos reais da luta e da organização da classe operária.

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