Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

A “ingenuidade” dos intelectuais e o pragmatismo dos políticos petistas

07 Dec 2014   |   comentários

Os leitores das páginas do jornal Palavra Operária devem ter acompanhado a polêmica em torno do lançamento por parte de uma série de intelectuais petistas de manifesto contra a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura.

por Santiago Marimbondo

Os leitores das páginas do jornal Palavra Operária devem ter acompanhado a polêmica em torno do lançamento por parte de uma série de intelectuais petistas de manifesto contra a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura.

Se você, leitor, não acompanhou, ou se no turbilhão de notícias contraditórias com que fomos bombardeados após as eleições “perdeu o fio da meada”, faremos aqui um breve resumo do episódio.

Após sua reeleição, para acalmar os “mercados” e os setores mais retrógrados da burguesia nacional, Dilma Roussef escolhe para comandar pastas centrais na esplanada dos ministérios dois nomes emblemáticos que apontam os rumos do governo da petista em seu segundo mandato, e que mostram como as ilusões levantadas pelos marqueteiros para garantir a reeleição eram apenas isso: ilusões.

Joaquim Levy, economista liberal muito afeito aos “mercados”, e Kátia Abreu, líder da bancada ruralista e expoente na luta contra a reforma agrária e contra qualquer limitação ao desmatamento que afete os interesses do agronegócio e dos latifundiários. são nomeados para o ministério da Fazenda e da Agricultura respectivamente.

Uma série de intelectuais petistas (encabeçados pelo economista Luis Gonzaga Beluzo, por João Pedro Stédile do MST e por Leonardo Bof) lançam um manifesto criticando a nomeação desses dois personagens pois eles: “sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas”.

Deve-se perguntar o leitor: de que “agenda” falam nossos sábios intelectuais ligados ao petismo?

O manifesto continua: “As propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu”.

Ou seja, nossos intelectuais tomam pelo seu valor de face (ou fingem tomar?) a nota promissória das promessas feitas por Dilma Roussef para garantir sua reeleição.

Ingenuidade desses sábios ou apenas uma máscara funcional para reanimar a velha e carcomida tese de que esse é um governo “em disputa”, que as mobilizações e os movimentos sociais devem pressionar o governo para que ele tome um rumo popular e toda essa ladainha com que somos bombardeados desde os idos do primeiro mandato de Lula?

Deixaremos ao leitor a tentativa de dar uma resposta a uma questão que exige um grau tão grande de especulação.

O que podemos afirmar com toda certeza é que esse manifesto, independente das intenções pessoais e da sinceridade ou não de algum dos signatários, apenas serve para cobrir pela esquerda uma tomada de posição já determinada há muito tempo pelo petismo: que esse se tornaria mais um dos partidos do regime e governaria nos interesses dos ricos.

A indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu, longe de ser algo surpreendente (a não ser para os intelectuais ligados ao PT), é apenas mais um episódio corriqueiro de como e nos interesses de quem o governo petista administra a máquina estatal.

Há muito tempo, antes mesmo da eleição para o primeiro mandato de Lula, o PT deixou de ser o partido dos trabalhadores para usar essa sigla e sua história apenas como máscara para enganar nossa classe.

Os trabalhadores, os jovens e demais setores oprimidos que têm se colocado em luta de forma cada vez mais aguda desde junho de 2013 e que em 2014 protagonizaram a maior onda de greves dos últimos 20 anos não podemos mais nos deixar enganar por esses “mercadores de ilusões” que ainda tentam fazer passar que o governo petista pode significar uma alternativa popular em relação a qualquer outro dos partidos que representam os interesses dos patrões.

O ano de 2015 tende a ser um ano de lutas ainda maiores que os anos precedentes. A agudização da crise e as experiências adquiridas nas ruas e nas lutas apontam nesse sentido. Para que aprofundemos e tornemos mais fortes essas lutas temos que cada vez mais saber distinguir quem são os verdadeiros e os falsos amigos do povo trabalhador e oprimido.

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