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OPINIÃO

A importância política do Jornal Esquerda Diário no Brasil.

16 Mar 2015   |   comentários

Nota de Gonzalo A. Rojas, Doutor em Ciência Política pela USP e professor de Ciência Política na UFCG, sobre a importância política de uma ferramenta de comunicação como o Esquerda Diário no Brasil.

Por Gonzalo A. Rojas¹

No dia 25 de março aparecerá Esquerda Diário no Brasil, o primeiro diário digital da esquerda latino-americano o que constitui um esforço e uma iniciativa política muito importante da Liga Estratégia Revolucionaria – Quarta Internacional (LER-QI) de Brasil integrante da Fração Trotskista – Quarta Internacional (FT-QI).

Marx nos escritos da ideologia alemã já afirmava que as ideias de uma época são as ideias de sua classe dominante, por isso é preciso um jornal que unifique do ponto de vista político nossa classe e reflita as lutas da classe trabalhadora e dos oprimidos da sociedade brasileira, tendo como tarefa a de se opor as leituras realizadas pelas diferentes frações da burguesia e ir além do impressionismo que aparece em muitas das análises de uma parte da intelectualidade que se considera crítica. No marco da crise econômica e política que atravessa Brasil, aliás num país continental, isto se faz ainda mais necessário.

Cotidianamente, simplificando, nos enfrentamos centralmente a duas versões da política nacional e internacional, a versão governista apresentada desde o estado, o governo e partidos e movimentos que o sustentam politicamente e a da grande mídia que expressa as posições políticas da oposição de direita, que sem desconhecer certas especificidades, concordam no fundo, que a crise seja paga pelos trabalhadores e aprofundar os ajustes.

Justamente por isso é tão importante assumir uma posição política que seja independente dos dois blocos dominantes em que aparece dividida a política brasileira, que expresse o que se manifesta na luta de classes e os temas que não são tratados nem pela grande mídia patronal nem pelo governo. Isto em um contexto que temos que sublinhar, o Partido dos Trabalhadores (PT), depois de 12 anos de governo, de forma recorrente fala de mídia golpista, uma acusação gravíssima, mas sem consequência política alguma, já que em todos estes anos não só não tomou nenhuma medida política concreta contra esta que seja coerente com suas afirmações, mas sim de uma forma ou outra foi renovando as concessões a esta mídia. A estratégia dos governistas não é nova, é utilizada muitas vezes e em diferentes países, tomamos este exemplo, mas poderíamos tomar vários outros, se apresenta um recurso retórico com o objetivo político de bloquear e tentar silenciar qualquer crítica por esquerda.

Esquerda Diário vem para desmistificar tudo isso, desde uma perspectiva que valoriza que exista uma apreciação diária, cotidiana, dos protestos e das lutas no Brasil e no mundo, para que os trabalhadores possam reconstruir uma visão de totalidade sobre a política, a economia, a sociedade e a cultura.

Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano (PCI), partindo da análise marxista e nas trilhas do leninismo segundo nossa interpretação, afirma que existe uma relação entre classe ou frações de classe e os partidos, entendendo que os partidos não são construções independentes dos interesses de classes e que os representam a través das devidas mediações políticas. Pode acontecer que o estado maior intelectual dos partidos orgânicos em que está dívida a burguesia, algumas vezes apareçam como não pertencendo a nenhuma das frações em que estão divididos os partidos burgueses, mas atua como se fosse uma força dirigente como se estivesse acima dos partidos. Tomando em consideração esta visão, mas sem sobre dimensionar, um jornal ou um grupo de jornais ou uma revista ou um grupo de revistas poderiam ser considerados em algumas circunstâncias também frações de partido ou função de determinado partido. Neste sentido os médios de comunicação devem ser entendidos como empresas de comunicação que expressam as visões de mundo e posições políticas das diferentes frações de classes que intervém na luta ideológica tendo simultaneamente um papel relevante para garantir o consenso conservador.

No caso de Brasil a concentração da mídia patronal pauta não só a oposição de direita senão também ao próprio governo. Lendo, a modo de exemplo, os editoriais dos últimos dias dos jornais patronais como a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo ou O Globo, observamos com clareza que independentemente de críticas ao governo Dilma, a preocupação central não é impeachment sim ou impeachment não, senão como se implementa e se aprofunda o ajuste do governo e como se consegue fazer isso. Isso é o consenso direitista que unifica hoje a classe dominante, seus jornais, o governo e seus partidos e a oposição de direita, muito mais que um processo de desestabilização política num contexto de mobilizações que podem saber como se inicia, mas que depois das jornadas de junho de 2013, não tem controle político de como pode acabar. Logicamente que uma situação política instável, o aprofundamento da crise, a evolução dos escândalos de corrupção na Petrobras e as próprias mobilizações podem mudar de forma qualitativa o cenário político.

Desde nossa perspectiva, o que muda a consciência é a práxis, não a teoria, mas sem teoria revolucionária não temos uma prática revolucionária, neste sentido o jornal Esquerda Diário poderia representar uma mediação inicial de nossa classe, onde as análises de conjuntura, as análises concretas das situações concretas da luta de classes, permitam fugir da fragmentação encarando uma visão de totalidade que na perspectiva de superar as lutas e os protestos parciais, numa perspectiva de esquerda socialista revolucionária e anticapitalista com uma visão ofensiva do marxismo.

Estamos numa conta regressiva, no dia 25 de março teremos Esquerda Diário no Brasil, como já temos La Izquierda Diário na Argentina e no Chile, não aparece em momento mais oportuno, nos desafia uma conjuntura complexa, onde é preciso delimitar-se politicamente do governo Dilma do PT e da oposição de direita, na medida que se apresenta como possível e necessário a construção de uma saída por esquerda a crise econômica e política no Brasil.

¹ Doutor Ciência Política (USP) - Professo Ciência Politica (UFCG)

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