Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

A “democracia” dos mensaleiros e dos sanguessugas

10 Aug 2006   |   comentários

Manchete em todos os jornais, a corrupção se alastra pelo país e mostra a única face da democracia existente sob o capitalismo. Enquanto o conjunto dos trabalhadores e o povo pobre do país padecem com o desemprego estrutural, com saúde, educação e transporte precários, do Congresso Nacional saem rios de dinheiro para o bolso dos políticos burgueses. A realidade do regime democrático dos ricos que existe sob sistema capitalista e se reproduz pela lógica da corrupção é uma só: para aprovar cada lei que tramita no parlamento é necessário fechar acordos entre os distintos interesses dos partidos e políticos burgueses. Isso só pode acontecer pela via direta da “fidelidade dos mensalões” , ou seja, é a compra de votos no parlamento que garante, ao final de tudo, o interesse dos próprios capitalistas. Ao mesmo tempo, com as migalhas desse farto banquete que corre na mesa dos patrões e de seus representantes profissionais no congresso, a burguesia implementa planos assistencialistas e demagógicos e tenta calar a boca dos trabalhadores e explorados do país.

Depois do mensalão, agora é a vez do Congresso apresentar o nome de 72 deputados e senadores envolvidos na compra superfaturada de ambulâncias; o “Escândalo dos Sanguessugas.” De todos os escândalos anteriores, esse é o que reúne provas contra o maior número de parlamentares, 12% do Congresso (fora os 27 que foram acusados pelo procurador-geral da República). No momento em que começa a campanha eleitoral nos grandes meios de comunicação, PT e PSDB descaradamente disputam quem “pode mais” em “nome da ética” , do (instável) crescimento económico e da justiça social e fingem perante a classe trabalhadora que a existência de todos os escândalos não é com eles. Nesse período de campanha, parece se firmar um acordo para garantir que o congresso e as instituições do regime não desmoronem de vez, os partidos (éticos?!!) esquecem esse assunto e consumados e reconhecidos corruptos como Valdemar da Costa Neto, Paulo Maluf e Severino Cavalcanti tentam se eleger deputados federais. Para que? Para no ano que vem, passada a “vitrine eleitoral” , voltar a roubar tudo outra vez sem ser punido!

Os políticos da elite branca e os coronéis do Norte e Nordeste roubam o país e vivem impunes. O reacionário tucano Geraldo Alckmin se orgulha em dizer que investe cada vez mais no aparato repressivo policial e que constrói presídios; na realidade nas cadeias se amontoam somente negros e pobres. Enquanto os criminosos pobres têm por destino a via do PCC e padecem nesses presídios prontos para explodir, em Rondónia, onde o gabinete da presidência da Assembléia Legislativa diz gastar com folha de pagamento mais de R$ 10 milhões com cerca de 760 empregados não concursados. Os grandes saqueadores do país debocham de nossas caras. A corrupção deslavada atinge os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) de uma só vez e envolve 23 dos 24 deputados incluindo candidato à vice para governador, o presidente da Assembléia e o presidente do Tribunal de Justiça! O exemplo de Rondónia explica bem a quem serve esse apodrecido sistema: as leis são feitas para garantir os interesses de uma elite que enriquece impune, livra seus maiores ladrões nas brechas das leis criadas para isso e joga nos presídios, entregues a miséria, somente pobres e negros das periferias das grandes cidades.

A podridão da democracia capitalista

A corrupção no capitalismo não é privilégio brasileiro. Podemos vê-la, por exemplo, sistematicamente na Itália onde recentemente um escândalo envolveu políticos, juízes e jogadores de futebol ou nos EUA, coração do capitalismo mundial, onde o governo norte-americano de Bush está envolvido em dezenas de denúncias, com seu vice-presidente Dick Cheney acusado de ter superfaturado contratos no Iraque.

Em entrevista ao jornal Folha de SP de 13/8/06, o Ministro do Desenvolvimento Luis Fernando Furlan (acionista da Sadia) disse que a corrupção no Brasil é grande, pois “a sociedade é tolerante” . Furlan, integrante do ministério que organizou e ainda organiza o mensalão, grande capitalista que financia a compra de votos e as campanhas dos corruptos, quer dividir com a “sociedade” sua culpa pela podridão do regime capitalista e pelo balcão de negócios que é o Congresso. Quer agora, frente às proporções que a corrupção tomou, posar de santo e mudar algumas peças do regime estremecido para continuar lucrando como empresário e “negociar” melhor com os deputados através do ministério que controla no governo.

Para manter em pé seu regime de dominação política a burguesia é obrigada a usar o poder Executivo, na figura do Presidente, para controlar as fissuras e os distintos interesses regionais dos políticos do Legislativo. Nesse caso, todos falam a mesma língua: dinheiro, muito dinheiro! Quando, porém, a situação se faz insustentável, a própria burguesia cria seus meios de “mudar alguma coisa para manter tudo como está” . Que confiança devemos ter nas CPIs? Nenhuma! Como acreditar que os próprios corruptos podem se punir? Rifam sempre dois ou três para manter as coisas como estão. Nessas eleições, querem nos fazer acreditar mais uma vez que o voto pode mudar a situação da maioria do país. De novo querem nos fazer crer que o “voto certo” decide. Na realidade, a independência de classe dos trabalhadores é a única alternativa capaz de por fim a farsa da democracia dos ricos.

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