Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO

A crise de Campinas e o gerenciamento capitalista dos grandes negócios

03 Jun 2011   |   comentários

Nas últimas semanas, um grande esquema de fraudes, irregularidades e propinas nas licitações públicas em Campinas veio a tona em uma mega-operação do Ministério Público Estadual de São Paulo. Membros do alto escalão do governo, entre eles a chefe de gabinete e primeira-dama da cidade, o vice-prefeito, membros da SANASA (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento – principal órgão público envolvido), além de empresários ligados a WTorre, Andrade Gutierrez e Camargo Correa estão entre os acusados. Segundo a própria investigação, seriam 11 municípios nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Tocantins envolvidos um esquema cujo valor dos contratos chegaria a R$ 615 milhões.

A corrupção não é a exceção desse Estado, desse tipo de governo, mas a regra, a essência de funcionamento do estado capitalista, do gerenciamento dos grandes negócios a partir dos governos.. É por isso que longe de uma crise local, ou de um esquema envolvendo 11 cidades, a ferida exposta de Campinas é só a manifestação sintomática de uma doença sistêmica.

É a publicização de um sistema de relações que vieram a tona durante o governo petista com o mensalão e os distintos casos de corrupção e fraude, mas que são a regra histórica na condução cotidiana da “democracia” brasileira. As denuncias contra Paloci, e a forte blindagem em sua defesa, dão conta da importância dos fatos. O petismo, que há mais de 15 anos governa importantes cidades e alguns estados no país, e há quase 10 está a frente da presidência, aprendeu e aprimorou no gerenciamento dessas relações. Trata-se de um processo profundo de cristalização de relações de governabilidade burguesa, pelas mãos do petismo e de seus distintos aliados governistas que nos mostram como o atual “projeto de país” tem sido levado adiante. Apesar de toda a demagogia dos tucanos(e seus aliados, PPS e DEM) nesse momento, seja no caso Paloci ou em Campinas, a relação de negócios entre Estado e grandes empresas se desenvolveu nas alturas com a hegemonia tucana pela presidência de FHC e nos tantos mandatos de PSDB em SP.

No país potencia de Lula, Dilma, Dr Hélio e companhia, o que impera são os interesses dos empresários e dos políticos burgueses que lucram milhões com a terceirização, as empresas e com a máquina do estado capitalista, enquanto os trabalhadores seguem recebendo salários miseráveis e empregos precários.

Grandes construtoras, grandes negócios

As grandes construtoras, como temos noticiado e debatido em nosso jornal, tem sido um dos setores da burguesia nacional que mais tem lucrado com os últimos anos de crescimento econômico e com todos os favorecimentos que recebem. São nas grandes obras, que envolvem denuncias de fraudes nas licitações e trabalho semi-escravo, que Camargo e Correa, Andrade Gutierrez e os outros monopólios da construção extraem seus lucros. Não somente com os governistas, mas também com a oposição burguesa que elas fazem seus grandes negócios(as denuncias de fraude nas licitações da linha 5 do metrô e no rodoanel estão aí para não deixar mentir). Não à toa foram as principais financiadoras das campanhas de Dilma e Serra. Doaram 13 milhões para a campanha de Dilma e receberam 490 milhões do governo federal só em 2010.

Crise de Campinas e a estratégia proletária

Campinas é a principal cidade do estado de SP governada pela base aliada de Dilma no reduto dos tucanos. Por isso, os interesses que envolvem esse caso são imensos e de dimensão nacional, já que se trata de reduzir as forças do governismo na principal cidade do interior de São Paulo. Hélio foi eleito em uma ampla frente, encabeçada pelo PDT, que ia do PCdoB e PT até DEM. Tanto a oposição burguesa, como alguns de seus antigos aliados(DEM e PPS já romperam com o governo), preparam o terreno para debilitar um candidato que foi eleito com 70% dos votos.

É por isso que, ao longo do conflito temos levado adiante um debate sobre a necessidade de uma política de independência de classe, encabeçada pela classe trabalhadora em aliança com o povo pobre e a juventude com seus métodos próprios. Somente isso poderia expressar uma “terceira posição”, sem que a insatisfação popular, expressa principalmente a partir da vanguarda de trabalhadores municipais que estavam em greve, pudesse ser a ponta de lança de uma plataforma que questionasse o regime de conjunto, não ficando a reboque ou sendo canalizada pelo oposição burguesa.

O PSOL, partido que tem um peso importante nos servidores municipais, possui figuras públicas conhecidas na cidade, dirige o DCE da Unicamp e o importante Sindicato dos Quimicos Unificados, vem sendo ala esquerda do regime, ou seja, se perfila no bloco da oposição de direita (PSDB-PSB-DEM), cujo eixo de sua intervenção se centra no Fora Hélio como fim em si mesmo, buscando mais ética, limpeza e honestidade na prefeitura, como se fosse possível limpar essa democracia dos ricos, a democracia burguesa. Como ápice do exemplo de sua derrocada estratégica, no dia da votação da Comissão Processante que abriria a CPI, com mais de 50 militantes dentro da Câmara dos Vereadores, ficaram em silêncio enquanto a oposição burguesa, encabeçada pelo PSDB, enchia a boca para falar de justiça e honestidade, não desmascarando essa corja, afinal, era ela que “levava adiante” a votação do impeachemeant. Ficaram também a reboque da política do Sindicato de Municipais, dirigido pelo PSB e PPS, que após o escândalo centrou a greve nas semanas seguintes no desgaste do prefeito agitando o Fora Hélio, para depois levantar a greve sem nenhum avanço econômico significativo. Chamamos aos militantes do PSOL a romperem com esta política que lava a cara dos partidos burgueses.

O PSTU, se corretamente levantava a necessidade de uma comissão independente de investigação, infelizmente não teve política para, a partir da Conlutas, buscar coordenar os setores em luta e avançar em um programa que de fato respondesse ao conflito, chegando ao eleitoralismo de agitar a “candidatura socialista para 2012”, ajudando a alimentar a ilusão de que com eleições nessa podre democracia dos ricos, sem ações diretas e independentes dos trabalhadores e do povo pobre, se poderá chegar a um governo “socialista” em Campinas, como se os patrões, os políticos burgueses de Campinas, do estado paulista e do país ficariam calados e não se mobilizariam para lançar uma operação de guerra (boicotes, sabotagens, atentados, assassinatos etc.).

Fez falta aqui uma política de articulação e coordenação dos setores combativos do movimento operário para avançar na reorganização da classe e em uma saída independente durante o conflito. Mesmo com as greves dos municipais de Campinas e Paulinia, das ETECs, a luta contra as demissões dos metalúrgicos na Toyota e na Honda(produto da crise japonesa com o tsunami), nem PSOL, PSTU ou o Sindicato dos Metalúrgicos se propuseram a construir plenárias para avançar no debate político sobre como os trabalhadores deveriam intervir na crise política da cidade, assim como coordenar e fortalecer as lutas das distintas categorias. Esses sim seriam passos reais e concretos para coordenar e unificar os setores das duas Intersindicais e da Conlutas para, colaborando para o avanço de consciência da vanguarda dos conflitos. De nossa parte, buscamos desde a greve das ETECs confluir com os atos dos trabalhadores municipais, prestar solidariedade aos metalúrgicos em sua luta e levar para a Unicamp o debate sobre os conflitos operários e a crise de Campinas, propondo uma mesa unitária com representantes dos setores combativos em luta com os ativistas das distintas categorias para avançar no debate estratégico. Infelizmente, a visão do PSOL e do PSTU de não enxergar a importância de travar esse debate com os estudantes da Unicamp e de fazer esse debate entre os ativistas operários fez com que estivessem ausentes, com seus servidores municipais, de um importante debate com cerca de 50 pessoas organizado pela LER-QI em uma mesa com professores das ETECs, Sindicato dos Metalúrgicos e estudantes da ANEL também em luta nas ETECs.

A resposta à crise de Campinas só pode se dar a partir de um programa operário e popular, lutando por um governo dos trabalhadores e do povo pobre, de suas organizações de luta, sem patrões e seus auxiliares (PT e PCdoB), único caminho progressista para atender às necessidades populares de moradia, transporte, escola, saúde e lazer. Os milhões ou bilhões de reais desviados nos esquemas entre as empresas e os governantes e políticos burgueses são recursos que deixam de ser investidos em obras de interesse operário e popular. Por isso, é fundamental uma comissão independente de investigação formada por organizações operárias, populares e estudantis, para de fato apurar todos os envolvidos até o final. Para resolver os problemas mais sentidos pelo povo, devemos lutar pelo confisco dos bens de todos os envolvidos no esquema de corrupção (empresas, empresários, lobistas e políticos), abertura de todos contratos e negociações entre as empresas, a Sanasa, a prefeitura, o governo estadual tucano e o governo federal, para que toda a população conheça todo o esquema “público-privado”, pois não é uma mera coincidência que as empresas e os empresários envolvidos nessa negociata de Campinas sejam relacionados com as grandes empreiteiras que ganham as licitações, os contratos e as privatizações dos tucanos e dos petistas. Exigir a prisão de todos os envolvidos, já que o “costume” nessa democracia dos ricos é fazer alarde mas no final deixar livres e impunes os políticos e empresários que saqueiam a administração pública. A SANASA, empresa pública mais afetada, só poderá de fato atender as tão urgentes necessidades de água e saneamento da população se estiver sendo gerida sob controle dos trabalhadores junto a um conselho de usuários, única forma de livrá-la das garras dessa camarilha de políticos. Somente a articulação da classe operária junto ao povo pobre e a juventude poderá impor um governo operário e popular, única saída para essa crise.

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