Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

ELEIÇÕES ESTADOS UNIDOS

A candidatura negra de Barack Obama

22 Mar 2008 | “Negros senhores na América a serviço do capital não são meus irmãos” - Solano Trindade   |   comentários

Nas prévias eleitorais dos Estados Unidos, em que o Partido Republicano já tem seu candidato definido ’ John McCain ’, do lado dos democratas, a disputa entre Hillary Clinton e Barack Obama trouxe à tona o debate sobre a questão racial novamente, mas desta vez por um motivo inédito. A candidatura de Obama, que conseguiu dar um giro na disputa, conquistando doze vitórias consecutivas nas prévias mais recentes, surpreendeu a maioria da opinião pública com a possibilidade de que a maior potência mundial imperialista tenha um presidente negro.

O “fenómeno Obama” expressa o descontentamento de setores amplos da população com relação à política de Bush e os republicanos. No entanto, é necessário ir além do símbolo que pode expressar Obama por ser um candidato negro e analisar qual o significado da política defendida por ele para os negros, os imigrantes, os trabalhadores dos Estados Unidos e para os povos oprimidos pelo imperialismo em todo o mundo.

Nesse sentido, vejamos as posições de Obama com relação à guerra no Iraque. É verdade que Hillary e Obama prometem uma retirada gradual das tropas, até porque a política dos neoconservadores tem demonstrado a crise dos Estados Unidos para impor sua hegemonia, além dos altos custos para manutenção das tropas por tanto tempo. No entanto, ambos têm votado nesses últimos anos a favor das leis que financiam a guerra imperialista dos Estados Unidos contra o Iraque. Além disso, Obama declarou que se for presidente e tiver informações de que há terroristas no Paquistão, não terá dúvidas em bombardear esse país.

Com relação à opressão imperialista à América Latina, também não é possível encontrar diferenças fundamentais entre Obama e os demais candidatos. Mais uma vez podemos encontrar a resposta nas posições que tem defendido Obama ao longo dos últimos anos, em que tem apoiado as políticas neoliberais, que significa para os trabalhadores o aumento da exploração. Recentemente, vimos a ofensiva do governo pró-imperialista colombiano, matando cerca de vinte membros das FARC no território do Equador. Esperanças de que essa situação mude com o governo de Obama também não pode passar de ilusão, já ele apóia o Plano Colómbia, criado pelos Estados Unidos em 2000, para combater as FARC.

Na última semana, o debate sobre a questão racial tomou maiores proporções na campanha eleitoral de Obama. Não porque ele tenha decidido dar maior destaque às demandas do povo negro de seu país, já que não apresenta um programa que de fato responda à realidade que enfrentam os negros, agora ’ nas últimas décadas ’ sob um racismo não oficial.

Foi a divulgação de polêmicas declarações do pastor Jeremiah A. Wrigth Jr., com quem Obama tem como referencial religioso há muitos anos, que obrigou este a pronunciar-se sobre a questão racial. Antes disso, no entanto, Obama tratou de demitir o assessor responsável pela divulgação do vídeo com as declarações do pastor. Wright, ainda que com uma política reformista, escancarou o racismo que se mantém nos Estados Unidos e descreveu o governo como corrupto e assassino. Tentando apaziguar as polêmicas que se abriram e se desvincular das declarações do pastor, Obama disse que está na hora de os EUA deixarem para trás as “suas velhas feridas raciais” . Velhas feridas?

Obama diz que o pastor Wright reflete a raiva gerada pelo passado segregacionista dos EUA e como fórmula para a questão racial, propõe uma “união” , que acabe com a raiva dos brancos e dos negros. O racismo a que estão submetidos os negros não está baseado simplesmente em valores como a “raiva” , mas sim em interesses políticos e económicos da burguesia branca imperialista. Afinal, o que significou a morte de tantos negros na ocasião do Katrina, quando não só o atendimento de socorro demorou dias a chegar, como depois foi enviada a Guarda Nacional armada, ameaçando os moradores que ainda permaneciam no local. Depois disso, o que se viu em New Orleans foi a especulação imobiliária de empresários que se viram vitoriosos com o branqueamento que puderam empreender na cidade. Para isso e toda realidade racista em que vivem os negros, Obama não apresenta nenhum programa e prefere falar de “velhas feridas” .

No Brasil, são diversos os setores do movimento negro que saem a comemorar a candidatura negra de Obama, desconsiderando que, por sua política e seus compromissos com o Partido Democrata, não responderá aos problemas do povo negro. Sua campanha é financiada por grandes corporações capitalistas, as mesmas que exploram brutalmente os trabalhadores, em especial os negros e os imigrantes.

A luta pela libertação do povo negro nos EUA passa necessariamente pela unidade com a luta dos povos oprimidos pelo imperialismo. Por isso, os negros desse país precisam, sim, colocar-se na luta política, mas para lutar contra a burguesia branca imperialista, e não para fazer parte dos seus planos de exploração e genocídio no mundo todo.

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