Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

À beira das eleições, os EUA seguem entre o pântano no Iraque e uma possível crise interna

10 Oct 2004   |   comentários

A disputa eleitoral norte-americana chega a sua reta final, em meio a imensas contradições colocadas internacionalmente e internamente para o principal imperialismo mundial. A ofensividade da resistência iraquiana, que tem o triângulo sunita com a cidade de Bagdá como eixo, jogaram por terra o intento de Bush de mostrar a guerra do Iraque como um sucesso, tentativa que contou com uma visita aos EUA do presidente interino e fantoche do imperialismo no Iraque, Allawi. O lamaçal dos EUA no Iraque foi o assunto mais presente dos debates entre Bush e o candidato democrata, John Kerry, provando que a política internacional é o grande eixo central.

Nestes debates, o que fez notar mais claramente foi uma mudança de tática dos democratas, que no período anterior evitaram a todo custo colocar a guerra do Iraque no centro do seu discurso, pois como bons imperialistas que são, votaram a favor de sua realização, atuando lado a lado com os falcões de Washington.

As crescentes contradições que têm tido o exército de ocupação no Iraque, que traz como conseqüência o ressurgir do sentimento antiguerra em setores da população norte-americana, fortalecido pela publicação de um relatório que desmentiu a existência de armas de destruição em massa, principal justificativa utilizada por Bush e seus aliados para invadir o Iraque obrigaram Kerry e os democratas a se utilizarem de um demagógico discurso "crítico" sobre a realização da guerra, na tentativa de reverter sua até então frágil localização na disputa eleitoral.

O resultado dos debates foi uma aproximação das intenções de votos entre os dois candidatos. As recentes pesquisas têm oscilado entre um empate técnico, ou uma pequena vantagem para Bush. O democrata também passou a ser apoiado publicamente por 26 principais jornais burgueses dos EUA, como o "New York Times" e o "Herald Tribune", o que pode indicar o temor que setores da burguesia têm de que uma reeleição de Bush aprofunde as contradições políticas e económicas do país.

O último debate, dedicado a tratar dos assuntos internos, mostrou a impotência da burguesia norte-americana, tanto democrata quanto republicana, de dar uma saída sustentável às questões económicas mais candentes, como imenso déficit público, que atingiu índices recordes e deve chegar a US$ 415 bilhões neste ano, o que trará como conseqüência o aumento dos ataques à classe trabalhadora do país, que já conta com 39 milhões dos trabalhadores empregados vivendo na pobreza. Além disso, a situação tende a se agravar com o aumento do desemprego, fruto da tendência de queda da economia prevista para o período após as eleições.

O "multilateralismo" de Kerry se baseia em ataques aos povos das semicolónias

Kerry demonstrou que o "multilateralismo" democrata está baseado em mais mortes e guerras sobre os povos das semicolónias. No segundo debate, Kerry afirma que "a guerra do Iraque não era necessária, pois as sanções económicas impostas ao Iraque e o programa Petróleo por Comida funcionavam muito bem". Essas sanções foram as responsáveis pela morte de milhares de iraquianos pela fome, enquanto o programa Petróleo por Comida permitia aos imperialismos reunidos na ONU extrair o petróleo do país em troca de miseráveis cestas básicas.

Se for eleito, pode-se abrir um período conjuntural de relativa estabilização para os EUA internacionalmente. Mas da mesma forma que Bush, Kerry também terá de se enfrentar com a resistência iraquiana, e será obrigado a buscar maior legitimidade internacional para poder reprimir as massas daquele país. Isso se dá em um contexto em que França e Alemanha, que lideraram a oposição à guerra do Iraque, se negam a intervir enquanto OTAN no Iraque e no Afeganistão, elemento demonstrativo de que apesar de as tensões entre o bloco franco-alemão com os EUA não terem dado um salto de qualidade a ponto de se transformarem numa ruptura do equilíbrio capitalista internacional, as disputas interimperialistas tendem a se intensificar.

Um novo mandato de Bush tende a aumentar as contradições dos EUA

Se Bush for reeleito o cenário mais provável é de uma intensificação das contradições para os EUA. A rejeição da população européia a Bush ’ pesquisas indicam que se os povos de 30 países pudessem participar das eleições norte-americanas, Bush só seria reeleito na Polónia ’ pode se transformar em pressão das massas sobre os seus governos e impedir que os imperialismos europeus, tanto os que já constituem a coalizão invasora como os que não, intervenham com mais força no Iraque no período de pré-eleição de 2005.

Internamente, a política económica de proteger a burguesia exonerando-as de impostos para cobrá-los da classe média e do proletariado, assim como o corte nos gastos públicos com saúde e seguridade social para arcar os gastos com a guerra, tendem a aumentar a insatisfação da parcela mais atacada dos norte-americanos e dos que já se colocam contra a política dos republicanos.

Atos contra a guerra podem ser o embrião de uma nova vanguarda nos EUA

Desde que se abriu a corrida eleitoral nos EUA houve algumas manifestações de fundamental importância, que marcam o ressurgir de um movimento antiguerra e anti-Bush, contando com a atuação de trabalhadores, o qual se constitui como independente de Kerry, inclusive denunciando que este não é qualitativamente diferente de Bush. Nele estão setores dos trabalhadores de transporte e portuários, além de alguns sindicatos menores e coalizões como os “Trabalhadores de Nova York Contra a Guerra” . A maioria dos sindicatos é controlados pela burocracia da CIO, que é democrata e impede que os trabalhadores façam greves. Ainda assim, esse movimento mostra que grupos importantes de trabalhadores estão desiludidos, e separados de seus líderes políticos e sindicais tradicionais.

Ainda que mantenham o caráter pacifista e não chamem a romper definitivamente com os democratas, a entrada em cena de trabalhadores, que no dia 17 de outubro organizaram uma nova marcha em Washington, pode ser o embrião do surgimento de uma nova vanguarda nos EUA, que aliada aos trabalhadores e jovens do mundo que se colocam contra a guerra podem dar uma saída à crise aberta internacionalmente.

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo