Terça 16 de Abril de 2024

São Paulo

Aumenta a falta de água

A água que devia nos abastecer virou um grande negócio privado

15 Oct 2014   |   comentários

Acabadas as eleições, se amplia a falta de água para os paulistanos. Alckmin segue culpando São Pedro, mas a verdade é outra.

O Brasil é um dos países mais bem servidos de água do mundo. Um verdadeiro paraíso hídrico, a começar pelos grandes rios da Amazônia e terminando no mais colossal depósito subterrâneo de água do planeta, o aquífero Guarani. Pois bem: a maior cidade do Brasil está há meses sob forte racionamento de água. A família trabalhadora paulista está amargando sede e privações de água para suas necessidades básicas.

O governo estadual, tucano, precisa invariavelmente jogar a culpa desta privação de água em São Pedro, portanto, na natureza: na sua versão interessada seria esta que nos teria surpreendido com tamanha estiagem.

Alckmin esconde que não sabia e coloca a culpa em São Pedro

A verdade é que a própria Sabesp nada fez para evitar o pior, embora já sabia, há dois anos, que a estiagem de 2014 estava a caminho. Tanto assim que essa empresa despachou um relatório em 2012 para os investidores internacionais, para a Bolsa de Nova York, avisando do provável prejuízo para eles desta seca já então anunciada. Tudo isso está documentado em denúncia recente do Ministério Público em São Paulo.

Resumo: os capitalistas não podem ter prejuízo, foram avisados a tempo; mas o racionamento e as privações, estes foram descarregados sobre a vida cotidiana, já difícil, dos trabalhadores. Estes sempre pagam a conta das crises engendradas pelo capitalismo. O resto é aquela hipocrisia lacrimosa de “se deus quiser vai chover semana que vem” e de oferecer um bônus para cada paulistano que racionar um litro de água. Para o pobre, no caso, já que no bairro do Alckmin, por exemplo, não falta água. O resto é jogo de cena para embelezar a situação, esconder o quanto puderem sua gravidade.

Água para os lucros capitalistas e seca para a população

A verdade é que tanto o governo de São Paulo quanto o Estado brasileiro tratam a água como uma mercadoria e favorecem o grande negócio hídrico. A receita e os lucros dos investidores internacionais da Sabesp vem, em 70%, do sistema Cantareira. Claro que eles não iriam investir bilhões para replanejar esse sistema e favorecer o povo trabalhador.

Isso seria custo, quando na verdade seu objetivo é o lucro e certamente o Estado está nas mãos desses lobbies e dos seus parlamentares de aluguel. Tanto que desde a burocracia da Sabesp até as agências federais (ANA, DAEE), todos foram coniventes com uma grave situação anunciada há dois anos sem tomar qualquer iniciativa em termos de planejamento preventivo.

Aqui tanto faz tucano tipo o incompetente Alkmin, Aécio com seu “choque de gestão” capitalista em Minas ou petistas tipo Lula/Dilma com seu mensalão-Petrobrás. São governos que acobertam o hidronegócio e saqueiam o Estado.

A Sabesp é uma empresa “estatal” de capital aberto, na linha das famigeradas Parcerias Público-Privadas (PPPs) do neoliberalismo. Ela entrou na Bolsa de Nova York no ano 2000 e dez anos depois foi premiada como a empresa que mais rapidamente se valorizou. Cortando custos e acumulando capital para seus acionistas. Prova disso é que em três décadas a população de São Paulo cresceu 3 vezes e o sistema de represas é o mesmo.

Os mananciais não foram limpos (esgotos são jorrados neles) e nem ampliados. Esse é o problema de fundo que gerou o atual estresse hídrico. A Sabesp está preocupada com os acionistas, vive no mundo das grandes corporações da mercantilização da água.

Hoje, as grandes corporações imperialistas controlam a água do planeta. Sem terem a visibilidade da Shell no petróleo, seis grandes, “seis irmãs”, controlam 70% da água ´privada´ por aqui e mundo afora. São elas: a Dow Chemicals, a Bechtel, Thames, Suez, Veolia e American Water.

A falta de água é um problema político

Como esquecer que a água se tornou uma mercadoria (commodity) igual a madeira, minerais ou Coca-Cola? A distribuição desigual da água em São Paulo (e também no planeta, onde 20% da população não tem acesso a qualquer água potável) e a absurda imprevidência desses governos não é um “problema de S Pedro”. É um problema político.

Fica claro que os capitalistas não podem e não têm como administrar sequer nossa água. São incapazes, é da sua natureza. Como uma burguesia de um país atrasado, precisa se atrelar às “seis irmãs” (imperialismo), às migalhas, a corrupção, ao lucro. E quanto ao consumidor pobre: que se dane!

Já se sabe que á água é o petróleo do século XXI, em termos de lucro. O New York Times, já em 2006, chamou a atenção para o fato de que água já está sendo mais promissora, como mercadoria, que o petróleo.

As forças do hidronegócio trabalham nessa perspectiva. Cabe a nós, à classe trabalhadora, operar em outra estratégia: lutar pela plena estatização da água, liquidar com seu caráter de commodity e tomá-la em nossas mãos, dos trabalhadores organizados em aliança com os consumidores pobres, e acabar com a distribuição desigual de hoje e também com a atual miséria hídrica, com as cenas de descalabro brutal que assistimos todo dia.

ps: Quem quiser aprofundar sobre o tema do hidronegócio no mundo pode ler o livro lançado há pouco (e resenhado no jornal Estadão de dias atrás) The price of thirst [O preço da sede]- Global water inequality and the coming chaos, de Karen Piper; grande parte do livro está disponível no site www.muse.jhu.edu/books.

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