Terça 23 de Abril de 2024

Internacional

A União Européia contra o “terrorismo islâmico”: um novo cárcere dos povos

17 Jan 2015 | Os noticiários mundiais amanheceram nesta última sexta-feira repletos de “operações contra o jihadismo” em diversos países da Europa. Segundo France Info, 12 pessoas foram presas em vários pontos da região de Paris, e 13 “suspeitos de cometer atentado iminente” foram encarcerados na Bélgica (com dois “suspeitos” mortos).   |   comentários

Os noticiários mundiais amanheceram nesta última sexta-feira repletos de “operações contra o jihadismo” em diversos países da Europa. Segundo France Info, 12 pessoas foram presas em vários pontos da região de Paris, e 13 “suspeitos de cometer atentado iminente” foram encarcerados na Bélgica (com dois “suspeitos” mortos).

A Alemanha lançou na madrugada desta sexta-feira uma operação de busca em quatro bairros da periferia de Berlim, terminando com a detenção de dois cidadãos turcos suspeitos de participarem das milícias do Estado Islâmico na Síria. Na cidade automotriz de Wolfsburg, prendeu um homem de origem tunisiana, presumivelmente por ter recebid treinamento militar na Síria em 2014. Os comunicados policiais invariavelmente notificavam a satisfação de terem “desmantelado células terroristas” que possuíam “todo o necessário para cometer atentados nos próximos dias”.

Este endurecimento da Europa “contra o terror” após o atentado reacionário aos periodistas de Charlie Hebdo está marcado pelo recrudescimento dos regulamentos anti-imigrantes e leis xenófobas que já existiam na União Europeia antes dos acontecimentos de janeiro. A Bélgica (considerada o “núcleo” do fundamentalismo islâmico na UE, com maior número de combatentes jihadistas em função da população) aprovou nesta sexta-feira um ambicioso pacote “antiterrorista” que permite retirar o documento de identidade das pessoas que viajarem para países em conflitos “jihadistas” (ou seja, praticamente qualquer país do Oriente Médio), uma medida reacionária que já é aplicada pela Alemanha, França e Holanda. Vários países muçulmanos se manifestaram contra as medidas restritivas e o contínuo abuso dos direitos muçulmanos na Europa.

Hollande já conseguira militarizar a França com um efetivo de soldados maior que o empregado em missões estrangeiras, com 10.500 soldados patrulhando as periferias das capitais, e incrementa a perseguição inclusive nas escolas, em centenas das quais os alunos se recusaram a homenagear os periodistas, lançando projeto de instrução “moral e cívica” obrigatória. A Bélgica, centro das preocupações da União Européia, solicitou ao Exército que efetua “missões específicas de vigilância” junto à polícia em locais “onde podem produzir-se atentados”. A Alemanha incrementou o policiamento nas estações de trem de Berlim e Dresden. Ser um imigrante, com ou sem documentação, ou um refugiado na Europa, significa hoje sofrer um verdadeiro assédio militar, num momento em que o número de refugiados imigrantes é o maior desde a Segunda Guerra Mundial.

Ainda este mês as potências europeias se reuniram na Letônia para modificar a regulamentação do espaço Schengen, que permite livre trânsito de pessoas pela União Européia, uma das joias do projeto europeu (definido agora por Marine Le Pen como o “paraíso dos jihadistas”).

Todos os governos “campeões da liberdade e da democracia” na União Européia se desfizeram em medidas antidemocráticas após a marcha de Paris: o primeiro ministro britânico David Cameron discute uma lei “antiterrorista” para controlar os meios de comunicação e o controle de passageiros; no regime espanhol a islamofobia se mistura com a perseguição da esquerda do País Basco e o reforço da “Lei Mordaça” contra a juventude; a chanceler alemã chamou a uma maior cooperação entre os estados para “terminar com o financiamento do terrorismo” e incrementa a perseguição aos imigrantes turcos e muçulmanos, apoiada pelo movimento neonazista Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente), que defende a expulsão do conjunto dos imigrantes e refugiados da Alemanha; o Ministro do Interior francês, Manuel Valls, ecoando “sem precipitações” os gritos xenófobos da líder do Front National, Marine Le Pen (“O povo francês deve recuperar o controle de suas fronteiras!”) exigiu medidas para “registrar” o controle de passageiros aéreos “suspeitos de jihadismo”.

O racismo reacionário da “unidade europeia” provoca os primeiros assassinatos

Este discurso já produziu seus efeitos: além dos mais de 50 ataques às mesquitas de Paris desde o atentado, a perseguição aos imigrantes muçulmanos já atinge proporções trágicas, com a do jovem Khaled Ibris Bahrey, negro originário da Eritréia, encontrado morto na segunda-feira em seu prédio, com 20 punhaladas no corpo, na cidade de Dresden na Alemanha (o centro do movimento de extrema direita xenófobo Pegida – Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente, que reuniu na segunda-feira, mesmo dia do assassinato de Khaled, 25.000 pessoas).

Vê-se desde já que este giro reacionário europeu está criando uma situação de maior perseguição a negros, pessoas de sobrenome com origem árabe, e ondas de ataques racistas nos bairros da periferia nos quais vive a população imigrante árabe-muçulmana. Atingirá os setores mais explorados e oprimidos da população trabalhadora (60% da população carcerária da França é muçulmana, e em cidades como Paris, Lyon, Marselha a proporção é ainda maior), e não tem nada a ver com a “defesa da liberdade”, e sim o desmoronamento do projeto europeu em uma espécie de “cárcere dos povos”.

Para os trabalhadores, a juventude e todos os setores explorados e oprimidos da Europa, as lutas serão mais duras daqui pra frente. Por isso, fortalecer a unidade entre os trabalhadores e a juventude, assim como combater sem trégua a xenofobia, a islamofobia, o antissemitismo e a ingerência imperialista em qualquer parte do mundo são algumas das tarefas mais importantes que a extrema esquerda tem diante de si.

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