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A Mulher e a Revolução na Semana de História da PUC-SP

09 Nov 2007 | No dia 18/10, com a presença de 200 pessoas, o Centro Acadêmico de Ciências Sociais da PUC-SP, Gestão Primavera de Praga, impulsionou o debate "A Mulher e a Revolução" como parte das discussões da Semana de História. A mesa foi composta por Andrea D’Atri, dirigente do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina e do coletivo de mulheres Pan y Rosas (Pão e Rosas); e Sueli Amaral, professora da Faculdade de Serviço Social da PUC-SP. Sintetizamos a seguir aqui alguns aspectos centrais da intervenção de Andrea D’Atri.   |   comentários

  • Audio: A Mulher e a Revolução na Semana da História da PUC-SP - http://palavraoperaria.kinghost.net/audios/semanahistoriapuc/mulher.WAV



A Revolução Russa e as conquistas das mulheres

Com o triunfo da revolução em outubro as mudanças foram enormes. As mulheres soviéticas obtiveram o direito ao divórcio, ao aborto, à eliminação dos deveres conjugais e a igualdade entre o matrimónio legal e o concubinato. No entanto, como dizia Lênin: "Onde não há latifundiários, nem capitalistas e nem comerciantes, o poder dos soviets constrói uma nova vida sem esses exploradores, conquista a igualdade entre o homem e a mulher perante a lei. Mas isto ainda não é suficiente. A igualdade perante a lei ainda não é a igualdade frente à vida. Nós esperamos que a operária conquiste não só a igualdade perante a lei, mas também frente à vida, frente ao operário (...). O proletariado não poderá chegar a se emancipar completamente sem ter conquistado a liberdade completa para as mulheres".

A contra-revolução imposta pelo regime de Stalin que arrebatou o poder da classe trabalhadora na União Soviética outorgou medalhas pela Glória Maternal às mulheres que tivessem mais de dez filhos, perseguiu e tratou como delinqüente as mulheres que, vivendo na miséria, foram condenadas à prostituição, proibiu o aborto, enalteceu a imagem do Grande Pai Stalin e da mãe russa heróica e sacrificada pelo progresso patriótico, permitiu que as esposas dos funcionários pudessem andar de carro com chofer aos supermercados enquanto as trabalhadoras tinham que fazer filas intermináveis, devido à escassez e ao racionamento. Tudo isto era feito em nome do socialismo, dizendo que com a conquista do poder do Estado, já estava consumado 90% do socialismo e que, portanto, as mulheres não precisavam mais lutar. No entanto, isso não era o socialismo. A visão dos bolcheviques era completamente diferente do que depois permeou no stalinismo.

Trotsky combateu esta idéia stalinista, advertindo sobre dezenas de problemas económicos, políticos, sociais e culturais que não podiam resolver-se mecanicamente e que incluíam, entre outros, as relações entre homens e mulheres. “A conquista do poder pelo proletariado não significa a coroação da revolução, mas simplesmente sua iniciação” , “o problema mais fácil foi tomar o poder” , a transformação da vida doméstica se prolonga, assume formas mórbidas e dolorosas, complexas e nem sempre perceptíveis à observação superficial.

A atual condição das mulheres no capitalismo

Em todo o mundo, meio milhão de mulheres morre a cada ano por complicações durante a gravidez e na hora do parto e 500 mulheres morrem a cada dia por abortos clandestinos. Dos 960 milhões de analfabetos que existem no mundo, 70% são mulheres. Atualmente, existem 82 milhões de mulheres desempregadas em todo o planeta. Além disso, a produção doméstica não remunerada que representa até 60% do consumo privado, recai quase absolutamente sobre as mulheres e as meninas. Por outro lado, as mulheres que trabalham o fazem em situação cada vez mais precarizada: não somente recebem um salário entre 30 e 40% menor que o dos homens pelo mesmo trabalho, assim como em sua maioria, não tem assistência médica e direitos de aposentadoria.

A opressão das mulheres se origina muito antes do capitalismo. Mas sem dúvida, o atual modo de produção reproduz e legitima a opressão patriarcal em sua perpetuação e para benefício das classes dominantes. Vivemos num mundo em que a cada cinco segundos morre de fome um menino ou uma menina menor de dez anos. E isso ocorre num planeta que poderia alimentar sem problemas a 12 bilhões de seres humanos, ou seja, o dobro da humanidade. Porém mais da metade do PIB mundial é controlado por somente 500 empresas! Então, não se pode dizer que “as crianças morrem de fome” , é preciso dizer que são assassinadas pelo capitalismo.

Fim da opressão: Lutar contra a exploração capitalista

Mesmo frente a condições de barbárie, a maioria das feministas e dos setores que se dizem de esquerda hoje, após as aberrações do stalinismo, ao invés de travar uma luta contra as políticas originadas no processo de burocratização do Estado Operário e em defesa dos avanços que esta revolução proporcionou, adaptaram-se à democracia burguesa passando a defendê-la com reformas.

Atualmente, assistimos a um debate interessante na Venezuela em torno da suposta construção do “socialismo do século XXI” , no qual as feministas também discutem e debatem acerca do que isto significa para as mulheres. Um debate cujo próprio presidente que se propõe a construir o socialismo do século XXI recomenda passar, por um período extenso, por uma etapa de reformas na democracia capitalista.

Não se pode entender que tipo de socialismo é este, que mantém o poder dos capitalistas, que cobra altos impostos dos pobres e mantém salários miseráveis, que paga a dívida externa e outorga concessões às transnacionais enquanto ainda não se resolve o problema do emprego, da moradia, da educação e da saúde. Na Venezuela, cerca de 5 mulheres são assassinadas semanalmente; 23% das mulheres economicamente ativas leva mais de 2 anos procurando emprego; cerca de 15 milhões de pessoas não têm moradia ou vivem em casas precárias e inseguras; 64% das mulheres trabalhadoras recebem por mês um montante inferior a 200 dólares, quando um único barril de petróleo supera os 60 dólares.

Outro exemplo vergonhoso é a Heloisa Helena do PSOL, que além de votar ataques aos trabalhadores como o Super Simples faz campanha aberta contra o aborto junto a setores ultra-conservadores que, em “nome da vida” , ignoram as milhares de mulheres que morrem todos os dias pela ilegalidade deste direito.

As mulheres e homens explorados do mundo têm que lutar pela unidade e independência da classe trabalhadora, para que esta inclua em seu programa de reivindicações as demandas do povo pobre e dos setores oprimidos pelo capital, contra o racismo, contra a depredação irracional da natureza, contra o patriarcado. É necessário lutar para colocar de pé um partido próprio da classe trabalhadora, para que as próximas revoluções que a classe operária fará não terminem derrotadas, nem traídas.

As lições da revolução de outubro de 1917, mas também da luta de classes dos últimos 90 anos, nos colocam infinitas experiências das quais temos que extrair hoje as lições para preparar um porvir sem a escravidão do trabalho e de todas as amarras da opressão. Para preparar o futuro temos que começar de hoje. Não duvidamos de que as mulheres estarão na primeira fileira das próximas batalhas, novamente, porque como dizia León Trotsky: “aqueles que lutam com mais energia e persistência pelo novo são os que mais sofreram com o velho” .

Leia a intervenção de Andrea D’atri na íntegra

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